sábado, 1 de janeiro de 2022

where honesty gets us

it got me back then
13 years ago
when sorrow consumed me just like it's doing right now
as if things couldn't change, indeed

i've been trying so hard to make myself look up
- at least a little bit - 
mas sinto, em dias da alma como hoje,
que sou a criança triste em quem a vida bateu,
que há só um presente imóvel com um muro de angústia em torno
.

não é que eu não tenha mudado nada nessa última década e um pouquinho,
mas aquelas respostas e certezas que eu tanto almejava,
elas não vieram
- ou vieram, mas não da forma como eu esperava.

não sei se elas vêm, mesmo. talvez nunca.
talvez minha vida seja só mesmo essa longa espera por um ideal falido.

"O que há em mim é sobretudo cansaço."


Um comentário:

  1. ADIAMENTO

    Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...

    Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,

    E assim será possível; mas hoje não...

    Não, hoje nada; hoje não posso.

    A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,

    O sono da minha vida real, intercalado,

    O cansaço antecipado e infinito,

    Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico...

    Esta espécie de alma...

    Só depois de amanhã...

    Hoje quero preparar-me,

    Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...

    Ele é que é decisivo.

    Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...

    Amanhã é o dia dos planos.

    Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;

    Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...

    Tenho vontade de chorar,

    Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

    Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.

    Só depois de amanhã...

    Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.

    Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...

    Depois de amanhã serei outro,

    A minha vida triunfar-se-á,

    Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático

    Serão convocadas por um edital...

    Mas por um edital de amanhã...

    Hoje quero dormir, redigirei amanhã...

    Por hoje qual é o espectáculo que me repetiria a infância?

    Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,

    Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo...

    Antes, não...

    Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.

    Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.

    Só depois de amanhã...

    Tenho sono como o frio de um cão vadio.

    Tenho muito sono.

    Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...

    Sim, talvez só depois de amanhã...

    O porvir...

    Sim, o porvir...

    14-4-1928
    Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). - 266.

    [http://arquivopessoa.net/textos/2328]

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