quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Ao meu [inexistente] redentor;

Entre devagar, pise calmamente...
Não há pressa em desvendar o mistério.
Ande devagar, a porta está aberta,
Limpe seus pés, esqueça do que há lá fora.

Vislumbre com cuidado o mundo adormecido
Que se abre, secretamente, à sua frente.
Silêncio... Não deixe que sequer um ruído
Se precipite em despertar o coração ferido...

Entre no mundo maculado, cheio de dor,
Em que se transmutou a minha alma.
Entre com calma, não se aflija,
Aqui o chamei porque tenho um pedido a fazer.

Recolha os movimentos bruscos, pare-os,
Cuide para que tudo seja leve e pacífico...
Por favor, peço-lhe tamanho cuidado,
Pois qualquer outra dor me seria insustentável.

Aqui o chamei, mago querido,
E este é o meu pedido: ajude-me.
Vê este mundo silencioso e triste?
Minh’alma não foi sempre assim,

E não quero, mais, ficar adormecida
Em toda a dolorida frieza de meu exílio...
Quero respirar, quero novamente ver as cores,
Quero redescobrir os sabores antigos...

Mas estou tão fechada, tão perdida!
Abri as portas de meu ser para você
Pois sei da cura que a sua doçura traz.
Mago querido, sei do amor que sua alma encerra...

Pedi que, com suavidade, desvendasse
Os tortuosos caminhos que conduzem
Ao coração de minha dor. Suas mãos,
Imaculadas e nobres, hão de ser meu milagre.

Mago querido, acalme-se, sente-se aqui.
Permaneça em mim, cuide de minhas dores,
Faça com que meus pulsantes ferimentos
Cicatrizem, finalmente se fechem...

Seque as cascatas de minhas lágrimas
Que correm, tão desesperadoramente ininterruptas...
Espalhe por sobre o chão sementes de paz,
E cubra-as, cuidadosamente, com nuvens de algodão.

Aceite meu humilde pedido, importe-se comigo;
Você é minha luz e esperança.
As lembranças do mundo antigo, pleno e feliz,
Estão, para mim, todas em você.

Você foi e ainda é a minha cura,
Minha chance de reerguer os olhos
E contemplar, sem temer, o horizonte...

Convidei-o ao meu mistério, a você fiz uma prece;
Rezei baixinho, silenciosa, comovida,
De braços abertos, esperando minha redenção.



{Seus olhos brilhantes recriam, em mim,
Toda a vontade de sonhar
Com a reconstrução de minha alma dilacerada.
Sempre serei a você, de todas as vis mortais, a mais grata.}

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