quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Quem se importa, afinal?




Dou um doce bem gostoso feito por mim, com todo o amor e carinho, para quem conseguir responder satisfatoriamente a pelo menos metade dos meus questionamentos - algo que me faça sentir alívio na dor de viver. Alguém se habilita?


Beijos.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Perdoe-me.




Saturno me encerra em seu lúgubre mistério.
Eu sou aquela que se perdeu
No além e no aquém-dor
- Nem a dor me é certa ou exata,
Nem a minha dor é completa ou compreensível.
[...]
Aos poucos o mundo se torna
Novamente cinzento
Aos meus olhos secos.
Nada mais me comove,
Tudo me faz
Cada vez mais
Glacial.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Never again.

I really don't know..
Don't know why, don't know when,
But it changed.
And...
"I'm sure we'll grow, but we'll never bloom again."







Eu realmente não sei o que dizer.
A inutilidade das palavras diante da esterilidade das emoções...
Eu só queria voltar a sentir.
Sentindo, talvez eu pudesse falar...
Como falar sobre algo que não existe?
Como querer dissertar sobre a razão?
A razão não existe, afinal...
E se o sentimento também não existe [em mim],
O que está me mantendo viva?

Meus deuses, como é que eu ainda não morri?

.
.
.

I lost myself on a cool damp night
Gave myself in that misty light
Was hypnotized by a strange delight
Under a lilac tree

I made wine from the lilac tree
Put my heart in its recipe
It makes me see what I want to see
And be what I want to be

When I think more than I want to think
Do things I never should do
I drink much more than I ought to drink
Because it brings me back you

Lilac wine is sweet and heady, like my love
Lilac wine, I feel unsteady, like my love

Listen to me...
I cannot see clearly
Isn't that she coming to me nearly here?

Lilac wine is sweet and heady, where's my love?
Lilac wine I feel unsteady, where's my love?

Listen to me, why is everything so hazy?
Isn't that she, or am I just going crazy, dear?
Lilac wine, I feel unready for my love


- Jeff Buckley, Lilac Wine


.
.
.

Isn't that he, or am I just going crazy, dear?
I'm just going crazy.




• Por quem eu espero? Também não sei.
Espero por alguém...
Que me tire desse deserto.
Que me traga de volta a primavera,
Que me devolva o dom de ser completa.



~

Não adianta esperar por milagres, I know.
Mas sonhar [ah, sonhar!...] nunca deixará de ser válido,
Por mais que os sonhos sejam extremamente abstratos.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Ou não.

Ando com um medo profundo de falar "eu te amo".
Parece-me tão vão dizer palavras que necessitam de muito para serem pronunciadas... Elas exigem. Exigem sangue, lágrimas, palpitações, calafrios, tremores, cuidado, candura, bondade...
Eu não quero que o mais belo sentimento seja leviano em minhas mãos ou minha boca.

O Amor merece todo o nosso respeito.

•••

Eu finalmente aprendi a arte do "pouco me importo" [porque ainda é estranho dizer 'não me importo'. Eu nunca vou saber fazer isso.]. Na verdade, aprendi a ir atrás do que eu quero, a arrematar questões mal resolvidas e enfim dormir tranquila. Eu ainda tenho que aprender a não permitir que sentires ruins se apoderem de mim, e que os pensamentos circurlares parem de me aborrecer... Mas fiz o suficiente por esses dias. Já empreguei muita energia na arriscada empreitada do "learning how to live lightly". Bem, não que eu esteja muito próxima do estágio pleno. Mas estou caminhando, isso já é alguma coisa. Agir já não me era característico, dei um passo importante.

•••

Na verdade, I'd like only to give you the last goodbye. The last embrace... E foi o que eu fiz. Uma despedida, apenas. Life goes on. Se eu ainda pudesse confiar totalmente nesses seus olhos tão escuros, tão nebulosos... Mas tudo é vão agora. Falar que houve dor é banal. Não há mais o que ser discutido - já discutimos tão longamente, e sem nenhum resultado... Qualquer lamento não fará o menor sentido. Talvez eu até me sinta ridícula, agora, por aludir vagamente àquilo que eu não queria nem que eu mesma soubesse. Anyway. Life goes on, nada mais pode importar. Nada possui tal direito.

•••

E o meu medo de desrespeitar o Amor... E o meu pavor de que ele se revolte completamente contra mim e me faça passar [once again] pela via-crucis do sentimento. Mas o Amor não faz isso, nunca, com ninguém. Sou eu que faço isso comigo mesma. Como aprender a ser menos idiota [sim, é esse o adjetivo, "idiota"] no trato com os meus pensamentos, sensações, ações e sentimentos? Talvez o destino [ou o que quer que tome conta do futuro dos corações sedentos de uma vida cheia de significados belos em gestos simples, poesias, breathtaking landscapes e congêneres] esteja me reservando uma surpresa agradável... Que finalmente me ajude a curar esse buraco que se formou no meu peito - desde quando eu nem sei -, e que se recusa a fechar.

Ou talvez eu precise encontrar sozinha [como essa palavra doi!] o caminho da minha felicidade. É muito comodismo, decerto, esperar que o destino se encarregue de tudo... Eu sei que preciso lutar. Sei de onde tirar forças. Mas não sei o que me impede de fazer com que tudo funcione. Será que tudo depende mesmo de mim? Isso não me parece consolador. Sinto um cansaço profundo ao pensar em tudo isso.

•••

Eu me canso ao ler minhas palavras. Tudo me parece extremamente confuso e vazio ao mesmo tempo [e eu considero mesmo confuso; mas vazio, não]. Por que eu estou fazendo isso? Também não sei. Acho que esqueci que isso aqui não é a minha agenda, que fica guardada na minha mochila, a qual ninguém lê. Acho que estou com vontade de que alguém tente me entender, talvez eu queira ver se encontro alguém solidário à minha causa. Deve haver muitos, mas poucos ao meu redor. Poucos que de fato se importam com o meu drama, inclusive - que é o drama do sentimento humano descontrolado. Será que há muitos com tal problema? Eu aposto que sim.

•••

E deixa pra lá, você que lê, você que entende. Não se preocupe muito. Só o tempo cura totalmente, só a boa vontade traz verdadeira sabedoria. Palavras de consolo são um lenitivo quase sempre bem vindo... Mas entenda, e eu entendo: não há nada de muito prático a ser feito. Mas... Ter para com o outro um gesto imbuído do mais extremado grau de Amor: isso pode ajudar. Qualquer um, sempre.


•••





domingo, 6 de dezembro de 2009

"Fall into you.."

..is all I ever do.
Don't give up on a dream...


• E eu estou tentando desistir. Arduamente. Eu tento, mas não consigo desistir. Eu não sei desistir.
E o que mais você quer que eu diga?
Mais do que pedir desesperadamente que você se lembre de mim...
Mais do que pedir que você queira me ver, me encontrar...
E deve ser isso que o impede de.. de..
[Falta-me coragem.]
[Falta-me tantas outras coisas mais...]
[Falta-me, simplesmente.]
[Inclusive o amor próprio.. este anda faltando demais.]

Eu.. eu não sei. Não sei de nada.
Eu já abri essa página inúmeras para tentar escrever qualquer coisa que me ajudaria a crer que eu ainda consigo me traduzir em palavras,
Mas eu nem sei mais, e nem precisei desistir disso. As palavras simplesmente me fugiram, sem alarde.
Logo agora que eu descobri...
... que eu sou eu no reino das palavras...


Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.



E eu pego de Ricardo Reis a suavidade sem paixão de que eu tanto preciso... Porque a paixão machuca. Se eu não sei ser assim, deixa que ele seja para mim... A poesia me é caridosa. Ela me faz pensar que eu também posso viver alheia às dores do pensar e do sentir.

"Ah! Como dói assim viver, sentindo
Asas nos ombros e grilhões nos pulsos!
"
O. Bilac


Eu... Eu não sei o que eu não quero. Só quero que não doa mais.
Eu vou aguentar os paradoxos, as contradições,
Eu vou aguentar o não entender, o jamais compreender,
Mas...
Eu só não quero que doa.



~


E eu vou sorrir por aí, vou me divertir, fingir que não há nenhuma mágoa aqui dentro. E eu estarei sendo sincera... Porque eu sei que conseguirei esquecer as mágoas, mesmo que temporariamente.
Mas quando a noite chegar, madrugada alta... Sei que vou perder o sono, e os pensamentos e as lembranças vão me dominar, e eu arquitetarei mil planos para reencontrar a alegria completa, mas a manhã me trará de volta à lucidez e nenhum plano será posto em prática. E o meu dia será o mesmo, alternando consciência conformada e inconsciência revoltada/triste.
Como me cansa ser tão previsível.


Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos… a tua mão na minha…

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…

Florbela Espanca



• A Flor me ajuda a finalizar. Depois dela, nada mais precisa ser dito [por enquanto].







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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Cansaço.

Anoiteceu. Eu não vi, não sei, não quero.
Procuro, mas não sei se devia querer a lua.
Não há lua, apenas estrelas difusas aos meus olhos míopes.
Preguiça de pegar o óculos, preguiça de viver, de respirar.
Que raiva de estar assim, que culpa por não ser melhor.
Parece que tem uma tempestade aqui dentro,
Uma tempestade de navalhas a me dilacerar corpo, alma e pensamento.
Tudo doi, incomoda, irrita, enerva.
Os olhos estão pesados e vidrados na inútil tela do computador.
Sinto um cansaço de não querer dormir,
Porque nem sempre dormir significa descansar.
Gritei, muito, com quem não merecia.
Chorei, demais, sem saber exatamente o porquê.
Isso parece qualquer coisa hormonal,
Mas eu não estou com muita paciência para me desvendar.
Eu devia ler ou me dedicar mais aos objetivos prementes.
Eu devia esquecer, esquecer, esquecer,
Mas parece que, involuntariamente, eu me lanço
A todas as fontes possíveis e impossíveis de lembrança.
Isso me mortifica, me exaure de minhas forças.
Sinto-me mal de um jeito que ultrapassa os limites do suportável,
E não sei exatamente o que fazer para acabar com isso.
Não sei se a música me acalma ou me destroi ainda mais.
Tenho vontade de algo que não sei o que é...
Quero, muito, sumir.
Sumir, completamente, evaporar, desaparecer, fugir,
Ir para algum lugar bem lindo e silencioso e vazio,
E então tentar me curar.








O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos, meu histérico atormentado favorito.

domingo, 15 de novembro de 2009

Grace;




















Eu queria escrever inspirada pelo Jeff, mas não consigo chegar a um milésimo dos sentimentos que ele descreve, então não vale muito a pena eu me manifestar. Qualquer dia até devo tentar... qualquer dia.

Deixe que ele fale por si.




This is our last goodbye

I hate to feel the love between us die

But it's over

Just hear this and then i'll go

You gave me more to live for

More than you'll ever know


This is our last embrace

Must I dream and always see your face
Why can't we overcome this wall
Well, maybe it's just because i didn't know you at all


Kiss me, please kiss me

But kiss me out of desire, babe, and not consolation

You know it makes me so angry 'cause i know that in time

I'll only make you cry, this is our last goodbye


Did you say 'no, this can't happen to me,'

And did you rush to the phone to call

Was there a voice unkind in the back of your mind
Saying maybe you didn't know him at all
You didn't know him at all, oh, you didn't know


Well, the bells out in the church tower chime

Burning clues into this heart of mine

Thinking so hard on her soft eyes and the memories
Offer signs that it's over... it's over.

Last Goodbye - Jeff Buckley

sábado, 14 de novembro de 2009

To forget/forgive.

É uma sensação muito esquisita, posso dizer.
Uma tragi-comédia. Engraçado, encontrei um termo para descrevê-la...
É que uma comédia e uma tristeza brincam aqui dentro
- Pelo menos não é só tristeza.
A graça disso tudo é ver como as pessoas conseguem ser levianas com o sentimento mais puro e bonito que pode existir. E como as pessoas são previsíveis, reativas, orgulhosas... e como agem de maneira tão parecida.
Acho que eu fui suficientemente explícita.
A tragédia...
É que, novamente, está doendo, e eu prometi pra mim mesma que não permitiria mais que doesse esse tanto.
Mas eu me entreguei, não é mesmo? Agora eu suportarei as consequências.
É que eu realmente não esperava ter que estar sozinha, novamente, numa tão árdua empreitada -
Esquecer.

Perdoar? Eu já aprendi a perdoar. Graças a Deus, eu me considero compreensiva o bastante.
Esquecer que é um tantinho mais complicado. Mas eu já esqueci uma vez, já tenho experiência - não será tão doloroso quanto antes...
Mas ainda sim, tem bastante dor.

Eu ia me isentar da culpa disso tudo, mas não faz o menor sentido. Eu também tenho culpa.
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Acho que é só isso.
Beijos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A via-crucis da persona;

E hoje tinha tudo para ser um dia tristíssimo. Cinzento, de fato - como ontem eu escrevi em caneta hidrocor cinza no meu caderno de mágoas. Hoje era para chover lágrimas e sangue cinzentos - mas apenas choveu pela manhã, enquanto eu dormia. Chuva limpa e clara, que eu nem vi. Apenas ouvi, apenas senti.
Hoje eu dormi pela manhã, não fui à aula - não me deixaram ir. Fui condenada à prisão, por hoje. É que ontem cometi um crime, e tudo bem, deixa que eles me deem a punição que bem entendem; eu sei que não entendo nada, mesmo. Hoje o dia tinha tudo para ser tristíssimo e monótono.

Mas dormi até tarde, comi meu chocolate favorito e o correio me trouxe livros da Clarice. Então entendi ainda menos a vida. Era para eu ser a mais sofrida e condenada das criaturas, eu que fui uma criminosa. Mas deixaram-me em paz, e eu pude ler e comer chocolate. Isso é tão raro! E isso é bizarro, estranho demais.

E parece-me que tudo se ilumina, então. O prazer é só para me enganar. O sofrimento real está para vir daqui a pouco, e eu vou me arrepender amargamente por ter pensado que não passaria pela via-crucis para pagar pelo meu crime não intencional. Que assim seja, então. Acho que não tenho que me preocupar com o entendimento de nada. Disseram-me que não dá para entender tudo, e eu estou com real preguiça de entender o mínimo que seja. Nada adianta, mesmo.

E deixe-me estar nessa letargia da consciência. O dia era para ser triste, está bom mas é completamente imprevisível - bem como toda a vida. A minha consciência não vai conseguir exercer papel algum neste momento.


[...]


Descobri, enfim, o início do sofrimento. Que o destino saiba, eu não estou achando a menor graça nessa desgraça a que ele me está submetendo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Because I want you ~ but now it's raining!


Lá fora chovia o mundo e eu estava lá dentro, dos cobertores e de mim mesma. Havia acabado de acordar... E quase dormia de novo. Mas a chuva forte não deixava, não me deixava... E por que havia eu de me preocupar com isso?
De repente senti algo na garganta, que tanto podia ser um suspiro aflito ou um grito reprimido. De onde veio, isso eu não sei. Gritar seria tão vão, dado que ninguém me poderia escutar! E porque eu quereria suspirar? Há tanto tempo já não sei o que é um suspiro verdadeiro...
Agitei-me, e o sono foi embora.
"Como será que ele está?" - uma voz mental me sussurrou...
Então lembrei-me de uma voz real a me dizer coisas loucas, certas verdades cruéis e umas palavras de gracejo e de afeto. Lembrei... De algo que não me deveria lembrar. Porque isso certamente suscitaria suspiros... E ainda tenho medo de que meu peito, deveras fragilizado, se rasgue ao ser arrebatado por emoções muito fortes.
Mas o coração doeu e minha garganta foi tomada por um nó indissolúvel. Droga. As emoções fortes parecem querer me dominar de novo.
Comecei a imaginar.. E então fui longe. Longe demais para que eu conseguisse me reencontrar instantaneamente - para que conseguisse me reencontrar, na verdade. Percebi que não quero mais ir sozinha nessa jornada. Então descobri o porquê desse nó estranho, soube por que me preocupava com a chuva.
Eu não quero... não quero que ele se aflija por nada. Nem por uma simples chuva.


[...]

Mas acho que ainda me falta [muita] coragem.

- Fica essa frase para deixar a incógnita pairando no ar. Dê a ela o sentido que quiser.
Beijos.

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[69]

"Chove muito, mais, sempre mais... Há como que uma coisa que vai desabar no exterior negro...
Todo o amontoado irregular e montanhoso da cidade parece-me hoje uma planície, uma planície de chuva. Por onde quer que alongue os olhos tudo é cor de chuva, negro pálido. Tenho sensações estranhas, todas elas frias. Ora me parece que a paisagem essencial é bruma, e que as casas são a bruma que a vela.
Uma espécie de anteneurose do que serei quando já não for gela-me corpo e alma. Uma como que lembrança da minha morte futura arrepia-me de dentro. Numa névoa de intuição, sinto-me, matéria morta, caído na chuva, gemido pelo vento. E o frio do que não sentirei morde o coração atual."

Fernando Pessoa [Bernardo Soares] ~Do Livro do Desassossego.

domingo, 11 de outubro de 2009

Remember me, special needs.




"Você poderia me encontrar?"
E assim eu começo uma história.
Um diálogo, talvez. Um pedido,
Algo assim, tão profundo, doído,
Tão múltiplo em suas intenções,
Tão claro em seus significados...

Encontre-me. Fisicamente?
Um abraço talvez; um conforto
Caloroso, unicamente,
Desprovido de maiores consolos.

Mas não. Não apenas.
É um encontro diferente. Encontre-me
Sentimentalmente...
Caída, assim, no meio
Das folhas secas dos seus antigos sentires...

Encontre-me cristalizada, reservada
Em um casulo de saudade
Em meio à densa mata dos seus pensamentos...

Ou talvez encontre-me por mim, faça-me
Essa gentileza ilimitada.
Ajude-me a reencontrar uma vida
Que fugiu do meu alcance,
Que sempre se esgueira para tão longe...
Encontre meus passos na estrada esquecida,
Ajude-me a achar a lembrança
De uma aventura vivida...

Encontre-me nas suas mãos,
Busque em sua memória táctil:
Meus dedos enlaçados aos seus,
Nossa caminhada despreocupada,
Jornada livre dentro da madrugada...
Seus braços envolvendo meu trêmulo corpo
Deleite sublime na antítese dos sentidos.

Encontre-me objetivamente.
Veja meus olhos brilhantes,
Lacrimantes, expressivos,
Vazios de saudade,
Cheios de emoção,
Encarando a sua face, tão plena
De comoção e espanto...

Veja meus passos vacilantes
Buscando o mesmo espaço físico
Onde você se encontra...
Veja o meu cambalear semi-heroico
Na busca do nosso compromisso marcado.

Ou encontre-me subjetivamente,
Sonhadoramente reticente,
Num momento louco em que eu esteja
Imaginando que pode haver encontro
De almas irmãs, esperando pela comunhão
De corpo e alma - fatigados da procura...

Encontre-me em minhas longas frases,
Nesses meus lapsos de loucura,
Ou no horror da minha lucidez...

Encontre-me na minha tentativa de poesia;
Estou aqui, tão escondida,
Mas ainda assim tão bem descrita!
Basta que você queira me encontrar...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Do não saber sentir e outras complicações vitais;






"Ai meu coração que não entende
O compasso do meu pensamento...
O pensamento se protege
E o coração se entrega inteiro sem razão!

Se o pensamento foge dela,
O coração a busca, aflito...
E o corpo todo sai tremendo,
Massacrado e ferido do conflito..."







Ando buscando o apoio de outros autores para me definir. Não sei que absurdo e cruel monstro irreal me roubou a capacidade de fazer meus sentimentos vibrarem em palavras. Isso é de tal forma maléfico que me sinto sufocada - é como se me tivessem prendido os pulmões, e o ar apenas entra, entra, e não circula. Não consigo externar as palavras, apenas absorvê-las. Isso é preocupante.
Porém, uma força da necessidade - sempre baseada em dúvidas ou sentires de certa melancolia - me obriga a me manifestar. Até porque sei quem espera por isso, e desta maneira talvez eu consiga ser mais clara acerca de meus medos e anseios. Talvez. Na verdade, acho que eu devia desistir desse específico intento...

[...]

Os deuses me perdoam, mas eu ainda não aprendi a me perdoar.

A conflitante relação sentimento - razão me espreita,
Novamente, cruelmente, silenciosamente,
E eu a percebo. Tão clara e tão real
Quanto eu não pensei que voltaria a perceber.
Defino-a assim com ares de tragédia, de maldição,
Porque sempre, sempre caio em sua contraditória rede
E, inexplicavelmente, consigo me auto-flagelar
A todo simples momento.
Não há como não encontrar em mim
Um erro, um defeito, uma falta, uma negligência
- Para comigo e para com os deuses -
Quando me proponho a lidar diretamente com sentimento e razão.
Daí veio a minha temporária desistência do sentir,
Mas eu sou fraca demais para tentar me suprir dessa nulidade
Que para mim não possui outro nome, senão não-emoção [que também é não-razão].
Tudo isso, todas essas palavras loucas e desconexas
Para poder dizer aquilo que me aborrece
E me cansa profundamente: culpa.
Sensação que não deveria existir, decerto;
Mas, o que se há de fazer?
Eu não sei sentir, eu não aprendi a sentir
Com toda a serenidade possível.
E talvez soe hipócrita
Todo esse meu implícito discurso pseudo-moralista
[Encontrado apenas no requinte de uma certa reflexão].
Talvez meus atos destoem daquilo que tento dizer.
Que seja. Eu não posso querer me preocupar
Com ainda mais coisas, coisas que não dizem respeito
Ao problema fundamental.

Preocupo-me com a dor, velha amiga das horas mortas.
Ela é o fruto dessa contradição que me aperta o peito.
Preocupo-me com ela, sob quais aspectos
Ela me há de aparecer quando eu novamente me propuser
À corajosa empreitada de encarar sentimentos e razão.
Mais uma decepção? Mais uma desilusão?
Mais alguém para me fazer padecer
Porque sou deveras inábil ao tentar fazer-me entender?
A dor da falta de compreensão,
A dor da falta de sintonia,
A dor da minha falta em relação ao que eu acredito.
Fraqueza, fraqueza, fraqueza.
A minha fraqueza há de, sempre, trazer-me a dor.

E o medo. O medo de sucumbir,
O medo de me permitir errar além da conta,
Além do que é basicamente permitido.
Medo de estar me arriscando ainda mais
Em algo que já é fundamentalmente arriscado.
Medo de não ser suficiente e minimamente forte
Para arcar com as consequências dos meus atos.
Medo de sentir, na verdade - porque eu não sei sentir;
Medo infantil, em inocência de quem se lança a algo que ignora.
Medo de não ser quem sou, de esquecer quem eu sou
[Mas quem eu sou, de fato?].
Medo de permitir que sentimentos traiçoeiros me roubem os últimos traços de bom senso que eu ainda possuo.
Medo do que é externo. Medo do que, internamente, eu não sei reconhecer.

Mas o que esperar de tudo isso
- Que é vida, afinal -
Além de que ela ocorra da melhor maneira possível?
O que esperar da vida,
Além de que ela, se aparentemente cruel, me faça aprender
E, se aparentemente alegre, me faça ser feliz?
Não que eu precise chegar à beira do abismo
Para provar a mim mesma que é possível morrer...
Não que não seja necessária a cautela
- Essa da qual eu uso largamente, ou ao menos tento.

Mas...
É esse o problema fundamental.
Encontrar na contraditória relação
O equilíbrio básico
Que me faça viver, aprender,
E, acima de tudo,
Ser feliz e fazer a felicidade dos que me rodeiam.
Viver a vida com leveza... Uma árdua tarefa
À minha complicada maneira de encarar a vida.
Espero aprender, contudo, a agir e sentir,
E finalmente ter a paz de espírito que tanto prezo
Para todas as mínimas situações da existência.








[Uma última constatação: vê como sou absurda. Vê como sou absurda, simplesmente. Acho que não consigo especificar mais o meu aviso.]




Na verdade, na verdade..
Tenho medo de que não gostem de mim pelo que eu verdadeiramente sou.
Tenho medo de que a necessidade da sensação se sobreponha à naturalidade do sentir.
Tenho medo de ser vítima dos vícios, da falta de profundidade dos sentimentos.
Entende? É disso que eu tenho medo.
Isso é o que me preocupa, e complica a minha vida.




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sábado, 12 de setembro de 2009

Só por uma necessidade vital de ressucitar esse semi-morto, meu blog.




De repente eu percebi o quanto preciso das palavras.
Elas me fogem, sempre... Sempre me escapam por entre os dedos como água corrente.
Desde que eu perdi um motivo certo para concretizá-las,
Elas zombam de mim, riem da minha cara,
Ironizam a minha incapacidade,
E se escondem nos recônditos profundos da poesia inacabada.
Elas podem parecer, às vezes, bastante cruéis,
Mas eu preciso delas, preciso que me animem,
Poesia correndo em mim, pelos meus dedos,
Não só pelas janelas da minha alma...
É como se elas fossem pássaros
- E Mario Quintana me perdoe por eu roubar parte de sua metáfora -,
Belíssimas em seu vôo, tão livres, tão plenas,
Tão cheias duma naturalidade...
Tão livres das minhas mãos!
Mas quem não desejou, ao menos uma vez,
Ter um pássaro delicadamente repousado entre os dedos,
Símbolo de uma liberdade não aprisionada, mas conquistada
Através de uma [in]explicável confiança
Criada entre o indivíduo e a Natureza?

Minha incapacidade... que as Musas, n'alguma hora mais apropriada, se compadeçam de mim e venham me salvar...

terça-feira, 21 de julho de 2009

Há quem, talvez, não acredite.




Antes eu sabia de Deus, mas não sabia como me encontrar com Ele. Ele se me figurava mui nebulosamente; sei lá. Ele fazia parte da minha criação católica, apenas.
Passei por um período muito estranho, então. Cheguei mesmo à beira da negação, da descrença no divino. Como se Ele não fizesse muito sentido. Então tudo escureceu, passei a simplesmente existir - quase negar Deus me fez quase negar a vida.
Cansada da escuridão, lancei-me a um inexplicável panteísmo, carente de firmeza, tão nebuloso quanto a visão de outrora... O que me rendeu certos olhares de repreensão. Não me importei. Eu buscava o meu Deus em tudo que fazia parte do dia-a-dia, eu precisava me alentar, de alguma forma. Mas não parecia o suficiente - eu voltei a ter consciência d'Ele, mas não conseguia d'Ele me aproximar.
Então, num dia ocioso de um Julho remoto, eu entrei numa casa antiga, simples, em que se rezava com os braços em movimento, em que me diziam que Deus está em tudo porque tudo é vivo, e tudo o que é vivo tem Deus. Disseram-me que não havia nada que mais me aproximaria de Deus do que o serviço, o trabalho, o bom humor, a alegria, o amor. Fizeram-me entender o que queria dizer o 'conhece-te a ti mesmo, e conhecerás os Deuses e o Universo'. Ensinaram-me sobre o concreto e o sublime, sobre a alma, seus mistérios e encantos. Ensinaram-me que este mundo não é o que há de perfeito, e que eu não preciso me mortificar de culpa cristã por não ser perfeita. Os ensinamentos não cessam... Tanta coisa aprendi, e tanta coisa ainda há a ser aprendida!
Mas o fundamental... Ah! O tormento fundamental, este já está solucionado. Eu finalmente encontrei Deus. Disseram-me que eu não precisava procurar Deus apenas do lado de fora, porque havia Deus em tudo e havia Deus dentro de mim - e isso me basta para querer continuar nessa incrível existência, a qual podemos coroar, por nossas próprias mãos, com o maravilhoso milagre da Vida.

sábado, 18 de julho de 2009

!


Se eu ainda estivesse propensa a viver em um mundo de fantasias surreais, de sonhos não tangíveis... Se eu não houvesse adquirido o meu mínimo de instrução, suficiente para que eu comece a enxergar que não vale a pena viver um ilusório jogo de falsas verdades e imensas mentiras... Se eu não tivesse mudado, profunda e concretamente, com certeza eu ainda alimentaria certos erros, aqueles que crescem silenciosamente, sem que possamos perceber, e que acaba por nos engolir em furor de criatura irracional.
Eu insistiria em criar um mundo teatral, cheio de dramas, de tristezas inexplicáveis, de problemas insolúveis, de tragédias docemente lavadas por sangue e lágrimas. Eu me levaria novamente aos extremos da dor, eu me lançaria novamente aos abismos da passionalidade. Eu perderia, completamente, o balanço entre razão e sentimento - o equilíbrio fundamental.
Nesse meu mundo teatral, eu não deixaria que entrassem os olhos claros dos sonhos possíveis, os corpos brilhantes com cheiros macios que chamam à dureza firme e lúcida da realidade. Eu ainda seria paciente para ver desfilar, em seu grandioso e reluzente manto de ilusão, aquele que tem perfume de lembrança inquieta, que não se sustenta com o passado; eu me permitira construir um pedestal ainda mais suntuoso para aquele que, com delicadas mãos, dilacerou meus sonhos e meu coração. Mas não. A isso eu não mais me permito.
Se eu ainda navegasse pelas águas do passado, certamente eu quereria nelas me afogar, para criar um impasse que me deixaria entre vida e morte, extremismo tão fútil e desnecessário. A vida já é uma guerra suficientemente grande para que queiramos criar batalhas vãs.
Eu mudei, profunda e concretamente. Meus sonhos e fantasias já não são fundamentados em vícios, em temas escuros e difusos. Eu ainda sonho, mas sonho mais alto, sonho mais profunda e calmamente, sonho sem desespero, sonho sem dor. Sonho objetivamente, com amor verdadeiro, com um Ideal tranquilo de se amar, que abrange todas as possíveis necessidades do Eu mais profundo. Eu não preciso mais criar um mundo para me refugiar da realidade. Estou aprendendo a fazer da realidade o meu mundo, repleto de aventuras que me façam ir além, que me façam construir algo sutil porém concreto, doce, cheio de um significado profundo e simples, leve e válido para todos aqueles que queiram partilhar comigo essas aventuras.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mais um dia.

Meu corpo fatigado arrasta-se cidade afora, consolado apenas pela leve brisa de uma chuva que se anuncia e nunca aparece. A noite vem alta, implacável, para acentuar ainda mais o cansaço que me pesa terrivelmente os braços, as pernas, a cabeça. Sinto como se meu corpo fosse se desfazendo, se desmanchando, deixando seus pequenos pedaços pela calçada. Nem mesmo a bela e brilhante lua crescente me serve de apoio - eu preciso, insanamente, descansar.

Chego em casa e nada melhora. Percebo que meu cansaço não é apenas físico - minha mente também está exaurida de suas forças. Os pensamentos circulares, as mil e uma tarefas a serem executadas, todas as preocupações e paranoias do cotidiano... Tudo isso me deposita silenciosamente terríveis cargas imaginárias nos ombros, as quais pesam tanto quanto cargas verdadeiras.

A irresponsabilidade é um ingrediente a mais - significativo, decerto - no indigesto banquete que preparei para me servir da vida. Sei das culpas e pecados que o meu total descompromisso com a vida pode gerar. Eu simplesmente não sei como me importar, no entanto.

Vergonha. Sinto uma vergonha constante de tudo ao meu redor. Como se todo o mundo me fosse engolir, castigo para o crime da minha incompreensão para com tudo. Meus erros baseiam-se nos preconceitos, nos desvarios e no mau-comportamento. Não, eu não sei me portar decentemente. Todos os meus gestos são exagerados e errôneos, sou uma desajeitada a derrubar todos os finos cristais das verdades existenciais, a me enrolar nos ardilosos fios das furtivas mentiras e dos grandes vícios. Tudo perde o sentido em minhas mãos destrutivas. E por mais que eu saiba de tudo isso, eu afirmo sem medo de ser dissimulada: não é intencional. Eu nunca quis prejudicar qualquer aspecto da minha vida, ou de qualquer outro ser. Mas as coisas desandam, desacontecem quando eu estou por perto.

E sei que minha auto-depreciação vem, em grande parte, desse cansaço físico, mental e espiritual pelo qual estou passando, com tantas perdas e danos. A falta de qualquer significado para a minha existência faz crescer o meu desânimo, como se respirar fosse um imenso fardo. Mas eu ainda sou suficientemente covarde [ou, talvez debalde, esperançosa], e quero continuar viva, e morro de medo da morte. Morro de medo da morte.

Hoje a minha simulação de morte alimentou uma incongruente neurose. Senti a morte espreitanto-me mui delicadamente na situação cômica do dia-a-dia, arrepio frio e macabro onde deveria haver apenas um calor de vida despreocupada. O cansaço está, realmente, destruindo as minhas mais variadas formas de defesa.

Talvez eu esteja mesmo me fragilizando, adquirindo aquilo que um dia clamei tão desesperada aos céus. Mas estou obtendo êxitos incompletos: onde está o alguém que me deveria oferecer todos os cuidados de corpo e alma, para que eu finalmente possa descansar ainda em vida? Mais um aspecto torto, desandado nessa minha estranha existência. Peço uma enfermidade, veja que loucura. Enferma, padeço uma vez mais pelos meus erros, pela minha irracionalidade, e não há um alguém que me afague os cabelos delicadamente e me diga que a tormenta, por mais eterna que pareça, um dia há de acabar. Eu não consigo acreditar que esse meu constante horror acabará. Mas sei que não posso continuar nesse ciclo vicioso, que é deveras destrutivo. Quando hei de encontrar a solução para esse festival de estranhezas malignas?

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Com todo o orgulho dos nefelibatas.

[Ou 'O meu quase desejo de ser tão simbolista quanto os simbolistas'.]



A tarde púrpura findou-se, mas me presenteou com uma lua quase cheia, muito perfeitamente inserida no coração da noite azul-amarelada. Lua hipnótica, de uma solidão triste e resignada. Tão branca, quase prateada, fria e acolhedora. Tão fria como os últimos dias. Tão acolhedora quanto os braços de um sonho.

Os dias andam estranhos. As manhãs são geladas, insensíveis; as tardes esquentam-se e nos esquentam terrivelmente. À medida que a noite vai chegando, a temperatura começa a cair, paulatinamente. Assim que o sol se despede, a noite vem nos cobrir com gélido manto.

~

A noite vem caindo...

25°C. A luz prateada do sol de inverno ainda inundava as nuvens muito brancas. Trazia-me uma nostálgica sensação de paz perdida e apenas lembrada, jamais reconquistada.

23°C. Voltando de meu abrigo árcade forjado, entro novamente na cidade maldita. Os sons do tráfego começam a me afetar de maneira descomunal, a ponto de me fazerem gritar em pensamento o tão almejado ideal: "Fugere urbem!". Sonho poder um dia viver como uma pastora. Nise ou Marília, assim me poderão chamar, e nada me tirará da absoluta harmonia que conseguirei construir. [Perdendo-me nos devaneios...]

21°C. Eu sei que posso sorrir... Tragar também o doce, não apenas o amargo. Um anjo me acompanha e me ajuda a afogar as dores e as angústias. Mas logo o anjo terá que cuidar de si, e a temperatura continuará a cair, e eu sei mais ou menos o que o frio me traz.

19°C. A solidão me recorda a tristeza que pela manhã eu queria cantar, essa tristeza que de vez em quando eu posso sufocar, mas que nunca morre.

- Hoje o dia foi bonito e alegre, hoje eu consegui fugir. Encontrei um descanso muito mais eficaz do que o sono. Mas não sei... minha mente ainda não me deixa sorrir larga e completamente.

Descobri que a minha felicidade depende também de um certo tipo de amor, e esse amor não existe para mim. Logo, por mais que tudo ao meu redor esteja correto, sempre há de faltar esse detalhe. Não é apenas comigo, eu sei. Mas a constatação me entristece, "nenhuma felicidade é completa". Descobri qual a lacuna que pulsará eternamente em seu completo vazio. Vazio que doi, e não me deixa sorrir larga e completamente.

17°C. Falarei, sim, sobre a tristeza matinal. Devo cantá-la, por mais terrível que ela seja. Sinto-me repugnante por ter pensado tal coisa, mas eu preciso ser sincera comigo mesma. Expor esse desejo e ficar sujeita aos julgamentos externos me permitirá experimentar uma possível redenção. O pensamento que me envenenou a vitalidade e a dignidade foi o seguinte:

• Às vezes eu costumo pedir secretamente aos deuses que me tirem a saúde, de maneira temporária. Que não me matem, por favor, já que eu creio ainda ter esperanças de fazer minha vida ser honrada ou, no mínimo, útil. Mas é que sinto um cansaço tão profundo... Então preciso de uma desculpa para abandonar a rotina estafante e cuidar de meu corpo e minha alma. Talvez uma crise asmática forte... Por algumas semanas, um mês ou dois. Mas deveria ser-me receitada uma viagem a algum lugar de grandes altitudes, para que eu tivesse 'alívio no peso que sentia em minha respiração'. E ninguém entende! E o peso que sinto em meu coração? Por que ninguém me receita uma viagem para algum lugar lindo e distante, para que eu possa descansar completamente, sentir o vigor da natureza devolver-me a respiração dos pulmões e da alma? Sentir o vento, a brisa e a névoa, tudo isso que nos carrega em invisíveis correntes, que nos fazem querer alçar voo, sensação essencial para quem quer voltar a sonhar... E ter alguém que cuidasse de mim, não mais me sentir tão sozinha. Ser forte assim, o tempo todo, está me deixando cada vez mais fraca. Ser sozinha assim, de maneira que não posso externar o que há de profundo em mim para ninguém, não me é tão grato quanto parecia ser. Deixe-me ser frágil e delicada, pelo menos um pouco... É o que eu peço aos deuses, com a voz de um extremo desespero, com a certeza de um impossível retorno.

[...]


A madrugada chegará aos 10°C. Dormirei, e só não vou congelar porque com certeza sonharei, ainda que involuntariamente.
Sinos, véus, brisas, lírios... Meu orgulho de nefelibata, e que se danem os parnasianos.
Fugere urbem et carpe diem. Meu anseio árcade, e que se danem os modernistas, futuristas, urbanos.
Lua cheia, lua nova. Há de Amanhecer, de uma forma ou de outra.
Minha salvação contemporânea, e que se danem os conservadores pseudo-eruditos.

Eu não sei me encontrar em minhas sensações e palavras, e isso é tudo o que eu posso afirmar.
Eu estou vivendo. Talvez isso seja algo meio certo.
Estou aceitando palpites de quem imagina o que possa estar acontecendo, exatamente, comigo.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

"Even the bricks are cold."









Eu havia publicado o texto, mas desisti. Não há por que fazer isso comigo mesma. Eu já me sinto suficientemente ridícula.















- I feel ashamed. But there's nothing I can do.





[]~

sábado, 9 de maio de 2009

In the cold light of morning.



Às vezes algumas coisas cotidianas me pegam desprevenida. Surpreendem-me de tal forma que fico atordoada – como a rotina, a cinzenta e monótona rotina, pode ter seus instantes de magia? [Fica aqui a minha esperança subentendida – tão difícil conquistá-la!]
Ainda que as ruas da minha cidade pareçam o ambiente mais inóspito para que tesouros floresçam, minha caminhada por elas acaba me revelando alguns desses simples tesouros...
Sempre há uma cor diferente, criada pela luz dourada de uma manhã quente, ou pela atmosfera azulada da manhã fria. Alguma furtiva brisa, tentando me ensinar a tirar os pés do chão, acalentando o meu cansaço. Alguma estrela perdida, surgida no final da tarde, apressada demais para esperar a noite chegar – ansiosa por mostrar seu brilho.
Ou há alguma flor amarela pendendo de um muro inexplicavelmente não-estéril. Algum arbusto verde lançando seus galhos ao céu, comunicando-se com a luz e o infinito, ensinando como alcançar a verdadeira sabedoria. Ou os morros, que sobem indefinidamente, escondendo horizontes que nos convidam a aventuras, imaginárias ou não.
Ou há o olhar de uma criança, interrogador, curioso, vivo, me encarando. Uma hipnose, praticamente. A pureza da criança me pedindo que eu a explique o que é aquele mundo que ela vê. E a única coisa que posso fazer é sorrir – e, assim, tentar dizer a ela sobre o que há de mais sublime nesse lugar tão estranho, tão cheio de mistérios e significados misturados.
É que eu sou persistente, embora não pareça. Ainda não desisti de encontrar a poesia do cotidiano, de entender nas entrelinhas da vida os seus verdadeiros encantos. Não parei de buscar a beleza de estar viva, apesar de um ou outro sentimento me incitar a desistir de tudo. Apesar de todas as máculas, de todas as dores, de todas as dúvidas e confusões, os instantes de magia que a rotina esconde – mas, felizmente, por vezes revela – não me permitem virar as costas para o mais supremo tesouro, para a mais generosa dádiva: a vida.