quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Inefável;


Deitada à rede dos meus mágicos cansaços, fico pensando, remoendo, esmiuçando aquelas palavras deliciosas que hoje você me disse. A música, ligada ao meu pé, dançando em meus ouvidos, faz com que meus sentidos adormeçam, e as sensações se potencializem; chego a um estado tal de imersão na inconsciência que já não sei o que é real, o que é devaneio. Guiada apenas pela dourada corrente das lembranças, vou mais fundo, sempre, para chegar ao coração do significado no nosso querido diálogo. As sombras difusas ao meu redor não me tentam - estou firme e feliz, navegando na magnífica embarcação que suas palavras construíram no mar dos meus delírios pueris.

O mar não é revolto nem calmo - tem um tipo de vida muito peculiar, muito intenso e colorido, que fica ainda mais diverso a cada sentença com que sou, por você, presenteada. Minha imaginação cria asas vigorosas, brilhantes e coloridas, a cada sorriso que os meus lábios esboçam em reação às suas palavras. De repente, borboletas e flores começam a cair, levemente, das brancas nuvens... São pedaços da felicidade que, aos poucos, se depositam sobre mim, dando-me cores e perfumes que elevam minha alma a um estado de total repouso, uma sensação da mais leve flutuação - como se a matéria desaparecesse. Como se tudo fosse vento, brisa e bruma, como se as formas fossem abstratas, sublimes, e não mais pertencessem ao feio plano das coisas concretas.

A embarcação... Poesia feita de segurança, de cuidado. Os delírios doentios estão me rodeando, como tubarões famintos de tristeza - mas tenho a proteção dos seus nobres sentimentos, de toda a verdade com que você me inspira a abandonar os vícios.

Mas meu guia, a corrente da sua poesia, faz voltas e mais voltas, e me deixa um tanto quanto confusa, apesar de eu me sentir firme. Quero respirar a essência dos seus sentimentos, e para isso preciso arriscar-me em um caminho que não é apenas de meu auto-conhecimento, mas da contemplação do que você verdadeiramente é: uma incógnita, um labirinto, tão doce e tão complexo...

Não me julgue pelo imensurável carinho que tenho por você, meu raro tesouro. Brinco com a curiosidade que você me desperta, e quero realmente desvendar alguns desses véus de mistério com os quais você se guarda, mas não há mais grata sensação do que a felicidade que a sua existência faz vibrar em mim. Palavras doces e amenas nos hão de nutrir as esperanças de que os laços que nos unem sejam eternos.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O céu e o mar;


Pergunta-me: como você gosta de mim?
Como assim? De que maneira?
E eu... Eu sou uma tola sonhadora.
Eu gosto de você... Talvez assim:

Gosto de você como o mar gosta do céu.
No horizonte, nossas cores se confundem,
Vivemos em plena e constante convivência,
Vivemos entrelaçados pela poesia d'outras eras.

Pela contemplação externa, às vezes somos um:
Muitos nos enxergam assim, sempre tão unidos,
Tão indistintos, tão inexoravelmente inseparáveis...
Eternos amantes, misteriosamente completos.

E eu gosto de você assim - é assim que,
Infelizmente, apenas aparentamos ser.
Deixe-me explicar, com toda a dor do mar,
A maneira como nós realmente somos.

Você é o céu. Infinita abstração azul.
Uma idéia magnífica e confusa,
Que escapa ao meu pequeno entendimento.
Você é o céu, tão distante, tão eterno...

E eu sou o mar. Volúvel, concreto,
Inquieto, inconstante, desajeitado
Em toda a minha aparente proporção.
Eu sou o mar, tão físico, tão efêmero...

Na verdade, o mar sempre vê o céu
Na admiração de quem olha para cima
E vê um deus. Enamora-se de algo
Que é simplesmente intocável, surreal.

O céu vê o mar com caridosa dolência
De quem compreende o fascínio que
A imensidade sagrada exerce
Sobre aquelas inconstantes águas.

O mar reflete em sua mineral transparência
A sublime cor que o céu emana. Com isso
Manifesta seu profundo desejo de integrar-se
Àquela idéia que tanto ama e admira.

O céu apenas vê, e se deixa sorrir
Pela ingenuidade daquela criança
Que não reconhece a real dimensão
E a real importância de si e do universo.

Veja como são distintos o céu e o mar!
Por mais que em sonhos eles sejam
Os eternos amantes imortalizados
Pela poesia das outras distantes eras,

[Por mais que o mar tenha um pouco do céu,
E o céu, um pouco do mar,]

Na verdade são assim, inegavelmente distintos;
Não só pela sua composição física,
Não só pelas características de suas matérias,
Mas por suas idéias, tão opostas, tão imiscíveis.

O céu é sagrado, é elevado, sublime e abstrato.
Jamais toca a terra, porque ele abrange
Não só a terra, o mar, ou qualquer outro seu amante.
Ele é infinito, complexo, e contém todo o Universo.

O mar... É a síntese da ingenuidade do ser concreto,
Que traz em seu âmago a perdição ou a vida
De outros seres menores que por ele se arriscam,
Mas que, profundamente, sonha com o inimaginável.

Céu e mar não se tocam, não se encontram.
Se vêem e se contemplam, mas estão fadados
À eterna e irrevogável separação; pertencem
A diferentes planos, têm diferentes manifestações.

O mar desconfia da sua condição.
Sabe que é pequeno e profano,
Mas arrisca-se no anseio de seu sonho:
Em pequenos fragmentos, projeta-se ao céu.

O céu, por pena ou caridade,
Recebe os fragmentos dos sonhos
Daquele que tanto o ama; porém,
Quando dele se cansa, ou se aborrece,


Lança a cruel chuva, para que o mar se lembre de que há intransponíveis limites entre o sonho e a realidade, entre o possível e o impossível, e que jamais há de recebê-lo em si, porque suas essências são distintas, e nada poderá fazê-los vibrar da mesma maneira.


A chuva é amena e reconfortante para o céu,
Significa alívio, leveza, solidão...

A chuva é amarga e torturante para o mar,
Significa dor, tristeza, desilusão...

domingo, 14 de dezembro de 2008

O carvalho da ilusão - a Augusto dos Anjos;


Das minhas certezas... Ora! Nunca me foi dado o luxo de ter certezas..
Quanto mais agora. Como me perguntas de objetividades,
Se minh'alma sucumbe pelas transações sentimentais
A que meu ressequido coração anda inadequadamente submetido?

Pego um fósforo, mas não acendo um cigarro. Antes quis
Abandonar o fogo a meu redor, e assistir as flamas purificantes
Consumindo ardentemente a vil matéria. Nunca mais haverá
Bocas que beijam ou escarram, ou mãos que afagam ou apedrejam.

Consumam-se, vícios do corpo, doenças do mundo!
Consuma-se, matéria perdida, que nos conduz ao abismo
Da crueldade, da infâmia, da ignorância e da descrença!
Leve-me contigo, fogo sagrado... Minh'alma há de estar intacta.

De tanto não mais suportar as variações desse mundo concreto,
Pego a raiz dos erros humanos e, com vigorosos golpes,
Deito o imenso carvalho da ilusão ao chão. A terra,
Piedosa mãe, nos há de absorver e reconstruir em nova Harmonia.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

My angel of music..

Sonho com sua voz cantando, sutilmente, as cantigas ancestrais que incitam o vibrar calmo de minha alma. Nesse sonho, mergulho em águas profundas e pacíficas, e me deixo desaparecer, flutuando nas leves correntes que me conduzem aos abismos perdidos. Sua alma, o mais profundo e perdido abismo. É lá o reino mágico onde quero chegar, e nunca mais de lá sair.

Na minha jornada de sonhos, anseios, desejos vãos e tentativas frustradas, encontro com meus medos, os monstros que me assombram cruelmente. A insegurança me segura os pés, e não me permite seguir em frente... Fico no limiar do sonho alcançado, e todos os vícios ainda me prendem ao terrível mundo que quero, desesperadamente, deixar para trás.


Mas sua voz... "Veludo raro a acariciar meus sentidos". Sua música, essência de sua alma, pequena centelha de toda a luz que você contém... Sua voz é uma estrela pequenina, de um brilho azul e puro, revigorantemente belo. O encanto que vem das notas musicais que você profere, tão seguro e tão surreal, é a razão da força que tento retirar do fundo de minha alma adormecida. O bálsamo que me é oferecido aos sentidos permite-me tentar quebrar as correntes, e mergulhar ainda mais fundo, mais fundo. Esquecer a ilusória luz do dia para encontrar a nascente da vida manifestada mais sagrada que pode existir - você. Mergulharei, profunda e incessantemente, até encontrar com o seu verdadeiro ser. Todo o restante pode ficar para trás, pois eu já terei encontrado o motivo para a minha - antes tão vil - existência.







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