sábado, 28 de janeiro de 2023

o doce amor não existe (pra mim)

tantas vezes sonhei embarcar nas asas de um sonho bom
mas a fantasia do doce voo se provou
doce ilusão
mordida suculenta em morango apodrecido
de dentro pra fora.

percebo-me isolada, e que bom que há as palavras
para nomear e dar contorno a essa angústia fina
que corre meu cérebro como uma fisgada permanente
imune à dipirona 1g.

o coração bate porque a vida me é alheia.
dizia o Pessoa que, se pensasse, ele pararia.
sei essa sensação com todos os meus neurônios
    neste exato momento.

pensava que a lua nova era a da esperança
e a minguante, a da melancolia.
há tempos não me sentia no fundo de uma depressão sem fundo
- sem o exagero, como separar o sofrimento agudo
da corriqueira apatia racionalizadora?

quando tudo parece um imenso beco sem saída,
corro para dentro: durmo.
melhor seria deitar no colo da terra
e esvaziar a caixa de Pandora dos pensamentos
lançando-os sem pena, sem apego, ao Cosmos azul imenso.

(psicanalista de férias = insalubridade emocional)

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