domingo, 26 de abril de 2015

Tomorrow

Oh, baby, don't let me down tomorrow,
Holding hands we both abandon sorrow,
Oh, for a chance to get away tomorrow.
Meu pai no exército, primeira noite na enfermaria. Numa brincadeira entre colegas, um acidente - bota, meia e pé perfurados por um sabre. 1971 ou 1972.

É história demais pro meu coração curioso e sedento de raízes.

Ah, se eu fosse registrar essas histórias todas, levaria uma vida para isso. Mas valeria totalmente a pena. O amor pela literatura está em todas essas ressignificâncias das coisas aparentemente banais.

Já sei por onde começar:

Deuses, muito obrigada por eu estar viva e ser quem eu sou, com sensibilidade para perceber os encantos da vida, por ser rodeada desses encantos.


As histórias da minha avó

Poderia ser um livro da Jane Austen,
Poderia ser uma narrativa neo-árcade,

Mas são as histórias que eu escuto de vez em quando - quando eu finalmente consigo estar em casa para uma refeição decente. Tanta coisa se perde nessa correria da nossa mesquinha vida adulta.

Em breve, as narrativas (mais ou menos) completas de:

- Os três namorados, a dona Minervina e as espiadelas pela greta da janela;
- O Zé da Mandioca e as lembranças de Guarani;
- O locutor de rádio que anunciava os nenês que estavam por vir.

As musas da narrativa oral podiam me auxiliar a dar todas as cores e emoções que a minha avó imprime em cada detalhe dessas histórias e de tantas outras. Há memória e devaneio tão perfeitamente relacionados que, enfim, eu entendo a estética e a importância da contação de histórias. Sem técnica, sem encenação, narrativa pura e simples, contada por uma mulher que tanta coisa viu e ouviu, tanto chão pisou, tanto riu e chorou e viveu intensamente (as minhas raízes são tão, tão lindas!).

Quantas pessoas têm o privilégio de se sentarem junto aos seus anciãos e mergulhar nos tempos idos, acontecidos muito antes de seus pais pensarem em vir ao mundo?

Deuses, há tantos privilégios que eu tenho nessa vida que eu sequer sei como devo começar a agradecer.

(E se a gente investiga, as coisas se tornam cada vez mais profundamente belas. Minha vó tem uns vasos de cimento compridos em que, de vez em quando, brotam as flores mais lindas do mundo - elas surgem em um pendão, e desabrocham em cores vibrantes. A última era um violeta profundo e aveludado. Ela presenteia as pessoas com essas flores - minha mãe e meu pai, geralmente. Qual não foi a minha surpresa quando fui pesquisar sobre essas fatídicas flores [que ela chama de palma] e descobri que seu outro nome é gladíolo, pequena espada, com que, acredita-se, os gladiadores vitoriosos eram presenteados. Eu não sei nem dizer o quanto isso é lindo. Eu nem sei dizer o quão lindo é morar com uma senhora que cultiva flores e presenteia as pessoas com elas [homenageando-as pelas suas pequenas grandes vitórias cotidianas]. Há tantos privilégios que eu tenho nessa vida que eu sequer sei como devo começar a agradecer.)

Eu tentei postar uma foto da palma aqui, mas o blogger não quer deixar, então fica aí o link que vai levar às informações que eu encontrei: http://www.jardimdeflores.com.br/floresefolhas/A64gladiolos.htm 




segunda-feira, 20 de abril de 2015

Algumas perguntas (ou o maior dos elogios)

Quão extrema é a experiência de conversar com alguém que te faz ressignificar todas as palavras utilizadas?

Retirar tudo o que há de banal em seu sentido,
Porque o banal não nos cabe - é ridículo, irrisório e, portanto, totalmente dispensável.

Será possível mensurar o abismo aberto pela necessária ausência do banal?
(O quão apavorante é encarar esse abismo?)