quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Words.




Amo as pessoas organicamente incapazes para a maldade. Elas têm qualquer coisa de excessivamente inocentes, totalmente desprovidas de malícia... E é bom tê-las por perto. São como um filtro para toda a perversidade mental que possuímos, voluntária e involuntariamente.

***

E me disseram, outro dia, que saber lidar com as palavras é algo admirável. Só agora veio-me o insight que me permitiu entender o porquê - por mais que eu lide diretamente e diariamente com as palavras. Por mais que eu as tenha como íntimas amigas, e como úteis armas. Agora eu entendi o porquê, e não gostei muito de minha via de entendimento - porque eu apenas as tenho usado como armas, quando as uso. Há tempos elas deixaram de me serem amigas. Estou cansada de estar sempre no ataque, e sem defesa alguma.

***

Eu me lembro perfeitamente de como estava me sentindo há exatamente um ano, com toda essa expectativa de que o ano acabe e o novo ciclo traga dias melhores e mais brilhantes. Hoje eu sei que as expectativas de nada adiantam se não houver atitudes concretas que as possibilitem serem reais. Sobre as minhas realizações, prefiro deixar tal tema em aberto, aqui. Minhas reflexões seriam longuíssimas e tristíssimas, dado meu atual estado de espírito.

***

Acho que não estou muito bem, mesmo. Por isso estou escrevendo - minhas palavras para atacar o mundo. Só porque não sei fazer escudos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Um pouco de otimismo, inesperadamente.





Não há por que sofrer.

A vida é toda, toda assim. Os caminhos pelos quais passamos nos pedem, a toda hora, que façamos escolhas. Neste exato momento, todos estão fazendo escolhas. Inclusive eu, que escolhi escrever - ao invés de cumprir com outras tarefas - para te dizer que não, não há por que sofrer.

Observe a imagem. "Exclusivo para armazenamento de desistências". Você consegue imaginar o seu próprio pacote de armazenamento de desistências? Eu posso imaginar o meu. Ele é um tanto quanto grande, maior do que eu gostaria que fosse. Lá dentro tem alguns sonhos, muitos, muitos planos, várias elucubrações despropositadas... Livros a escrever - e a ler -, amores a concretizar, lugares a visitar, línguas a aprender, sabores a experimentar, filmes a ver... Estão todas lá. Por uma escolha minha, elas foram parar lá. Infelizmente ou felizmente, elas foram relegados para um plano que sequer é segundo - estão perdidas em alguma longínqua denominação ordinal.

Mas eu escolhi isso. Eu escolhi desistir, não pude sustentá-las. Mas não há por que sofrer pelas coisas não serem como gostaríamos que elas fossem. O tempo corre, o mundo gira, as pessoas nascem, crescem e morrem, as pessoas choram, as pessoas amam, as pessoas brigam, as pessoas riem. E tudo isso acontece independentemente de nossa vontade, na maior parte das vezes. Temos que cumprir com nosso papel para que as coisas que dependem de nós, à nossa volta, estejam em harmonia... Mas elas nunca estarão em paz. Conforme-se com isso e esteja preparada para lutar, sempre.

Não se martirize se você teve que acrescentar um item a mais no seu pacote de desistências, querida. Não se culpe, mesmo que você tenha feito de tudo para que esse item não se lançasse, voluntária e incontrolavelmente, ao seu pacote. Não sofra porque esse algo resolveu esconder-se em um fundo eternamente inacessível deste estoque. E, principalmente, não sofra se você acabar se esquecendo desse item. Ele escapou para sempre do seu pacote, da sua memória, da sua vida. Mas algumas coisas são assim, pensamos que elas são eternas - na verdade, elas duram o tempo que têm que durar. O tempo justo.

Não fique tentando se lembrar do que deve ser esquecido. Resolva todas as pendências, ao invés de ficar se torturando mentalmente - tenha a audácia de fazer essa escolha. Tenha a audácia de escolher não resolver tudo agora, também. E, quando sobrar um tempo livre, não mergulhe na parte sombria de você mesma, procurando coisas que vão te trazer dor. Vá lá no pacote de armazenamento de desistências e tente resgatar algo que seja realmente construtivo. Se quiser uma dica, pegue um item que a maioria das pessoas possuem em seus pacotes: ânimo para organizar a vida. Trabalhe muito com ele, não desista dele de novo. Quando ele se tornar algo real, você perceberá que seu pacote raramente terá itens novos, e os itens antigos - ainda recuperáveis - pouco a pouco serão retirados daquele tristonho depósito.




- Uma carta para alguém querido, ou para todo mundo. :*

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

And so... [2]




As coisas são mesmo instáveis - e isso é bom, de certa forma.

Now it's the time to reborn. Or to make it reborn.

~ Engraçado como as pessoas que mais amamos são aquelas que mais facilmente conseguimos ferir. Felizmente, também são aquelas que mais nos compreendem.

Desculpas não costumam ser muito sinceras. É preciso que se reconheça o erro quando se passa pela dor. Não existe culpa. Existe aprendizado.

Por isso eu não te peço desculpas, eu te peço amor, que é uma forma de compreender.
Compreender é uma forma de amar, também...


De qualquer forma, estamos aí. To make it reborn.




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domingo, 29 de agosto de 2010

Alta noite já se ia...

E talvez seja cedo demais para eu dizer, "quero respirar profundamente em cada segundo dessa madrugada o ar que dói intenso no peito, e que eleva a não sei que mundo o meu pensamento".

Não sei se conseguirei permanecer acordada por muito tempo, porque meu corpo se deleita com o sono; mas gostaria de poder viver essa madrugada quente, poder entregar-me às queridas sensações que essa atmosfera me faz recordar [e não sei bem de quê me recordo, mas sei que isso me preenche as emoções com uma euforia estranha].

Queria brindar essas horas com as mais doces músicas, com os filmes mais arrebatadores, com sabores e perfumes, e com uma certa presença...

Ora, eu adoro as sensações, e sei muito bem o quanto elas são terrivelmente perigosas. Mas não estou me preocupando com isso agora - essa é a minha derrota de hoje. Fui bem forte nos últimos tempos, hoje eu fui vencida por mim... E que as sensações imperem em cada arrepio, em cada estranheza, em cada suspiro.

[...]

Acho a maior graça nisso tudo, na verdade. Estou com uma profunda vontade de rir da vida. Parem de tentar adivinhar as coisas... Se fosse necessário que soubessem, a vida os faria saber.

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"Everything will be fine... Hearts will hold." - Obrigada.

sábado, 28 de agosto de 2010

I guess I'll keep on dreaming;



Gosto dos dias de muita luz, céu puramente azul, desprovido de nuvens. As cores vibram mais intensas em meus olhos, toda brisa leve é um conforto divino, e o calor abraça a cidade como se quisesse secar todas as lágrimas que porventura pudessem brotar nos olhos cansados das pessoas. Não é permitido haver tristeza em dias assim... Se até as folhas dançam ao vento, por que não haveríamos nós de dançar, cantar e, assim, homenagear a Natureza? A beleza do dia nos convida a sermos naturais, a juntarmo-nos ao conjunto harmônico da Natureza. Para tal, basta-nos sorrir, ser capazes da generosidade, e buscar um estado de alegria contagiante. Assim eternizamos em nossos corações e mentes todo o frescor, toda a maravilha fácil e rara desses dias de sol... Desses dias em que o sol vem para mostrar-nos que também podemos ser iluminados, de todas as maneiras.

[...]

Gosto desses dias inteiramente quentes. A manhã e a tarde têm um calor reconfortante, preguiçoso, que arde calmo na pele e deixa o ar pesado no peito - uma dor boa. A noite quente é um convite a inúmeros pensamentos e quereres de sensações...
Creio que haja em minha memória uma lembrança muito boa, muito feliz, muito doce, dos dias e noites quentes... Algo que sequer me é nítido ou possível de reconhecer, mas meu inconsciente me diz que algo realmente muito importante, marcante, profundo ou intenso aconteceu em um dia assim, quente desse jeito - moderado e constante.

[...]

E parece que essas músicas que nunca ouvi me são profundamente nostálgicas, e esse perfume que me envolve, vagamente familiar, faz com que minha mente viaje em uma dimensão do tempo e do espaço que racionalmente ignoro. Hoje ignoro tudo, hoje apenas consigo sentir...

Hoje apenas consigo sentir.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

And so...






Though I really miss[ed?] you, I must confess, I need to say...
Things will never be the same.
Why am I trying to convince myself the opposite could be true?
Why am I pretending, hiding my feelings from you, from the whole world?
It's not possible anymore.

"This is our last goodbye..."

And I'm really, really sorry.

"But it's over..."

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Blue.







E agora a gente só vive do passado.
É estranho perceber como as coisas mudam,
E a gente nem dá conta de como isso acontece...
É triste ver como as coisas mudam.
Nem sempre a mudança traz coisas boas
- Mas sempre traz coisas necessárias.
Sim, hoje eu estou aborrecida.
Por vários, vários motivos...
Mas não faz sentido que eu os liste objetivamente.
Nada objetivo funciona comigo, na verdade.

sábado, 10 de julho de 2010

Pode ser, pode não ser.




Estou correndo sérios riscos.
De sentir a sua falta,
De chorar por sua causa,
De gritar a sua ausência
- A minha saudade -,
De não saber explicar...

Não saber explicar
Quem eu sou
Como eu sou
O que eu sou
E, nessa minha inabilidade,
Impedir que você me conheça
- Temos tão pouco tempo!

Estou correndo o sério risco
De deixar que o meu coração vá embora
Estrada afora
E de ficar ainda mais solitária.
E sei que vou mesmo sentir,
Chorar,
Gritar,
E sei que tudo isso será extremo,
Interminável, inimaginável...
Cheio de dor, certamente.

Talvez eu até morra completamente,
Talvez, talvez.
Mas, seguramente,
Uma parte de mim há de morrer,
A parte bela que se alimenta da sua presença.
A parte bela que se alegra por ter você.

E assim eu fico, entre o mal dito e o maldito,
Tentando, com desespero,
Entender o que tudo isso quer dizer.

sábado, 26 de junho de 2010

Has the moon lost her memory?






E a palavra me sugeriu uma ideia um tanto quanto longínqua, mas perfeitamente clara, quase tangível. Necessito acreditar que essa ideia pertence ao meu futuro; será uma boa esperança. Sonho essa ideia já é.
[E não sei se revelo a palavra, porque não sei quem irá ler.]
[Como eu queria saber o que se passará no futuro!]

[...]

E a dúvida é cruel: será que eu devo sonhar e ter esperanças, mesmo? Será que não são coisas vãs, gasto inútil de energia e tempo? Estou oscilando entre o sim e o não, e nunca acho uma resposta exata. Não existe talvez, nesse caso.

[...]

E a lua é uma maldade com o meu coração, essa luz perfeitamente inserida na escuridão noturna. Lembra-me vagamente algo que eu não quero especificar... Mas que está intrinsecamente ligado a mim.

A noite escura, a noite vazia... Vazia de muitas coisas. Mas que ainda tem uma luz, para lembrar que o dia há de voltar. E eu espero pela volta do dia, e espero sozinha. E sozinha estarei quando o sol despontar, e sozinha contemplarei o sol sumindo, a noite chegando, e essa sucessão de certa forma eterna me lembrará, de certa forma, que estou eternamente sozinha.

[...]

Porque eu estou tão reticente? Porque eu espero que as pessoas queiram adivinhar as entrelinhas das minhas palavras? Isso não é interessante. Mas tudo bem. Eu só preciso registrar esses meus pensamentos... Quem quiser lê-los, que se sinta à vontade. Quem quiser me perguntar sobre, eu também não me importo... Só não espere uma resposta objetiva.

[...]

Sonhar é bom, bom demais. Mas sonhar apenas já não está me satisfazendo. Eu ando precisando de muito mais do que sonhos. Ando precisando viver poesia. Isso não é muito difícil, eu creio... Só é necessário que as pessoas certas estejam na minha vida. Certas não - específicas. Não sei se o que eu quero é a coisa mais certa... Mas é o que eu quero, e não creio que seja necessário qualquer julgamento.

Eu vou guardar umas certas palavras, que um certo alguém me enviou, sobre o sonho. Guardo pra mim porque sou um tanto egoísta mesmo. São palavras belas, que me ajudaram deveras. Quando a situação não for mais constrangedora, eu até posso divulgá-las... Mas talvez não seja a hora certa. E talvez a hora certa nunca chegue.

[...]

Ainda me preocupo muito com o julgamento externo, como se já não bastasse a minha consciência implacável me lembrando das minhas inúmeras falhas.

Só não quero que me compreendam mal, mas muitas pessoas assim o fazem. Sei que o problema está comigo. Mas ele insiste em não me largar. Qualquer dia eu tomarei uma atitude mais enérgica em relação a isso.

[...]

É que eu não tenho culpa das prioridades automáticas que meu coração e minha mente estabelecem. Mas eu vou mudar, porque eu quero. E eu vou parar de reclamar, totalmente... Já consegui diminuir drasticamente o pessimismo da minha vida com os meus esforços até agora. Não vou parar, essa mudança é bem positiva.

[...]

'Nostalgia' é uma palavra que sempre me agradou - agora ela me inunda.

'Melífluo' é uma palavra que me chamou a atenção há pouco tempo, e já constitui o léxico das palavras que certamente definem os meus sonhos.

Ainda que 'inefável' seja uma palavra que também pertence a esse conjunto.

Ah, as palavras... Elas me encantam. Acho que estou no caminho certo, então. Quero palavras me rodeando, me encantando e assustando, me despertando e entorpecendo, me incomodando e me acalmando... Até o fim dos meus dias.

[...]

Vai ficar tudo bem, porque sempre vale a pena. Sempre vale. Não existe nada inútil ou casual. Eu acredito nisso.



E fim!

domingo, 20 de junho de 2010

P.S.





É incrível poder perceber que não preciso de muito para ser feliz. E a questão não é contentar-se com pouco, mas sim não sofrer por utopias.

São as palavras. Não as palavras vazias. São aquelas que encerram sentimentos em si e, quando lidas, são capazes de fazer com que o destinatário sinta perfeitmanete aquilo que o remetente pretendia. Essas palavras me fazem feliz, porque encurtam distâncias, põem corações em sintonia, reduzem um pouco a saudade e me transmitem amor - o amor de que preciso para saber que não sou sozinha.

E se a utopia é algo impossível, ainda tenho meus sonhos de fazer com que dor alguma exista - e vou alimentando tais sonhos com as doses homeopáticas de felicidade. Dentro das possibilidades reais consigo projetar meus sonhos e, assim, evito uma dor a mais: desejar algo fora do meu alcance.

Contento-me com o possível mas não ignoro minha capacidade de mudar meu destino - por isso sonho. Mas só consigo alimentar esses sonhos porque tenho suas palavras. Só quero ainda a plenitude... Feliz eu já sou.












Para a minha querida Tia Chö, também conhecida como Ana Carolina. :) [http://ovortice.wordpress.com/]

domingo, 13 de junho de 2010

In the cold heart of the night;


[Quando a noite é fria, as sensações são claras, sensíveis, e as palavras não podem ser contidas.]




"Os tristes acham que os ventos gemem; os alegres acham que eles cantam." Zalkind Piatigorsky

Hoje o vento está gemendo, passando pelas frestas da minha janela, me enregelando o corpo até os ossos, quase até o coração. O frio me domina de fora pra dentro, mas conservo em mim uma chama que não me deixa congelar por completo. Difícil, decerto.
E talvez eu esteja triste, ou esteja apenas com vontade de escrever... E deixar que a minha pequenina musa cante um pouquinho, para que eu me livre, de alguma forma, do verdadeiro aborrecimento que está preso em minha garganta.
E sei que esse não deveria ser o intento da minha [suposta] arte, mas descobri que para mim não tem jeito. Eu só sei escrever para me libertar do que me oprime. Isso é positivo, de alguma forma...
Ou não, né?

[...]

“Sou uma mulher de detalhes fortes nos músculos do coração. Viver não é apenas estar aqui bebendo a água ou tocando o fogo. Viver pode ser alguma coisa a mais, além dessa exatidão humana. Por isso denuncio minha alma: ela tem desvios. Não é perecível nem inadulterável. Parece oca quando choro” Mirian Freitas

Escrevo...
Escrevo a dor dos meus dias e a certeza de um novo amanhã.
Certeza um tanto incerta.
Com meu coração esmagado entre os dedos gélidos tento me tornar menos vazia, ou melhor, menos sombria. Lembro-me que sempre fui assim: poesia e escuridão. Nada estava diferente.
As palavras só davam seqüência a aquele ciclo que havia sido certamente interrompido.
Não me adianta gritar para libertar-me, ninguém me ouviria. Tudo está longe... o meu tudo está longe... nas entranhas do tempo.

[...]

Sempre fui assim, poesia e escuridão. A luz foi eclipsada pela passagem dos dias sombrios, a necessidade de sol sempre foi apenas uma esperança. Então a escrita foi o caminho que encontrei para tentar buscar calor, sonhos e ideais, ou para romper a distância que há entre mim e o meu tudo, ou para esquecer a vida pequena, sonhar com a distante grandeza da vida. A distância é fria e vazia - como essa noite gélida, onde tudo é solidão... Onde tudo o que eu quero é sonhar, sendo que isso é o que menos consigo.

[...]

Acho que não sei sonhar. Meus instantes sempre ficam ali, na cama, imóveis.
Luto por um descanso da alma e o máximo que consigo é matar as esperanças que eu tinha nas mãos.
Meu silêncio não se acalma, minha alma não dorme, não se encontra.

Repito: estou só, e com frio. Me sinto oca, com medo e sem fé. Sem fé em mim.
Queria entender a inutilidade desses meus últimos dias, mas mesmo abalada pelo frio minhas razões não me deixam só. Prossigo, amargurada, com esse vazio da minha própria existência.

[...]

Razão e vazio. Não, não é disso que eu preciso. Preciso de emoção que me preencha completamente a vida, que me transborde, que me recorde a vida que eu nunca tive, mas que de alguma forma está guardada na minha memória. Tenho aquela estranha saudade de algo que nunca aconteceu...

Um sentimento específico, na verdade. Eu preciso me recordar de que eu sou capaz de um certo sentimento. Porque a sensação é a de impossibilidade total de sentir, e me parece que toda a vida fui assim, mas sei que algo em mim entende o que quero. Talvez eu sonhe com o impossível... E é a falta de fé que me faz acreditar que haja algo impossível.

[...]

Não preciso falar de esperanças, elas não cabem nesse momento.
Disso eu me recordo.
As dores que sinto hoje são nostalgias do ontem. São notas perdidas na canção que fiz para você. Melodia rara de um coração ainda puro, sem marcas.
Meu futuro é incerto, sem promessas ou encantos programados.
Talvez eu só queira a paz para viver sozinha, descobrir essa minha essência indecifrável.

Renunciei a mim mesma por um alguém e agora meu choro e meu silêncio dizem que sou infeliz.
Hoje me sinto velha, amargurada, pedinte. A beira de um abismo, longe da vida.

[...]



Velhinha

Florbela Espanca


Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente para mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim:
"Já ela é velha! Como o tempo passa!..."

Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio de oiro que esvoaça!
Deixem correr a vida até ao fim!

Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente...
Já murmuro orações... falo sozinha...

E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente,
Como se fosse um bando de netinhos...


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Por M. Peixoto e A. Mazzoni.



sábado, 5 de junho de 2010

Fragile.

'cause the love you used to feel is still there, inside,
It may be a faded photograph, but I know you care
- So don't hide...
If you're scared, I'm here beside you,
If you get lost I'm here to guide you,
And I'll give you peace when peace is fragile...
Love is all the good in you,
Love is peace when peace is fragile.

If you're scared, I'm here beside you,
If you get lost I'm here to guide you,
And I'll give you peace when peace is fragile...

[...]

I said, baby, don't worry,
Life will carry,
Just take it slowly.



[I know you're broken...]



Vai ficar tudo bem. Eu prometo.

Mas a vida...

...é uma caixinha de surpresas.

E eu estou cansada dessas botas com salto gigante.
E desses livros, essas páginas intermináveis, que têm me dado sono, e apenas sono - assim como a vida, ela só tem me dado sono.
Porque as botas, os livros, a vida, tudo tem me cansado de tal maneira que eu não sei como reagir, e eu não tenho do que descansar - não fisicamente.
Minha alma está cansada. Ela está cansada do meu corpo, dos meus sentires - a minha alma precisa descansar de mim. Aliás, eu preciso descansar de mim.
Algum tempo... Tempo suficiente, no qual eu aprenderia como lidar com esses detalhes [sórdidos] da vida. Ou, pelo menos, tempo para que eu esquecesse. Para que eu esquecesse a minha tristeza. Para que eu esquecesse que as minhas emoções boas gritam por serem ressuscitadas, e eu simplesmente não consigo fazer nada por elas. Por elas, por mim. Eu não consigo.

"O milagre que eu esperei nunca me aconteceu."

É essa a surpresa que eu estou esperando da vida, o meu milagre. Mas quando a gente espera não é surpresa, quando a gente não tem fé o milagre não acontece.

[...]

Eu quero desistir das ilusões, dos falsos sentimentos. Eu não sinto, preciso parar de fingir que aqui dentro algo ainda funciona. Tudo está morto, ainda está em seu profundo inverno - adormecido. Latente. Talvez fique assim por um tempo, ainda. Talvez fique assim para sempre.

Eu estou lutando para criar esperanças. Luta árdua e ingrata, essa. Não faz o menor sentido.

Esses ciclos de euforia e melancolia, isso não me faz bem. Isso está me destruindo.

[...]


Por que tem horas que viver é difícil por demais?
Era pra ser mais simples.
Simplicidade.
Eis o que eu mais quero e preciso no momento.

E alegria. E que o frio externo acabe, para que o frio interno pare de se intensificar. Ou calor, calor que me esquente internamente - é só o que eu quero.

Mentira. Eu quero muitas, muitas coisas. Surpresas e milagres.

Quero que a água volte, quero a casa arrumada, quero receber meus amigos, quero sair para me divertir...

Não quero só isso. Essas são as minhas expectativas. Querer... eu quero muito mais. Tenho muitos sonhos.

Mas meus sonhos por enquanto são apenas isso - sonhos. Distantes da realidade. Porque me falta coragem. Porque, talvez, não seja necessário que eles aconteçam agora. Talvez porque seja a minha hora de aprender com a "dureza" da vida. Talvez porque, agora, eu realmente tenha que aprender a ser forte...

Mas eu não ando conseguindo isso. Desculpe-me, quem quer que seja responsável pelo andamento da minha existência.

Enfim, algo eu consegui. Escrever. Só assim eu vou me entendendo. Só assim eu consigo fingir que está tudo bem, e que vai ficar tudo bem.


Boas noites. :*

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Por Amanda Mazzoni.

A METADE QUE FALTAVA

Primeiro contato:

_Mudo.

Na aproximação, o afeto

No olhar, o amor

Em um teatro mágico,

do Dia-a-dia:

_Só para raros.

Na poesia,

O encontro de almas

Na realidade,

Uma outra metade:

A metade que faltava.













Muito obrigada. (L)

sábado, 15 de maio de 2010

Nostalgia.

Os dias frios, eles trazem um vento cortante que, quando sopra, parece que nos atravessa com o fio de milhares de navalhas. A dor do frio é boa, o sangue quente flui pelas feridas da lembrança. O frio desfaz as cicatrizes de dores passadas. Há lembranças que doem, mas é uma dor que remete à vida.

Saudade dos tempos em que eu sentia meu coração vivo.
[Não que seja completamente sério. Eu só desaprendi a sentir.]

[...]

Vejo aquela boca purpúrea e sinto vontade de um beijo que sele completamente essa transição entre o passado e o futuro. Como se tudo o que passou finalmente pudesse ficar para trás. Mas esse é o beijo e o efeito que nunca vou conseguir, e o futuro está adiado por tempo indeterminado. Que assim seja. Amém.

[...]

Queria dizer sobre como os sentimentos florescem com dificuldade em um coração árido. Mas eles ainda florescem, e eu sou capaz de loucuras, e eu sou capaz de sutilezas - arrancadas com dificuldade da terra seca, mas não completamente infértil, do meu coração. Ainda sou capaz de um amor amigo, ainda sou capaz de cuidar das pessoas, ainda sou capaz de ter compaixão pela humanidade, ainda sou capaz de vibrar com a arte - mas esqueci de como me amar, e como amar alguém que me ame enquanto sua complementação. Todos são completos por conta própria, eu sinto - mas há pessoas que nos fazem ainda mais completos, que nos transbordam. Eu não encontrei, e não vou encontrar a pessoa que me transborda. Porque isso é algo mútuo, e eu ainda não aprendi a compartilhar esse sentimento. Eu ainda não aprendi muita coisa - ou apenas esqueci, e não consigo me lembrar de jeito nenhum.

[...]

A poesia tem poder de despertar corpos e almas. Há uma poesia que me despertou - me despertou a capacidade de fantasiar irrealidades. Que assim sejam: irreais, as minhas esperanças. Mas são esperanças verdadeiras, ainda que inverossímeis. Nem eu estou entendendo o que digo, porque "sentir é estar distraído" [A. Caeiro], e quando estamos distraídos não pensamos, "eu não sei falar porque estou a sentir" [A. Caeiro]. A poesia personificada me mostrou que eu ainda sei sonhar com o amor que atravessa muitas e muitas vidas - aquela que eu tanto quero encontrar, e que talvez não exista para mim. Mas eu não deixei de sonhar. Ainda bem.

[...]

A boca purpúrea e o rosto pálido cantaram, para mim, uma utopia. Que assim seja, utópico esse sentir. O amor é sempre utópico. Nada é como esperamos que seja - as expectativas nada são além de esperanças vãs. Quero um sentimento puro para permear minhas esperanças e pensamentos em relação àquele poeta que, eternamente, está gravado em mim. "Só enquanto eu respirar vou me lembrar de você..."

[...]

Meus dedos gelados, com o esmalte roído, digitam freneticamente as palavras que, arrancadas de mim, traduzem com dificuldade esse turbilhão de pensamentos que me acomete. Talvez, talvez, talvez... Talvez eu goste dessa confusão boa que o frio me traz. Talvez eu esteja recuperando o lirismo que há tanto tempo perdi. Talvez esse seja um bom passo para eu voltar a achar a felicidade. Escrever me faz feliz, de qualquer maneira.

[Mas parece que sempre terá algo faltando.]
[Eu sou uma eterna insatisfeita.]

[...]


Vai dar tudo certo, eu prometo. A todos vocês.
Acreditem, tudo vai ficar bem.
Apenas mantenham a calma,
Respirem fundo.
Os nossos tempos e sentimentos loucos
Pedem muita cautela, paciência e,
Acima de tudo,
Calma.

Sejam felizes, assim como eu estou tentando ser.
A busca é sempre mais prazerosa e proveitosa do que alcançar o objetivo,
Já nos ensinavam os nobres cavaleiros medievais.
Quem quiser ir à busca comigo, venha,
Será um prazer dividir essa aventura.




:*

quarta-feira, 12 de maio de 2010

[Só enquanto eu respirar vou me lembrar de você...] E é por isso que eu respiro.

Quando a escuridão é absoluta,
Um simples lampejo torna-se
Luz no fim do túnel - esperança.
Um negro sem fim engole-me; abissal, profundo,
Mas há lampejos estelares ao meu redor
- Por isso sei que não morri. Talvez eu esteja
Apenas caindo, devagar,
Espaço abaixo... Implacável.
Mas posso tentar voar
De volta à superfície. Posso
Recriar as minhas antigas asas
E traçar o caminho que quero
Para essa minha tão estranha vida
- E são aqueles lampejos estelares
Que me acordam os olhos
E alimentam sonhos e coração.
Por eles, e apenas por eles,
Tenho vivas e brilhantes esperanças
De esquecer o que é a queda,
De não lembrar mais da escuridão
E, finalmente, voltar a voar.





- Obrigada a vocês, minhas estrelas particulares. O abismo ainda não me capturou completamente porque vocês estão comigo.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Não precisa ler. Sério.

A noite com cheiro de fumaça me invade - corpo, alma, coração. Me sufoca, por dentro e por fora.
Não é necessário mais de meia dúzia de palavras sérias para que o mundo pareça ruim e cruel.
Não é necessário mais do que três minutos de imagens reais para o mundo parecer uma infinita barbárie.
Não é necessário mais do que um segundo de hesitação - logo caio na preguiça e durmo, e deixo coisas importantes para trás. Ou prendo-me em qualquer ilusão ainda mais inútil, e a minha sensação é a de querer fugir. Fugir da vida. Fugir da miséria cotidiana à qual voluntariamente me lanço.

[...]

Agora eu estou triste, e essa tristeza é uma conjuntura de fatores. Não há nada concreto para atribuir qualquer culpa. Culpa, culpa, culpa. Essa palavra é a que mais dói, é uma das mais tristes que existem.

[Nada disso precisava ser "real".]

E é engraçado como as coisas, os sentimentos, as sensações, tudo muda de lugar com muita facilidade. Não é assim com todo mundo, mas é assim comigo. Isso não me agrada nem um pouco.
Mas como é que eu vou me cobrar mudança, se eu só sei querer a perfeição impossível?

I need a change...

Eu queria, na verdade, umas férias de mim mesma. Acho que seria bom descansar de mim. Acho que seria bom fingir não precisar voltar à minha vida.

Acho que eu quero ir embora daqui.

Daqui onde? Não sei, especificamente. Talvez uma mudança simples já gerasse o efeito desejado. "Aqui" seria a rotina, "aqui" seria o dia-a-dia. Mas eu não mudo, não consigo mudar... Ainda.

Mas nenhum "ainda" cabe aqui agora, porque nenhuma esperança cabe aqui agora. E quem lê e se preocupa, esqueça disso. Não precisa se preocupar. Daqui a pouquíssimo eu estarei bem de novo. Mas é que agora eu estou triste, e só escrevendo eu consigo desafogar as sensações ruins.


Nem me julgue por isso, nem brigue comigo, nem me repreenda porque eu estou divulgando maus sentimentos. Todo mundo se sente assim em algum momento da vida. Eu só preciso compartilhar. That's it.


Beijos, sejam felizes, até mais :*

domingo, 18 de abril de 2010

Contando as novidades :)

Eu só estou postando porque faz muito tempo que não escrevo, e escrever me faz bem. É minha maneira de ser feliz.
Muitas coisas aconteceram, muitas coisas têm acontecido, e eu não posso me dizer triste. Graças aos deuses, não mais.
Agora eu estou em BH, na casa do meu tio, e o pessoal aqui é extremamente amável. É muito bom estar com pessoas que te tratam bem.
Tem bastantes coisas a respeito dessa excêntrica viagem no meio do período de aulas... Vamos às considerações primeiras, e depois cheguemos ao motivo principal.

[..]

Nossa, eu nunca tinha viajado sozinha. A sensação é bem esquisita. Dá uma sensação de liberdade e um vazio simultâneos... A paisagem de JF pra BH é muito muito bonita, parecia um verdadeiro quadro. Vi nuvens que pareciam formar um móbile, pela primeira vez as percebi nitidamente em três dimensões... Algumas pareciam montanhas de gelo, eram tão belas! Na terra havia umas certas elevações que pareciam braços verdes estendendo-se sobre a planície, tudo muito verde, tudo muito vivo; é um contato incomum com o mundo. Acabei por dormir durante a viagem, infelizmente, porque o meu encantamento e ansiedade estavam surtindo seus efeitos colaterais.

Viajar é algo que nos ajuda a expandir, literal e metaforicamente, os horizontes. Parece que conseguimos perceber as coisas de maneira muito mais ampla, parece que conseguimos abarcar com muito mais facilidade certos conceitos... É realmente benéfico. Espero que eu consiga viajar ainda muitas e muitas vezes, sem depender de nada nem de ninguém.

Acho que eu quero, mesmo, é essa sensação de crescimento e amadurecimento, que é assustadora e prazerosa. E quero muito VER o mundo. É tudo bonito demais para que não apreciemos.

[..]

E por que eu vim?
Caaaara, eu vim ver o Placebo.

[Sim, eu tirei essa foto do Brian Molko *-* ELE EXISTE, CARA!]
[Tirando certos problemas de ordem inexplicável que não permitiam que a maioria das fotos do Brian saíssem nítidas, e as do Stefen saíssem perfeitas, tudo deu certo.]

É uma coisa que ainda parece meio irreal, meio onírica... Fui no show da turnê do Battle for the Sun. Minha garganta ainda dói do tanto que gritei... Gritei desesperadamente, cantei desesperadamente, e a leveza que senti é inefável. Ouvir Special Needs e Soulmates, Never-ending why e For what it's worth... Nada paga. É uma sensação esquisitíssima, decerto, mas deixou uma nostalgia precoce. Eu mal posso esperar por ir num show tão magnífico como esse novamente. Mal posso esperar para ver meus sentimentos concretizados de novo. É como se eu tivesse certeza de que as coisas não são tão abstratas quanto pensamos. É que eu ando com uma necessidade séria de perceber a realidade das coisas, e essa experiência me ajudou muito. O Brian escreveu e cantou as músicas que muitas vezes me traduziram, e isso tem uma importância muito grande para mim, por mais que muito do que ele representa hoje pertença ao meu passado. Mas há certas coisas em nós que nunca morrem, porque nos compõem.

[..]

Eu pude não me importar com os meus problemas... Eu só consegui pensar nas pessoas as quais gosto, e que talvez quisessem compartilhar comigo aquele momento - tanto que gravei alguns vídeos com pedaços de músicas que me remetiam a essas pessoas. Nada de ruim me assombrou, nada triste me assolou... E essa é a melhor sensação do universo todo, de todo o universo mental e sentimental. Mas sei que a euforia passa, a alegria passa, e nós temos mesmo é que procurar pela felicidade real e perene. Mas eu não vou me preocupar com isso por enquanto...

[Por enquanto, não vou me preocupar com nada. Aliás, eu nunca mais quero me preocupar. Só vou me importar com o que realmente vale a pena - tentarei fazer isso, na verdade. Não há por que minha empreitada dar errado, eu acho. Eu espero.]

[...]

Esse final de semana foi mágico, renovador - voltarei para a rotina com muito mais coragem de encará-la. As coisas andavam bem difíceis, mas agora eu sei que a alegria não é tão impossível assim, e isso me motiva. Na verdade, eu não sei bem o que esperar do mundo e da vida, daqui pra frente. Mas não quero esperar mais nada, vou deixar que as coisas aconteçam, porque afinal nada depende das minhas expectativas.

Enfim.

[As expectativas estragam as emoções. Isso é um fato.]
[Estranha sensação de torpor, essa. Eu não estou podendo ouvir Placebo - dói.]
[A realidade podia ser bonita, assim, mais frequentemente x) (Como se isso não dependesse única e exclusivamente de mim...)]
[Enfim!]

[..]

Acho que eu nem cheguei a comentar sobre a faculdade, certo?
O meu curso é lindo, exatamente o que eu queria para a minha vida. Não há maiores considerações sobre isso... Nada é perfeito, mas o meu curso tem um grau satisfatório de quase-perfeição. E não me venham falar que logo eu irei odiá-lo, deixem-me ser feliz em paz.

E, ah, eu não vou continuar o "As cores". Há coisas mais importantes no momento... Mas eu não deixarei de escrever. Afinal, isso me faz feliz, e ser feliz é algo importante - e urgente. Quem sabe um dia, quando eu finalmente desbloquear a minha criatividade? [Mas será que isso é realmente necessário? Talvez nem seja.]

ENFIM.


Sejam felizes, voltem sempre! :*

segunda-feira, 1 de março de 2010

As cores [parte 2]

Sua vida resumia-se a uma eterna quebra de sonhos e expectativas.

Talvez isso a tenha feito perder-se no caminho da compreensão alheia, talvez isso a tenha confundido e desmanchado sua capacidade de ter pequenos sonhos, fazer pequenos planos. Não que ela vivesse sem projetos, mas a realidade concreta tornou-se um fardo – às vezes insustentável. Por isso às vezes fugia, por isso tentava mostrar-se através de detalhes excêntricos. Por isso as frustrações lhe eram tão terríveis, por isso seus sentimentos foram aguçados. Ela queria que o seu romantismo desse certo, ao menos uma vez. E essa vez não chegava, nunca.

O que não a impedia de ser otimista; ela, que por esse e vários outros motivos parecia ter um certo grau de insanidade. O que ela não entendia é que a sua interrogação tinha por companheira oculta, proporcionalmente inexplicável e imponente, uma esperança. Mas esta era menos perceptível à razão. A razão teimava em desesperar-se diante da interrogação. O que a salvava de perder-se era essa esperança, guia secreto através dos caminhos tortuosos. Talvez um dia ela se entenda o suficiente para considerar que não se perdeu completamente graças a algo que estava dentro dela, e não fora. Ela gosta de procurar soluções externas. Ela ainda precisa amadurecer...

Fora uma criança calma - até demais. Corria pouco, via muita televisão, principalmente as novelas que lhe roubavam o discernimento e a faziam acreditar em contos de fadas. Ainda assistia a muitos outros contos de fadas, e de maneira inconsciente tornava-se mais sentimental, passional – o que lhe trouxe uma sensibilidade importante. Tornou-se cuidadosa e gentil. Lia muitos livrinhos, com suas ilustrações fantásticas; gostava de rabiscar e colorir – sempre gostou muito das cores. Sua infância fora deveras fantasiosa.

Em contrapartida, teve uma adolescência rígida. Os contos de fadas não só se mostraram irreais como maléficos ao senso crítico que não aprendera a desenvolver, e que lhe era, então, extremamente cobrado. O primeiro beijo e a primeira vez foram um choque de realidade – uma realidade não-sonhada, com a qual ela não concordava, uma realidade que rompia com os seus sonhos mais puros. Mas ainda lia muito, e os livros não deixaram que a sua esperança morresse. Por mais que a “realidade dos fatos” fosse muito forte, não era o suficiente para fazê-la sucumbir à razão. Ela não aprendera a ser assim.

Tornou-se uma adulta internamente contraditória, e externamente decidida. Seus passos eram inseguros, mas nunca mal calculados. Era cuidadosa demais para permitir deslizar em coisas concretas. Bastavam-lhe os deslizes subjetivos que traziam os já citados conflitos. Sua vida prática era bem sucedida... Mas conservava, sentimentalmente, aquela adolescente que enlouquecia por não conseguir viver o que sonhava desde criança.

Foi morar sozinha para tentar espantar os resquícios da adolescência, mas os sentimentos e as sensações nunca mudavam. Eles estavam rigidamente consolidados em seu peito. Visitava os pais, os irmãos, e entre nostalgias descansava a mente e permitia-se ser menos séria em questões pragmáticas. Mas não, ela ainda não havia aprendido a viver levemente. Quem sabe quando conseguiria? Talvez só quando encontrasse respostas para a interrogação que ela mesma não compreendia. Isso parecia tão distante e irreal quanto os seus sonhos românticos.

E pintava as unhas para mostrar-se e esconder-se – isso era tão pueril! Mas parece que, por mais que ela lutasse, essa sua característica nunca haveria de abandoná-la. Tem raízes muito diversas e profundas, essa mania engraçada de não querer largar o sentimentalismo e suas representações.

Agora era, de certa forma, sozinha. Não sabia direito o que queria aprender com a solidão, que em partes era compulsória, mas tinha um peso de decisão. Sabia que precisava encarar as longas noites silenciosas, em que o sutil barulho do relógio por vezes a acalmava, e por vezes a amedrontava. Sabia que se controlasse seus impulsos de chorar, de ligar para conhecidos, de tentar apoiar-se em qualquer pessoa, seria finalmente forte o suficiente para manter o equilíbrio entre razão e emoção, tão almejado por ela – sempre tão impossível.

Mas nessa noite, o barulho do relógio foi cortado pelo grito estridente do telefone antigo, e um arrepio percorreu-lhe o corpo. Suas pernas ficaram pesadas, dormentes. A sua força seria posta à prova, e ela ainda não era forte o suficiente para encarar o que estava por vir. Mas apenas seu corpo recuou – ela, inexplicavelmente, não sentia medo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

[Uma pausa para dois desabafos.]

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1) A modernidade banalizou o sentimento.
As crianças não sabem o que dizem. Os adultos não escolhem o que têm que manter em segredo. É necessário o segredo para ser cortês com as pessoas e justo com os mais jovens. É necessário o comedimento para se entender realmente o que é importante e verdadeiro, antes de concretizá-lo em palavras. Por que ninguém entende o perigo das palavras vazias? Isso porque ainda não me interroguei sobre o risco das ações impensadas.

[...]

Um autor acha que pode colocar suas questões ridículas em mim e sair ileso só porque tem a defesa de ser renomado. Não. Ele me feriu com as suas palavras, mas eu tenho voz para condená-lo... Ele não sabe o que diz. Suas perguntas são tolas porque ele não tem padrão para fazer comparações. Ele tem uma visão voltada demais para os vícios do ser humano. Ele me irrita e me atrai, de certa forma... Como é esquisita essa relação com as ideias, principalmente com aquelas que nos inspiram sentimentos duplos.



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2)

Uma releitura de Pessoa, ao meu gosto e entendimento.

O poeta é um sonhador.
Sonha tão profundamente
Que chega a achar que é vida
O sonho que deveras mente.




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Em breve, talvez, a continuação de "As cores". A personagem anda perturbada demais para se manifestar sem ser injusta com os seus leitores.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

As cores [parte 1];



Os dias andam estranhos.

“Estranho” é um adjetivo polissêmico, e isso a agradava e completava e confortava. Se definisse para si que os dias estavam estranhos, não precisaria de maiores explicações, e seus atos excêntricos estariam, pelo menos em seu âmago, automaticamente perdoados. Um dia estranho englobava o erro e o perdão. E, mesmo assim, afirmar a estranheza do dia não possuía, sempre, conotações positivas. Quando “estranho” fosse igual a “diferente”, havia a quebra da rotina, e com isso ela se alegrava, qualquer que fosse a “diferença”. Mas o caso era outro...

Talvez porque sentisse que tal estranheza era o prenúncio de algo ruim, que a faria agir de maneira falha; mas a sua falha não seria por ela castigada, sequer notada, porque a tragédia iminente concentraria todas as suas atenções e ações. “Os dias andam estranhos” queria dizer que “algo (ruim) está para acontecer”, e isso afetaria seu mundo particular, quebrando suas confortáveis certezas.

Mas sensações não eram fatos (ainda), e o dia bonito pedia que ela afastasse os pensamentos nebulosos. Em seu momento quase ritualístico, pintou as unhas de azul-céu, bem claro e limpo quanto o que se abria janela afora. Terminando de se arrumar, atravessou o portal de madeira e sentiu uma brisa leve e o cheiro de café. O dia estranho – mas não intimidador – havia começado.

[E as suas previsões trágicas a faziam sentir-se meio suicida, meio masoquista. Quanto mais forte a intuição da vinda de algo ruim, com maior vigor ela se lançava ao dia.]

As horas sucederam-se sem maior alarde. Conviveu com pessoas: serviu-as, doou e recebeu, trocou informações e gentilezas. Sorriu para os pais, divertiu-se com os irmãos, conversou com os avós. Mas amanhã é segunda-feira, e há muito a ser feito para que a semana comece sem problemas técnicos. Beijos, até logo.

Foi para o apartamento solitário. Fora da casa da família tudo parecia ainda mais estranho, começava a ser um pouco amedrontador – e ela gostava do motor do medo, este possuía estranha relação com a curiosidade. Mas já eram dez horas da noite, e em sua cabeça insana e sistemática nada trágico de dimensões pessoais poderia acontecer numa noite/madrugada de domingo. Não no domingo, quando toda preguiça era desculpada.

Preparou-se para dormir, e já quase adormecia quando o telefone tocou. Ela não esperava que suas convicções absurdas fossem quebradas, tão abruptamente, pela vida. E foi mais ou menos isso o que aconteceu.

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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

As cores [introdução]

Esse é um projeto sem maiores pretensões. Espero conseguir continuá-lo.

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Ela gostava de pintar as unhas.

Era sua maneira de mostrar-se, ou de ser quem preferisse. Ela podia ser quem quisesse... Vibrante ou neutra, alegre ou melancólica. Suas cores a definiam, e dessa forma ela finalmente conseguiu se expressar – depois de muito tempo insistindo, em vão, em outras formas de fazer-se entender.

Ela tropeçava nas palavras. Sua escrita era confusa, sua fala era instável. Seus olhos fugiam involuntariamente dos outros olhares, sempre... Seus gestos eram às vezes vagos, às vezes rudes. Depois de tantas más interpretações, ela encontrou um mecanismo de permitir que os outros a percebessem corretamente.

E não sabia exatamente por que queria que os outros a entendessem. Havia qualquer coisa de carência ou necessidade de se comunicar de maneira limpa com o mundo que não a compreendia. Ou talvez só quisesse que alguém compartilhasse com ela os seus sentimentos, tão vastos, tão aprisionados.

Ela geralmente preferia as cores fortes e brilhantes. Não gostava de ser triste... Apesar de possuir uma interrogação estranha, inexplicável e indelével que a sufocava. Mas preferia suprimir tal interrogação – a vida a pedia que fosse otimista. Do contrário, tudo seria deveras e insuportavelmente cinzento.

No entanto... Nos últimos tempos, vem pintando as unhas de negro profundo. Ou a interrogação se descontrolou e a invadiu por completo, ou a vida se lhe parecia realmente cinzenta... Ela não sabia explicar. Não adiantava que a perguntassem, se a pergunta estava dentro dela mesma, inclusive. Ela sabia que doía, apenas, e não encontrava a causa da dor. Por isso o preto, no qual ela mergulhava... Talvez para se esconder, mais do que para se mostrar.

E vivia uma rotina que a pedia para sorrir, para andar, para respirar, e ela fazia tudo isso, mas sempre com um peso. E não adiantava que tentasse viver levemente, não adiantava que desejasse isso... Ela não aprendeu a querer viver levemente, porque não acreditava que sua interrogação tivesse uma resposta. E assim mantinha o seu luto discreto, por tudo que perdia em função do peso que não a deixava viver plenamente.

Houve um fator que desencadeasse tal luto, que bloqueasse os matizes que tornavam sua vida menos monocromática. Talvez ele fosse relevante... Se não possuísse consequências mais eminentes do que a causa. Ela era intensa em seus sentimentos vastos. Uma simples frustração poderia fazê-la fechar-se para a vida, e mergulhar em sensações que a levassem para longe da realidade. Ela era mestra em fugir, e o que a marcava era a contradição entre o querer mostrar-se ao mundo e o querer fugir da realidade. Talvez ela fosse uma insana com manias excêntricas. Talvez ela fosse uma alegoria para mostrar os conflitos de muitas pessoas que andam por aí, perdidas ou não. Talvez, talvez. Ou ela era simplesmente um devaneio, fruto de uma noite tediosa e triste.

Ou talvez ela queira dizer algo... Algo maior do que sua necessidade de expor os sentimentos. Algo que está muito além das cores de esmaltes que ela escolhe, além do seu luto inexplicável, além da sua interrogação inefável. Algo que estava perfeitamente descrito no amarelo-nascer-do-sol que ela usou nas pontas dos dedos em certa ocasião que oportunamente será narrada.




[...]

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Diário pessoal modificado do dia 24 de janeiro de 2010.

[Today my name is frustration.]

- Gosto da honestidade que machuca. Ela é o que nos impele à mudança. Depois dela, não há estabilidade confortável, não há desejo de que tudo permaneça como está. Não tem mais jeito, afinal.
(E a vida é cheia de matizes, e eu sou jovem demais para dizer verdades cheias de certeza - ainda bem.)
- E eu desisti de confiar ao destino que me traga um lenitivo para essa absurda dor de viver que eu possuo. Não vale a pena esperar... Mas, desistindo, também não há nada diferente que eu possa fazer... A não ser que...
Eu tente, de novo, o esquecimento.
O abandono, absoluto, de tudo o que concerne ao sentir - com ares de continuidade, na verdade. Porque desde a primeira vez em que eu usei o esquecimento para amenizar minha vida, nada de muito substancial aconteceu - apenas traumas secundários, dorezinhas tolas.
(Houve quem me acolhesse, e a eles eu sou muito grata; perdoem-me. Agora é a hora do drama.)

{Mas...
Esquecer não é o caminho, na verdade, porque toda lembrança traz um aprendizado. O grande problema da humanidade é esquecer, na verdade. Eu sei que não devo.
E o que fazer com o que nos machuca?
Até aprendermos com a dor, o caminho é longo e penoso.
Deve valer a pena, em função disso.

-Nota do dia 28/01}

[Toda previsão é inútil. Só a ação pode me dizer algo sobre o meu futuro.
E a sensação de estar perdida... Devia chutá-la para longe. Ela só me atrapalha.
Que engraçado, me sinto mais confiante, apesar de frustrada e aborrecida.

-Nota do dia 28/01]

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Percepções aleatórias...

- Hermética.
Ah, a minha alma, o meu coração hermético!
E a vastidão da paisagem verde solitária que se estende à minha frente,
Tão calma, tão incólume...
Tão cheia de alma, tão sem culpa,
Tão cheia de significado, tão inconsciente de existir [será?]...
E o céu azul-paz em cima de mim,
E o vento que me fustiga delicadamente,
E toda essa natureza, toda essa bondade
Que não tem coragem de me machucar...

E as pessoas, às vezes tão cruéis, às vezes tão naturais...
E eu tão aberta - antes;
E eu tão hermética - agora!
E eu com tanto medo, sempre...
E a minha vontade de me abandonar no seio de bondade da Natureza...
E eu não tenho sensação de fracasso ao permitir que a Natureza me cure...
Onde? Como? Quando?
Ah!... E quando? Quando?
Ah, a minha cura! Quando?...

E a minha exaltação tão discrepante em relação à Natureza,
E a minha falta de paz e calma,
Quando a calma do verde me abraça
E a paz do azul vela por mim...
Porque aqui dentro
Tudo é tempestade azul-marinho e cinza frio.
Aqui dentro está tudo tão caótico,
E eu preciso tanto de limpidez e calma...
Aqui dentro tudo chora e chove,
E o céu está tão claro...

Eu acho que só preciso de carinho e bondade.
Só, nada mais do que isso...
E eu acho que nem quero mais a honestidade que machuca...
Deixa eu me contradizer depois,
Agora, apenas acredite no que eu digo.

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28/10: É isso o que eu sentia há alguns dias. Certas sensações se dissiparam, mas há ainda alguns incômodos aqui dentro. Ainda há pedaços em mim que são tempestade... Mas eu sinto algum tipo de calma. Não me sinto tão acuada, tão covarde - apesar dos meus arredores. Eu não me entendo. Acho que eu estou ficando um pouco louca, às vezes eu vou criando coragem à medida que o terreno se torna mais inóspito. Eu só não me sinto mais insana porque, de uma forma ou de outra, eu não estou sozinha, e é essa minha companhia que me salva da loucura total.

[...]



E tudo isso que me incomoda não deveria me importar tanto,
E eu estou aprendendo, ainda, a não me importar.
Quer saber?
A vida NÃO é injusta.
E olha, para eu perceber isso demorou bastante.
Mas acho que essa percepção vai me ajudar a fazer com que as coisas deem certo. Enfim.

Beijos.