segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

the more I talk about it / the less I do control

I won't talk shit about this until I sense myself totally metamorphosed.

sábado, 28 de janeiro de 2023

o doce amor não existe (pra mim)

tantas vezes sonhei embarcar nas asas de um sonho bom
mas a fantasia do doce voo se provou
doce ilusão
mordida suculenta em morango apodrecido
de dentro pra fora.

percebo-me isolada, e que bom que há as palavras
para nomear e dar contorno a essa angústia fina
que corre meu cérebro como uma fisgada permanente
imune à dipirona 1g.

o coração bate porque a vida me é alheia.
dizia o Pessoa que, se pensasse, ele pararia.
sei essa sensação com todos os meus neurônios
    neste exato momento.

pensava que a lua nova era a da esperança
e a minguante, a da melancolia.
há tempos não me sentia no fundo de uma depressão sem fundo
- sem o exagero, como separar o sofrimento agudo
da corriqueira apatia racionalizadora?

quando tudo parece um imenso beco sem saída,
corro para dentro: durmo.
melhor seria deitar no colo da terra
e esvaziar a caixa de Pandora dos pensamentos
lançando-os sem pena, sem apego, ao Cosmos azul imenso.

(psicanalista de férias = insalubridade emocional)

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

rose, the queen of flowers

o que existe depois da sentimentalidade espúria
é o amor que sobrevive ao horror
- os reais acontecimentos
vividos em sua integridade e plenitude.
é o amor o mais maduro possível,
num estágio de eterno presente:
à prova do tempo,
des- ou re-encantado,
doce-amargo, mas nunca podre
(Perséfone junto a Hades).

Preciado confronta a sexualidade com a heterogênese,
a produção de diferença:
o amor que ama aquilo que é des-idêntico a si
(não é: está sendo,
combinação do estacionário com o fluido,
vida sempre-viva, mas sempre mudando).

(Saturno/Cronos é o corte que institui essa vida
estacionária, idêntica a si mesma: esquizogênese.
Mas como assim?
esquizo = to split, dividir
a foice, o punhal, a tesoura: o corte
...)

[o segredo dos seus olhos
é que eles também dão morada
ao espírito que habita
o coração da floresta
- mas nossos corações são vermelhos]

 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

O que existe depois da sentimentalidade espúria?

 O drama é uma forma racional de amplificar esses sentimentos que brotam tão mirrados do meu coração, incapazes de formar uma corrente líquida: são tão densos quanto o ar.
Falo muito sobre a névoa, que é a única forma possível para as minhas tão aéreas emoções: capazes de furacões, mas não de tempestades.
O orgulho negativo é aquele de que eu quase me gabo não ter em algumas das minhas faces - não em todas. Acho que sei distingui-las, mas não vou fazer isso agora.
Fato é que eu tenho um orgulho positivo das minhas capacidades de amar - que não recebem validação com tanta frequência quanto, vim a compreender, eu necessito. Mas quem tem que saber do meu valor sou eu, primeira e principalmente. Que aprendizado difícil. A indiferença dói como um dedo enfiado numa ferida que nunca consegue se curar.
O amor é esse processo tenebroso, que dá seus frutos podres, às vezes até mesmo envenenados. Assimilar sua realidade integral é aceitá-los todos, do verde ao maduro, em todos os seus estágios; envenenados ou caramelados.
Mesmo os que vêm caramelados podem estar podres, ou envenenados. O verde tem um travor que, encontrada a nuance, pode revelar qualquer coisa de sei lá o quê. Foda-se a metáfora.

O que existe depois da sentimentalidade espúria é uma racionalidade tão plana que eu não sei bem o que fazer - talvez meditar e tentar ignorá-la pelo menos por um ou dois minutos, enquanto não encontro seus olhos d'água.

Os de dentro, é claro. Os de fora não se furtam em minar vez ou outra.

(batcaverna style)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

freestyle, quase um plágio

Menta, a ninfa do rio Cócito,
guarda no macio verdor de suas folhas
o hálito gelado do 9º Círculo do Inferno
morada de todos os traidores
inclusive Lúcifer, o anjo de luz, decaído.
Também Aqueronte, Erídano, Estige,
Lete e Flegetonte
compõem a bacia hidrográfica do Tártaro/Hades,
o mundo das sombras.

Sobre os rios:

Aqueronte - infortúnio, afluente do Estige, fluía pelo lago Averno, às vezes sinédoque para o próprio Hades;
Lete - também uma náiade, filha de Eris, senhora da discórdia, esquecimento, oposto da Aleteia, a verdade;
Estige - ninfa filha de Tétis, invulnerabilidade, lugar de promessas inquebrantáveis e votos sagrados, onde Aquiles recebeu seu dom;
Erídano - constelação vizinha a Órion, o motivo pelo qual vim parar nesse fio de pensamento sobre os rios infernais;
Flegetonte - rio de fogo, onde estão os violentos, afogados no rio de sangue fervente, é também um rio de cura, para que as almas afogadas passassem mais tempo sob tortura em suas águas - "me ferindo e me curando a ferida", já diria a Rita Lee; 
Cócito - o rio das lamentações, onde Menta ficou chorando depois que Hades a rejeitou para se casar com Perséfone.

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

pensando-com, dias atrás

ciúme é um bicho de metal
que morde o peito por dentro, arrancando pedacinhos
com o veneno do sadismo escorrendo no canto da boca
baba de uma fome irracional e selvagem
(não, não: é humana e ideológica,
mas tirar-lhe os véus não é mitigar-lhe a dor)

domingo, 1 de janeiro de 2023

Sem anistia

o nosso presidente legítimo cita um trecho do relatório da transição
que apresenta a radiografia do desmonte do Estado e das políticas públicas
diz que é o povo brasileiro quem vai pagar essa conta
(a conta do orçamento secreto,
e entre as sugestões de medidas para revogação e revisão
consta a Revisão de Atos que Impuseram Sigilo Indevido de 100 Anos
              em Documentos de Acesso Público)
ao que o povo responde, prontamente:
sem anistia.

apanhamos, sim, mas não vamos mais apanhar calados.