quinta-feira, 25 de maio de 2023

"I do believe in fairies!"

- Eu odeio literatura.
- Sempre que você fala isso, uma fadinha da literatura morre.
- Isso não é verdade.
- É verdade! Eu não morro porque eu sou uma fadona da literatura. Mas as fadinhas morrem, sim.

sábado, 20 de maio de 2023

Lacradoras do mundo, uni-vos!

para minhas amigas de luta e lida

        "Você não está fechando o diálogo com esse lacre", diz a analista. De fato. A acusação de "lacração" vem de muitas partes: todas elas se incomodam com a nossa vontade de problematizar verdades postas, ou mesmo fomentar espírito crítico e senso de auto-aprimoramento. No geral, as pessoas querem de nós aquiescência, em especial das vozes dissonantes que, f(emin)inas, deveriam ser brandas e gentis, e não bagunçar o coro dos contentes... Mas o aparente contentamento de uns é o evidente descontentamento de outras, haja vista essa nossa sociedade, em que a hierarquia e a exploração formam o cerne mais rígido de nossa organização como corpo coletivo.
        A acusação chateia principalmente quando vem daqueles que temos perto dos nossos afetos mais caros, porque nos faz duvidar de nós mesmas a partir de um referencial tão sensível... Como se já não viéssemos lutando tanto, e não só por nós mesmas, mas por nós todos! Desde muito antes de nos fazermos ser ouvidas, travamos essa batalha interna para acreditar e credibilizar nossas impressões sobre o mundo que nos rodeia. Estar na posição subalterna é um peso a mais para fazer a travessia da incerteza imobilizadora para a certeza dinâmica. Num mundo em que convicções são cooptadas como mercadoria, e as identidades atomizadas tentam se impor com violência (que é a linguagem predominante, própria dos dominantes, e também resposta legítima, mas não ideal, dos dominados), caminhar com passo firme rumo ao novo é um desafio histórico, em diversas acepções desse adjetivo.
        O lacre não deveria ser um fecho, mas acaba se tornando: como um desejo de "basta", mas sem a abertura radical e amorosa própria do pensamento crítico. Ao contrário do que talvez se conceba, pensar é ato que se ensina, sim, e é um ensino-aprendizagem tão delicado quanto transformador para ambas as partes. Mas quem tem coragem de ensinar abdicando de uma posição hierárquica de poder? Há muito, ainda, que caminharmos - juntas, sim, mas sozinhas, também, num processo árduo de desconstrução da nossa fome de poder, porque estamos famintas por tanto não-poder...
        Lacradoras do mundo todo, uni-vos! Para renovarmos nossa capacidade de fazer laços que protejam nossos corações em seu corajoso desejo de abertura. Para aprendermos o movimento preciso, como um passo de misteriosa dança, de tocar as almas de outros seres, nossos irmãos, sem feri-las em tão ousado gesto. Para descobrirmos que o mundo novo já existe em nós como semente que anseia por sua germinação e desdobramento - em novos, doces, suculentos frutos.

domingo, 14 de maio de 2023

eu te daria um mundo dos sonhos


num delírio de onipotência
próprio dos sonhadores
penso em você
- com cabeça, coração e estômago -
e desejo profundamente
poder te dar um mundo
cheio de bem querer.

nele, os dias podem ser feitos
de tardes iluminadas
com cervejinha, tira-gosto
e músicas para embalar
as alegrias do corpo
e do espírito.

ou, também, de manhãs calmas
em que a família se senta à mesa
sem pesares ou pendências
para compartilhar a graça
do pão nosso de cada dia.

ou, ainda, de noites de sossego com
boas novelas passando na TV
- com enredos que acreditam mais
na capacidade de o ser humano
ser melhor do que tem
demonstrado ser...

nas horas contemplativas,
rolos e novelos de lãs e linhas
tecidas, ponto a ponto,
no cuidadoso,
atento,
minucioso
trabalho do amor.

ao dormir, a paz de poder descansar
sobre uma consciência tranquila
diante da missão cumprida.

eu te daria um mundo dos sonhos
mas o real é árido e desafiador
- ainda que, veja,
o sonho já exista
um pouco
nas brechas do real...

então te ofereço o que tenho:
minha gratidão, abraços mil, e o convite
de irmos, juntas,
atrás do sonho-real possível.

<3

quarta-feira, 10 de maio de 2023

hey, jude

don't make it worse
than what it already is.
take a single word
and make something with it:
describe in details
your thoughts and feelings.
map them out
- first, to yourself,
then, to the ones you love
and finally to those
that will read it and think
"oh, it suits me so well..." -
and maybe you'll see nothing
but a bunch of useless words
- but "useless" is the best we can have
in a world so addicted to
productivity...