quinta-feira, 17 de setembro de 2015

You're gone

And I got to stay high
To keep you off my mind.

domingo, 13 de setembro de 2015

Futuros amantes

Precisamos existir apesar das manhãs chuvosas,
Resistir, até o limiar das nossas forças individuais.
(E é com certo desespero que eu constato isso
Ao ver as pessoas agitadas correndo de lá pra cá
Numa manhã chuvosa, não tão fria, e não tão cedo.)

Não é possível se entregar ao ócio infértil,
Por mais que esse seja nosso único e exclusivo desejo.
(Até porque os outros desejos precisaram ser
Mortos
Esquartejados
Dilacerados
E distribuídos pelos quatro cantos do mundo
Como no mito de Osíris
- Quem dera eu fosse tão mística e digna quanto esse mito.)


Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios no ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você



E o meu coração está espalhado por aí
E pode ser que um dia eu consiga recuperar todos os seus pedaços
Ou pode ser que eu morra antes disso
E futuros amantes se amem com todo o amor que eu deixei pra você
- E vai ter muito, muito amor em cada estilhaço,
Suficiente pra vidas e mais vidas de encontros e desencontros gastarem toda essa confluência sentimental que acabou por acontecer
E que vai ficar assim, em latência,
Só os deuses sabem até quando.

Quando é que eu poderei voltar a florescer?
(Me amo o suficiente pra querer todo esse amor pra mim, pra essa vida,
E pra alguém que o receba religiosamente
[E eu sei que não vai ser você.])


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

9 de setembro de 2015

Se hoje eu pudesse chamar qualquer pessoa para um café e uma prosa
Certamente escolheria você
- Pelo fato de eu ter ido dormir muito tarde
E ter acordado muito tarde
E ter me sentido tão fracassada em todas as últimas horas dos últimos dias das últimas semanas
Tão fracassada que nem o meu corpo se sente bem-sucedido em suas funções habituais
Tão fracassada que não tenho tido energia nem para me manter respirando bem
Apesar do ataque massivo que tenho promovido aos meus pulmões
Com tanta fumaça intoxicada de tristeza.

Você me compreenderia na sintonia mais fina
Como se um fio de seda muito tênue e leve ligasse perfeitamente o centro das nossas angústias
E a mesma lente ligeiramente azulada estivesse sobre os nossos olhos;
Você me ajuda a enxergar a vida da maneira mística e melancólica a que estou tão habituada
Mas com você eu consigo enxergar algum sentido no meio dessa floresta de signos retorcidos e misteriosos.

Hoje eu tomaria um café bem forte, cheio de açúcar,
Ou um chá de maçã bem suave,
E ambos me fariam sentir profundamente a falta, a ausência, esse vazio imenso que me move
Em que eu fantasio que você mora e me ocupa de maneira cintilante (todos os cantos dilacerados da minha alma).

Nada disso você nunca vai saber
Nem deve querer saber
Mas eu precisava contar, da maneira que fosse,
Como eu adoraria te ver nesse dia branco de hoje
Pra falar de qualquer coisa que me fizesse esquecer o trapo de ser humano que me tornei.

(E que tenho fortes esperanças de deixar de ser,
Mas ando fraca demais pra tomar qualquer atitude em relação a isso
Que não seja
Me intoxicar
Dormir tarde
Acordar tarde
E viver como se estivesse à espera de dias melhores
[Como se não fosse eu mesma que tivesse que trazê-los de volta]).