domingo, 30 de novembro de 2008

Nostalgia;

O passado e o futuro, duas névoas de cores e perfumes distintos, inebriantes... Confundem os sentidos, e misturam-se como dois amantes, pairando levemente sobre a nossa mente. Tudo o que não podemos alcançar; nem passado, nem futuro. Respiramo-los, e apenas; eles nos escapam do toque concreto. Incitam nossos delírios, mas são cruelmente irreais.

Lembranças e planos. Despertam e entorpecem corpo e alma; envenenam a razão, e a emoção fica livre em seus devaneios, completamente aberta aos golpes da melancolia – nostálgicos sentires. É possível, e tão fácil, ter saudades das lindas lembranças... E o futuro, também não nos provoca saudade?

Sonha-se tanto com determinado objetivo, alguns planos nos são tão antigos que já se entranharam em nossa alma; são partes de nós. Por mais que nunca se houvessem concretizado, viraram lembrança tão tangível que é quase impossível negar que haja uma “nostalgia pelo futuro”. Desejo irremediável, do qual jamais desistiremos. É essa a névoa composta pelas cores e sabores que se confundem. No fim, tudo é um sonho único. Sonhar é o que desfaz todas as vãs tentativas de classificar a passagem do tempo. Sonhar é a única explicação para as asas que criamos, que nos levam além de qualquer racionalidade ligada à matéria.


E depois dos magníficos vôos, pousamos e repousamos. Então vem aquela sensação que dói no peito, que grita na alma, que comprime a mente e enregela as asas. Aquela sensação de impotência perante a névoa que se forma sobre a mente, e que se expande para todo o arredor. É a vontade de conter nas mãos do presente algo fantasmagórico, irreal, que pertence a outra dimensão, a outro padrão de existência. Nostalgia. Saudade dolorida. Nada mais deliciosamente cruel, nada mais contraditoriamente reconfortante.


quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O fim; [?]

Estabelece-se o acordo tácito e irrevogável entre minha emoção e o extremo de minha razão; basta.
Minha consciência já não participa das decisões do submundo de meu inconsciente,
E assim permaneço: à mercê das variações de tudo o que eu não posso decidir,
Caminhando perdida entre os mistérios dos meus pensamentos.

Há palavras e mais palavras que nada dizem,
Verborragia completa para disfarçar o meu desespero.
Vocábulos falhos, instintivos e totalmente arrogantes,
Tentam traduzir, em vão, a essência da tormenta que me assola.

Sinto-me trêmula pelo impulso incontrolável de descrever, sem pausas ou poesia,
Essas percepções que cismam em firmarem-se racionalmente em meus dedos.
Desferindo golpes precisos no teclado, vejo minha loucura concretizada,
E leio, maquinalmente, sensações que me são vagamente familiares.

Pois que tudo se tornou, do que era minha paixão literária,
O fruto da automatização do meu estro;
Perdi todo o meu lirismo para o tentador lado pragmático e seco da vida.
Sim, confesso, perdi toda a sensibilidade. Não há mais nada natural em mim.

Ao meu [inexistente] redentor;

Entre devagar, pise calmamente...
Não há pressa em desvendar o mistério.
Ande devagar, a porta está aberta,
Limpe seus pés, esqueça do que há lá fora.

Vislumbre com cuidado o mundo adormecido
Que se abre, secretamente, à sua frente.
Silêncio... Não deixe que sequer um ruído
Se precipite em despertar o coração ferido...

Entre no mundo maculado, cheio de dor,
Em que se transmutou a minha alma.
Entre com calma, não se aflija,
Aqui o chamei porque tenho um pedido a fazer.

Recolha os movimentos bruscos, pare-os,
Cuide para que tudo seja leve e pacífico...
Por favor, peço-lhe tamanho cuidado,
Pois qualquer outra dor me seria insustentável.

Aqui o chamei, mago querido,
E este é o meu pedido: ajude-me.
Vê este mundo silencioso e triste?
Minh’alma não foi sempre assim,

E não quero, mais, ficar adormecida
Em toda a dolorida frieza de meu exílio...
Quero respirar, quero novamente ver as cores,
Quero redescobrir os sabores antigos...

Mas estou tão fechada, tão perdida!
Abri as portas de meu ser para você
Pois sei da cura que a sua doçura traz.
Mago querido, sei do amor que sua alma encerra...

Pedi que, com suavidade, desvendasse
Os tortuosos caminhos que conduzem
Ao coração de minha dor. Suas mãos,
Imaculadas e nobres, hão de ser meu milagre.

Mago querido, acalme-se, sente-se aqui.
Permaneça em mim, cuide de minhas dores,
Faça com que meus pulsantes ferimentos
Cicatrizem, finalmente se fechem...

Seque as cascatas de minhas lágrimas
Que correm, tão desesperadoramente ininterruptas...
Espalhe por sobre o chão sementes de paz,
E cubra-as, cuidadosamente, com nuvens de algodão.

Aceite meu humilde pedido, importe-se comigo;
Você é minha luz e esperança.
As lembranças do mundo antigo, pleno e feliz,
Estão, para mim, todas em você.

Você foi e ainda é a minha cura,
Minha chance de reerguer os olhos
E contemplar, sem temer, o horizonte...

Convidei-o ao meu mistério, a você fiz uma prece;
Rezei baixinho, silenciosa, comovida,
De braços abertos, esperando minha redenção.



{Seus olhos brilhantes recriam, em mim,
Toda a vontade de sonhar
Com a reconstrução de minha alma dilacerada.
Sempre serei a você, de todas as vis mortais, a mais grata.}

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Leia apenas se tiver plena certeza do que está fazendo; não recomendo esses meus devaneios a ninguém.

Às vezes é só tristeza, mas dessa vez está doendo de verdade. Dessa vez eu tive real vontade de me acabar: em lágrimas, em gritos, em um mau humor intransponível, em um desespero mudo, em um imenso descaso para com as minhas responsabilidades, em uma absoluta indiferença por tudo o que é vivo. Dessa vez eu quis desaparecer por completo, desfazer-me como vapor que se dissolve na atmosfera; não deixar um rastro sequer, uma sombra sequer, qualquer vestígio que lembre aos que respiram a minha infame existência.
Às vezes é depressão, doença que se cura com remédios como qualquer outra. Como essa maldita doença que me tira o ar; asma. Mas eu sempre tive asma, eu nunca respirei. Meu corpo e minha alma nunca respiraram, verdadeiramente. Sufocada, sempre, pela asma do corpo e da alma; completamente sem remédio. Igual a essa minha depressão, a qual a impiedade chamou ‘conveniente’ – eu não tenho remédio algum. Não me deixam querer ter remédios concretos e, imagine, eu estou recusando os remédios imateriais. Pura burrice minha. Pura intransigência, ignorância, mau humor genuíno. Pura vontade de permanecer mal, porque isso parece bonito. Porque, talvez, as pessoas parem de rir da minha cara de idiota boazinha.
No mais, creio querer morrer, ainda. Mas isso vai passar, porque eu sei que estou com os meus instintos descontrolados.
E eu escrevo essas linhas apertadas em letras mínimas, todas tímidas, amedrontadas, porque elas concretizam o meu estado de espírito. Diminuto, pequeno, acuado. Completamente covarde.
Não quero que ninguém entenda minhas elucubrações perdidas. Na verdade, nem sei o porquê de estar escrevendo; não quero que ninguém se infecte com essa maldição que se derramou sobre mim. Mas dói, e guardar a dor está mais do que insustentável.

Noite horrenda, amaldiçoada seja! Foi ela que desencadeou todo o meu processo de martírio, desde a imersão no submundo da personalidade das pessoas até a afronta que fiz aos que me amam. Uma coisa está diretamente ligada à outra, enfim.
O cheiro doce e sufocante do cigarro ainda está entranhado nas minhas narinas e nas roupas que, por hora, não consegui lavar secretamente. Esse cheiro, inebriante e insuportável, conseguiu fazer com que a minha falta de ar e de lucidez se agravassem; eu estou doente, de corpo e alma, por tudo o que ele representa, concretamente ou não.
As pessoas se acabando ao meu redor me fizeram ainda mais debilitada. Os dementes que me roubavam os insensatos argumentos noturnos sugaram minhas energias escassas. Aquele que não faz idéia alguma de mim [e que me confessou isso com os requintes da mais inimaginável crueldade] está feliz, e eu estou triste. Mas nem é isso que acaba comigo. Na verdade, eu quero mais é que ele se consuma naquela vida medíocre que leva. Engraçado, eu até tinha algum apreço por ele. Nem sei mais o que é que ele me desperta. Mas isso não vem ao caso, enfim. Eu estou em uma profunda repulsa das pessoas, de maneira geral. Eu não quero sair de casa, eu não quero sair da cama, eu não quero que meu corpo esteja desperto. Eu só quero dormir, dormir, e conto as horas para que as noites de sono cheguem logo. E cada segundo se arrasta, e eu estou numa enorme impaciência perante a vida e um imensurável desespero de permanecer pseudo-respirando. Não posso acabar com isso de uma vez? Dê-me um cigarro para que eu o fume compulsivamente, e outro e mais outro, e me deixe acabar logo com essa tortura de existir na concretização da vil matéria.
E não é só isso. Não são só as pessoas que me ignoram; há também as pessoas que me incomodaram. Os beijos inconvenientes que ainda me ferem os lábios, os braços que me puxaram para um enlace que eu rejeito, abomino, tenho verdadeiro asco; tudo ainda me envergonha, me deixa constrita na lembrança que eu quero apagar e que me aperta, mais e mais, e me envolve com inúmeros tentáculos. Não estou mais conseguindo reagir com a minha indiferença impaciente. E ninguém sequer pensa na minha existência. Foda-se, eu não quero pensar na existência de ninguém, também. Eu não quero pensar em nada.
E ainda tenho, também, a terrível recordação de meus irmãos e minha mãe, sentados à minha frente, ouvindo os meus lamentos, os meus gritos, a minha irracionalidade, o meu absoluto desespero sem fundamentos, os meus julgamentos indignos, a minha aspereza e o meu rigor. Eu sou uma estúpida completa. Acabei-me em lágrimas ridículas, e me sinto agredida por mim mesma. Sinto-me imutavelmente inerte, como se todo o mundo houvesse despencado sobre mim e me impossibilitasse de mover-me por conta própria – eternamente. Todo o peso do mundo falho e inconstante da minha personalidade esmagou os meus sentidos, destruiu-os, e eu não vou me recuperar jamais. Mas a verdade é que eu mereço tudo isso. Eu mereço ser castigada com as palavras mais cruéis, com os golpes mais baixos, porque eu sou medíocre e cruel.
E eu vou fazer drama, sim, e não estou preocupada com nada porque, FODA-SE, eu não vou pensar em mais nada agora. Eu vou ser egoísta a meu bel-prazer, e vou fazer todo o drama que existir porque não dá para ser trágica, porque eu não sei ser ainda mais trágica, porque eu sou uma pretensiosa que acha que tem capacidade de traduzir sentimentos por palavras, mas isso é pura arrogância minha. Porque eu sou incapaz em tudo o que há na vida, completa e plenamente incapaz, e essa é a minha verdade incontestável.

A quem leu isso, perdoe-me. Eu fui extremamente estúpida – mais uma vez. É que eu não podia guardar todo esse sentimento ruim em mim, por mais que isso não seja uma desculpa para ser tão ignorante e indelicada.
É que a minha alma está muito triste. Pelos últimos acontecimentos – agressões massivas a ela – e por aquela outra angústia, indizível sentir.
Por carência minha - ou não - eu preciso de um abraço. De uma palavra amena. De algo que me faça esquecer a terrível condição em que me encontro. Algo que me faça, mais uma vez, despertar a alma. Porque minhas defesas foram – e estão sendo – impiedosamente atacadas. Eu estou fraquíssima. E eu pensei estar mudando. Infelizmente, as coisas não são como a gente espera; é o que dizem. Fique com a frase clichê para terminar. Eu não sou capaz de ir muito além disso.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

.

Sinto um ponto de angústia. Bem aqui, perto do peito, meio próximo ao coração. É algo tão físico, tão concreto, que se eu pressionar esse ponto sinto dor. E é uma dor bem forte; alojou-se ali e concentrou-se e não pára de se tornar mais denso, mais denso e mais profundo. Como um tumor invisível aos olhos e às medidas médicas, mas extremamente real e dolorido para mim.

Não sei o que é que alimenta essa angústia. Pois que o ódio que eu sinto de muitas coisas da vida não é capaz de me deixar doente; no fundo, sei que não odeio. Tenho um amor imenso e uma compaixão desmedida pelas coisas que me matam. Porque, no fundo, sei que sou mais forte do que muitas dessas mediocridades da vida.

Mas esse ponto cresce, e se transforma em algo mais e mais dolorido a cada dia. Não sei se há algum tipo de expansão, mas sinto que meu coração está sendo afetado, de alguma forma, por essa coisa indefinida. “Coisa” é uma palavra suficientemente vaga para expressar meu grau de confusão e inconsciência perante a real natureza desse sentimento.

Pense em um buraco negro. Daqueles bem terríveis. Pois então, minha mente já foi absorvida pelo projeto de buraco negro que está se formando em meu peito. Contraditoriamente, meu coração, que está mais próximo da dor, ainda não foi completamente afetado por ela. Parece-me que esse meu potencial para amar, independentemente das circunstâncias, tornou-se uma defesa minha, sistema imunológico dos meus sentimentos. Meus pensamentos, no entanto, já estão perdidos. E não sei se há muitas chances de recuperá-los.

Há ainda a minha capacidade de me desprender do meu corpo. Mas já não consigo analisar racionalmente o que minha alma vê. Sinto que estou tão desfigurada, que não posso mais me reconhecer. É uma tristeza insana que me distorce o semblante. Minha alma, porém, não está distorcida – ainda. E espero que nunca esteja.

[...]

Indiferença. Isso é o que está me matando.

Talvez carência, mas não de maneira mórbida e obsessiva.

É que eu queria que alguém cuidasse de mim. Mas eu olho pros lados, e estão todos muito ocupados com seus próprios problemas e com milhares de problemas dos outros.

Talvez pensem, “ela é forte, sabe se cuidar”. Eu pensava isso. Eu pensei não precisar de ninguém.

Mas é que as pessoas que eu pensei que me amariam incondicionalmente estão virando as costas e se recusando a ver a minha decadência. Ocupados demais.

Ninguém quer me ver, tentar transpor a barreira da minha nulidade e me resgatar de toda essa indiferença que me apaga do mundo.

Eu sou um fantasma nessa vida. Um fantasma que ama o mundo todo, e que ninguém vê.

Não que eu queria retribuição pelo amor que eu tenho e dedico. Não é disso que eu preciso.

Eu só queria alguém que cuidasse de mim, porque eu não quero ser sozinha. Eu não gosto de ser sozinha; ninguém gosta. Isso não é natural.

Mas tudo me impele a ser sozinha, e descrente da reciprocidade dos meus sentimentos mais nobres.

Minha luz está se apagando, cada vez mais... Sou um brilho trêmulo e vago no meio da escuridão da indiferença. Os ventos estão soprando fortemente. Não sei até quando agüentarei. Abraçarei logo a tempestade, e me farei eternamente fria. Gélida e cinzenta. Como os olhares que me recepcionam toda vez que busco ajuda alheia.

Ah! Isso está me doendo tanto, tanto...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Another madness' face;

Deixas-me consternada - eu, que já não sei de mais nada!
Eu, aqui no mundo jogada,
Concebida sem a piedade do pensar,
Fruto falho da paixão irrefreável,
Desmedida e inconseqüente...

Deixas-me consternada, querido maldito,
Pois que ao pensar em ti,
Navego por mares revoltos,
Danço em ritmos tão hostis...
Meus pés pisam pedras e dores,
Eu, que já sou tão só, tão perdida,
Sou ainda mais tão abjeta, por ti...
Eu, filha da dor, da paixão e da indiferença.


Deixas-me ainda mais tão louca, querido maldito...
Pois sonho contigo, e desejo ser mais fraca,
Vil e amaldiçoada...
Meus lábios beijam lágrimas noturnas,
Sons confusos entorpecem-me os sentidos...
O vento abraça-me no seu alento
Confuso, inconstante e volúvel...

Permito-me ser embalada por essas variações.
Tu me deixas assim, além da razão,
Aquém da emoção,
Em um estado ininteligível,
Inenarrável e, principalmente,
Insuportável;

Esse é meu fardo bendito, que carrego
Com um orgulho de mártir condenada,
Que mais se redime dos pecados
À medida em que a cruz se faz mais pesada.

Deixas-me abaixo de qualquer expectativa,
Além de qualquer compreensão humana.
Sou a encarnação da desdita,
A síntese do amor perdido,
Braços frios e trêmulos,
Sedentos de calor,
Que almejam tudo e alcançam o nada...

Querido maldito, és meu deus e perdição.


segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Fragmento de uma reflexão feita em um dia que choveu e que eu me recusei a ver a chuva.


O que mais me assusta na minha condição atual é a extrema lucidez com que avalio minhas tristezas e dores. Isso deve ser um grau de loucura, talvez.
Não que eu não as sinta. É que elas já são parte de mim de tal maneira que aprendi a entendê-las com uma visão distinta, separada. Elas não são mais apenas emoções - são sentimentos inerentes a mim, os quais eu criei e dei certa independência. São como filhas, as quais eu compreendo em sua fase de expansão e tomada de consciência própria. Tem uma concretização um tanto quanto incomum; alguns podem achar isso ruim. Eu acho, no mínimo, confuso.


Puríssimo racionalismo da minha parte, algo que realmente não me caracterizava. Mas eu sempre tive um excesso de sentimentalismo; sem saber o que fazer com ele - por não ter nenhuma possibilidade de libertá-lo -, fui perscrutá-lo, dissecá-lo, conhecê-lo profundamente em suas misteriosas entranhas. Então, comecei a enxergá-lo com outros olhos, olhos analíticos. E por mais que eu não goste muito bem do que veja - até por não entender direito - eu simplesmente não consigo livrar-me dessas correntes que me prendem ao passado. Eu consigo chorar consciente de minhas lágrimas; eu vejo que isso é irracional, como se me desprendesse do meu corpo e visse uma coisinha sórdida e ridícula derramando um pranto inexplicável. Essa sou eu, e não me reconheço. Isso é extremamente inquietante. É uma aflição que beira a interrogação sobre o infinito. Esse limite entre razão e sentimento é o meu abismo; quando consigo, agarro-me a um galho e consigo frear um pouco minha queda. Mas, no momento, estou completamente abandonada, queda-livre em direção ao nada. Não sei onde será o [meu] fim.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Hoje é dia de Cecília! :D






Timidez;




Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.


Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras distantes...

- palavras que não direi.


Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponhos vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.


E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo
até não se sabe quando...

- e um dia me acabarei.







[Cecília Meireles para os momentos mais diversos, lúcidos ou sonhadores.]