segunda-feira, 13 de abril de 2009

Felicidades clandestinas;


Minha intenção não é arrogante. Só comecei a escrever por gostar de assim fazer meu registro de emoções cotidianas. O último fato poético prosaico que me chamou a atenção tem uma beleza melancólica; é um tanto lúgubre, mas ainda assim belo.
Nas caminhadas que faço pela cidade, pelas ruas já tão bem conhecidas - e sempre tão surpreendentes -, encontrei algo que, a príncipio, me pareceu o símbolo do tormento humano fundamental: a efemeridade da beleza concreta. Não era uma senhora demasiado maquiada, ou um senhor vestido com os trajes de seu filho. O símbolo não era exatamente humano - leve e belo demais para ser humano. Era natural, era natureza - natureza que engloba o que é humano, mas que é infinitamente maior do que a humanidade em si. Era natureza; infelizmente, morta.
Uma borboleta. Cores vibrantes que outrora brilharam no ar. Não vi o seu vôo, não vi suas cores brilhantes; mas vi os últimos resquícios da sua beleza. Ela estava esmagada no chão - mas uma das asas ainda sobrevivia, pulsante, como se quisesse dizer algo. Era uma borboleta incomum, que eu jamais havia visto. Uma borboleta vermelha.
Vermelho, cor de amor, cor de sangue; uma cor que pulsa, verdadeiramente. A borboleta que vi foi o símbolo da beleza caída, da beleza que se esvai... Mas era algo mais. Era também símbolo da beleza que, se manifestada intensamente, sem a obrigação de se exibir, apenas com vontade de ser bela, fica eterna, indelével nas almas sensíveis. A morte não importa para a beleza que é pura, desprovida de intenções levianas. Vê que a borboleta já estava morta - seu ciclo vital havia terminado. Mas sua ideia metafísica, de tão pura que era, sobreviveu a esse ciclo, me encantou e me motivou a escrever; o que não é algo de todo importante, mas é significativo de alguma forma. Pode haver beleza no mais inóspito lugar - mais do que falar sobre a efemeridade da beleza concreta e a eternidade da beleza ideal, a borboleta vermelha caída me ensinou também sobre a esperança. Mesmo pisada no cimento cinzento, esmagada pelos terríveis pés humanos, a borboleta vermelha viveu ainda um pouco mais, em mim - com sua cor de sangue, de vida. De amor.