sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Carta quase irônica;




[Querido e estimado desconhecido,]
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Voltando para casa no início de uma quase-noite, fui reparando em cada detalhe da paisagem. Tudo parecia vagamente real, não fazia muito sentido... Reparava nas peculiaridades do caminho, mas com uma desatenção e um descaso incomuns, até porque meus sentidos estavam ligeiramente perturbados. Há um fator que me enlouquece sempre e sempre mais, essa coisa que é tão simples e ao mesmo tempo tão rara. Não preciso de mais do que uma hora e quinze minutos para me sentir completamente deslocada do mundo; tudo culpa dessa coisa inverossímil e fácil, isso que muitos chamam de amor, e que eu prefiro nomear encantamento. A presença maligna e deliciosa. Arde em meus olhos e me deixa completamente alheia de mim a sua aparição.

Então eu caminhava pela rua, e o vento soprava forte. Ele fazia a poeira girar em um balé lindíssimo... Até chegar aos meus olhos e me cegar por breves instantes. Contraditório, esse vento... É assim, como você, que consegue me levar beleza e, passados poucos segundos, aborrecimento. E, como o vento, você carrega um perfume cruelmente saboroso.

O vento forte... Eu desejei que ele me transportasse através do longo espaço, e me depositasse, levemente, nos seus lânguidos braços. Desejei que você se esquecesse do mundo, de tudo e de todos, e acreditasse quando eu te dissesse: você surgiu no mundo para me querer e me fazer sentir-me cuidada. Assim como eu fui criada com o mesmíssimo propósito, de te fazer voar nas correntes mais sutis do mais sutil sonho, esse sonho inefável que costumeiramente chamam de amor.

Que, na verdade, é um encantamento - não gosto de dizer que te amo. Porque eu não estaria sendo, de todo, sincera.

E o que eu posso fazer se você me é tão caro, tão valioso? Se os meus pensamentos rotineiros, todos eles voltam-se à sua direção, veneram sua imagem numa idolatria fanática e doentia...

E eu não te amo, porque você é malignamente errado, e completamente tentador.

Meu caminho foi inundado por esses pensamentos. Não conseguia detê-los, mesmo que isso me deixasse à mercê dos perigos que a inconsciência gera - e eu realmente devo ter corrido sérios perigos, e isso não me importava muito. Estava ocupada demais, sonhando acordada com você. Esse é o meu maior perigo.

Cheguei em casa correndo, aflita e calma, com uma lembrança pendurada nos meus lábios risonhos: a sua ironia para com o mundo. Eu gargalhei como uma tola, ouvindo as suas palavras descompromissadas e gracejantes... Seu olhar calmo, seu sorriso indecifrável. Minha fronte falsamente plácida, minha alma borbulhante, minha boca involuntariamente louca. Não, eu não sei reagir coerentemente quando estou no mesmo espaço físico que você.

Subi as escadas, entrei no doce lar - vazio, ainda bem - e me joguei na cama. Despi-me por dentro e por fora, como se quisesse me limpar das impurezas que se agarraram a mim nesse meio tempo em que vaguei, sonhando e esquecendo de respirar. Lembrando apenas de você - mesmo com a certeza do mal que isso me faz. Por dentro e por fora.

E corri para as palavras. Para que elas me alentassem, para que eu pudesse contar ao mundo concreto sobre as minhas percepções, e tentar não me sentir culpada ao saber que o mundo sabia da minha culpa e do meu pecado. As palavras, que podiam ser tanto celulósicas quanto digitais, agora sabiam de tudo. Fossem como fossem, eram meu conforto, desabafo do meu desespero mudo e insanamente alegre.

Escrevendo agora, lembrei-me de ter criado, na manhã vazia, aérea e fria, um poema que reacendia a vida em meus olhos, e adormecia ainda mais o meu corpo. Qual o tema? Você, logicamente. O mote perfeito que, como eu já disse, é digno de durar toda uma vida. Esse poema... Deve estar perdido em algum caderno. Em alguma hora, dia, semana, mês ou ano remoto, eu o encontrarei e criarei uma coragem sem precedentes para revelá-lo. Por mais que o meu engenho seja muito pouco engenhoso, tento colocar arte nas minhas pobres palavras. Para tentar ser sincera, e deixar que as más emoções fluam de mim e desapareçam - em você. Quem sabe sobre as reações que esses meus atos infames podem desencadear?

E vê como todos os meus pensamentos perdem a lógica? Eu queria escrever algo bem rico e contraditório. Fazer disso um presente, e depositar anonimamente em meio aos seus pertences... Para que você, surpreso, descobrisse meu presente e pensasse: “Quem deve ter sido a criatura ridícula que cometeu esse ato tão pueril?” E eu riria de mim mesma, por ser tão inocente, pensando ser franca e original...

Mas me diga, alguém já dedicou semelhante presente a você? Eu me sentiria extremamente honrada de ser inspiração para qualquer obra que fosse, mesmo que ridícula e infantil. É que eu tenho uma triste necessidade de me sentir importante. E esse é o último sentimento que me seria ofertado por você. Tudo bem, não dramatizarei maiores martírios, por mais que isso tudo seja verdade. E sim, você é importante para mim, por mais que a minha obra seja, mesmo, ridícula e infantil.

E eu não te amo. Você me encanta e, como eu já comprovei há algum tempo, esse encantamento é indelével em mim.

Na verdade, creio que você seja uma imagem que a minha mente, sequiosa de emoções complexas, criou para se satisfazer. Você nem parece ser real! Nem parece uma pessoa de verdade; você deve ser um devaneio sonhado por uma criança sonolenta e ingênua, que eu vesti em trajes sensuais e dei meu toque de impossibilidade. Só para Platão se irritar quando eu digo ser esse um sentimento platônico - porque não há nada de arquetípico em você. E eu gosto de te nomear platônico, por mais que eu não te ame.

Saí da frente do computador. Estava tornando-se extremamente irritante o cursor piscando, impaciente, esperando o restante do meu desabafo incoeso. Fui tomar uma taça de vinho e comer um chocolate, para esquecer de te esquecer. Lembrar de você da mesma maneira como eu me lembro da vida. Tentar te fazer ser comum, tal como vinhos e chocolates. Eu me embriago de você, com o mesmo prazer que o vinho e os chocolates me proporcionam. Isso deveria ser comum... Como eu queria que isso fosse comum! Mas não sei fazer com que você seja um mero personagem do teatro irreal da minha vida. É que você é importante e me causa os mais terríveis efeitos – e a outras incontáveis pessoas! -, enquanto eu sou frágil e anônima - a quem eu causo algum efeito? Ah! O que é que eu estou dizendo?

Eu gosto assim, indefinidamente, desse encanto que você exerce sobre mim. Essa é a razão de eu estar escrevendo essa carta que, mesmo anônima, já me denuncia. Fatalidades do estilo.

O curioso disso tudo é que eu não consigo me desvencilhar de um detalhe seu, que me instiga e abre ainda mais as minhas feridas: a sua maneira simples de sobreviver ao mundo e criar uma aura de mundo-próprio que te permite viver outra realidade. Quem sou eu para transpassar essa linha da sua irrealidade e tentar ser parte do seu infinito? Eu, pequena criança jogada no mundo feio e comum. E você... Personificação de uma magia que não existe nos limites das minhas divagações. Eu te sinto, e não consigo te imaginar. Você é como algo que está entre o céu e a terra, e não pertence a nenhum desses dois extremos - mas, ao contrário do que pode imaginar, você não representa o equilíbrio. Você está no meio termo da contemplação de todas as coisas, concretas e metafísicas. Você é o meu purgatório.

Mais uma vez, pensamentos loucos e inconseqüentes. E continuo afirmando que não te amo.
Reneguei meu ambiente, saí de casa. Fui caminhar, para tentar clarear minhas idéias, organizá-las para que elas tentassem conquistar um vão sentido. Respirei o ar frio da noite já estabelecida, que pendia no céu como um manto negro que encobrisse uma cama sem pessoas; havia estrelas poucas e espalhadas, como migalhas de um amor de outrora que se despedaçou na cama e foi recolhido, mas do qual resquícios foram esquecidos, os quais cismam em incomodar as costas frias durante as noites de insônia. Isso tudo era muito solitário, inspirando um sentimento de confusão, como um diário perdido no meio de livros que jamais serão lidos. E tudo isso, absolutamente tudo, é culpa sua.

Não adianta que eu fique formulando comparações literárias e metáforas que aspiram à beleza... Meus pensamentos continuam confusos, girando eternamente numa ciranda irrefreável. Não há solução para o meu tormento.

E talvez eu nem queira solucioná-lo, na verdade; toda a graça dessa minha desdita contente é a sua surrealidade. Eu gosto de não poder te tocar. Gosto de passar tão próxima de você, roçar de leve no seu braço e ir embora, fingindo que você não significa nada. Rir internamente da minha insegurança tão bem disfarçada de indiferença – será que é assim, tão bem disfarçada? Só você poderia me dizer. A única certeza que possuo é que essa situação é realmente engraçada e instigante.

Instigante, porque eu gosto desse jogo que propus a mim mesma. É a maneira de explorar minhas sensações mais excêntricas; e gosto de ter você como referência. Busco em você a inspiração para viver sentimentos diferentes. Toda vez que te vejo, uma nova emoção me aflora – e você não imagina o quão instigante isso é. Por isso não quero deixar jamais de te ver, por isso que eu fico aflita e eufórica ao mesmo tempo. Estou descobrindo outras faces de um mundo abstrato e isso é gratificante, dá mais sabor à vida. Tudo é mais colorido, as coisas ficam tão menos banais!

E imagine só, eu te confessando essas minhas loucuras. Meu propósito era te presentear porque, se você me motivou a dizer segredos que mantenho profundamente no meu âmago, creio que seria irracional não revelá-los à única pessoa que realmente deve conhecê-los. Para que você se sinta ainda mais altivo. Eu deveria continuar a alimentar o seu ego?
Na verdade, não sei se isso faz muita diferença para você e, sinceramente, eu não me importo. Importa-me poder dizer isso tudo. E que eu crie coragem ou não de te entregar esse meu manifesto, isso também não é tão importante – eu creio. Alivia-me ter podido falar os absurdos que me acometem e entorpecem toda vez que te vejo; alegra-me saber que eu consigo me expressar, ainda, por meio das palavras queridas. Preocupa-me e, ao mesmo tempo, diverte-me ver o grau da minha insanidade. Perdoe-me se escolhi a sua imagem para criar os meus devaneios. Você me encanta, inexplicavelmente.
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[Mui carinhosamente,
Amelie.]

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Madness;


Hoje eu voei, insone e iludidamente feliz, pela poesia. Voei incrivelmente, um vôo rasante, há tanto desejado... Era disso que eu precisava, um vôo pleno e puro que me fizesse esquecer a terra e seus aborrecimentos concretos. Mas uma dor na coluna e a preocupação com a aula no dia seguinte me cortaram as asas e eu caí, fria e seca, no duro chão da realidade.

Chorei por lembrar da vida - quis chorar até morrer, até me acabar, sem mais lágrimas e sem mais razões para querer morrer.
Eu quis me fazer a poesia mais melancólica, para ser fechada pesadamente dentro de um livro triste e esquecido. Queria ser o mal ultra-romântico, e não a luz árcade. Mentira; eu não tenho exigências. Só queria ser a poesia, só queria ser uma poesia esquecida.
E é tão vão o querer! Eu quis morrer para o mundo e, plenamente contrariada, alguém me deu novas asas, chamou-me de fênix e mandou que eu renascesse.
Eu voei mais uma vez, e não mais contemplava a poesia: eu me transformei nela. Não quero ser poeta, não quero ser o criador: quero ser a criatura. Eu fui criatura e voei, por mais que não quisesse ser percebida. O esquecimento ficou abandonado nas cinzas, eu renasci livre; nesse dia, a chuva precipitou-se na cor vermelha. Lágrimas de uma paixão que eu libertei. Palavras despencaram do céu e orquídeas floresceram, cheias de amor e estranheza, nos campos sem esperança. E eu estou louca e dolorida. A poesia me liberta do mundo, mas não sei quando me libertarei dessa dor pulsante e viva que me prende às correntes da contradição e da tristeza - dentro de mim. Meu mundo interior é caótico e triste. Sou poetisa que nasce e renasce com as primaveras. Mas a Tristeza do Infinito que mora nos invernos sempre anda a me assombrar, como uma lembrança maldita de uma aposta perdida. Perdi minhas flores, perdi meus frutos. Sou uma primavera fria, seca e cinza.


Quando é que eu poderei voltar a florescer?

domingo, 17 de agosto de 2008

Da amizade;


Hoje eu constatei algo que provavelmente mudará os rumos da vida - da minha, ao menos. Fiz uma descoberta que há muito se exibia à minha frente, e eu não consegui enxergar: hoje eu descobri sobre o verdadeiro amor.


Descobri que não preciso ser ultra-romântica para saber o que é esse benéfico sentimento. Descobri que não são extremos - de prazer ou de dor - que caracterizam o verdadeiro amor; percebi que ele reina onde há almas irmãs, que sabem como levar alegria para cada um de seus companheiros. Vivi uma experiência mágica, extasiante e maravilhosamente concreta: hoje eu vi os meus amigos.


Amigos! Meus doces companheiros; nem sempre próximos, nem sempre perfeitos... Mas não precisamos ser perfeitos, nem estar, a todo momento, unidos fisicamente para sentir o cuidado e o amor que cada sorriso, que cada abraço contém. As lembranças de nossos encontros são um conforto imprescindível e, toda vez que queremos construir novas lembranças, nos encontramos e comprovamos como nós, juntos, somos felizes. Como amamos uns aos outros, verdadeiramente - sem mesquinhezas, sem interesses. É o amor mais puro e despido de vícios que nos une - é a coisa mais terna de se sentir, e a mais linda de se ver.


Hoje eu vi que não há solidão e tristeza que consiga apagar todo o brilho de uma amizade verdadeira. Sinta-se acabado, fatigado, estafado, quase morto: você verá que a alegria de um amigo é como fonte de água cristalina. Mágica e revigorante. A vida percorre mais uma vez as suas veias num pulsar plácido, e nenhum problema se faz maior do que a plenitude do seu espírito. É uma vibração incógnita e indecifrável, o mistério do amor.


Os amigos são irmãos de alma, irmãos de ideal. São um presente dos Deuses, para quando você se sente fraco demais para prosseguir na caminhada - basta um pequeno gesto. Uma breve palavra, um olhar encorajador. Através deles, os Deuses dizem: siga em frente, você jamais estará sozinho. Não há razões para desistir; os amigos são um motivo mais do que suficiente para querer lutar. Eles são a presença incontestável de algo maior do que a matéria, esse algo que é indizível e indelével. Esse algo que é sagrado e que nos move para a batalha em busca de um mundo mais justo e melhor.


Hoje eu descobri que a vida é cada vez mais graciosa quando se consegue levar felicidade a um amigo. Ser feliz conjuntamente é muito mais correto do que a falsa felicidade solitária. Não me enganarei mais quanto a isso.


Hoje eu constatei: não existe sabor mais doce do que o tangível sabor da amizade verdadeira.


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E para o Danilo, feliz aniversário! - mas saiba, hoje fui eu quem ganhei o maior presente. Ser feliz com vocês é o maior presente do Universo. :)

P.S.: A foto não é das melhores, mas foi a melhor que eu encontrei. ;_;'



sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Poema incompleto;


Deixe que eu me afogue mais uma vez.
É exasperante essa dor pequena e constante..
Dor de não ser.
Não ser tantas e tamanhas coisas!
Deixe-me estar assim, entregue ao aleatório.
Tão pequena, tão invisível...
Dê-me esse prazer de me sentir crucificada e dolorida.
Me faz tão bem, e tão mal, esse martírio convulso,
Compulsório e opcionalmente desejado..

Deixe que eu me mate, mais uma vez,
Mais uma vez e sempre mais.
Deixe que eu me envenene aos poucos...
Permita que eu esteja sozinha,
Sorrindo numa agonia tola e desenfreada,
Tão, tão desejada...
Deixe-me só, totalmente!
Até que eu esteja completamente acabada.

E então, eu sorrirei uma vez mais,
Serei feliz de mãos dadas com a solidão.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Give me wings to fly away...






Só por não ter mais nada a dizer, agora tento escrever. Palavras vazias, certamente; palavras um tanto quanto solitárias. São como animais alados, porém inconscientes: voam assim, sem nada querer, sem nada esperar... E sem poderem desfrutar conscientemente desse dom que possuem.
Simplesmente voam. Às vezes alcançam um pequeno fruto, e se alimentam... Encontram algum sentido - instintivo. Às vezes pousam nas mãos de alguém. "Que belas!", esse alguém pode dizer... Encontram alguma serventia. Mas não deixam sua vazia condição primária.
Ah! Por que isso tudo?
Palavras não podem fazer nada. Ações concretas podem. Apenas porque...
Apenas porque as minhas palavras são tolas e não conseguiram fazer com que eu fosse feliz?
Eu te deixei escapar por entre os meus dedos...

[...]

Eu podia ter te amado tanto, meu querido!
E você não quis...
Agora este meu amor é morto.
E renascem em mim outras maneiras de amar...
Talvez eu te ame de novo.
Mas aquele amor puro e completo, que você recusou,
Ninguém jamais terá!

[...]


Brincam em meus sonhos a triste imagem da sua partida; uma dança maligna, que zomba de minha fraqueza. Você... Tão informalmente belo! Voando para longe de minhas mãos, até não sei quando... Desde quando, eu não sei. Há alguns anos você se foi - ou há alguns dias? Horas, talvez? O tempo já não é certo. Nada mais é certo. Quero você em meus braços novamente!

E sou uma criança desalentada, jogada em meio a um quarto escuro. Uma cama desarrumada, roupas para todo o lado. Papéis. Lembranças espalhadas em um mar de lágrimas amargas...

Alguém bateu à porta. Eu não me dei conta de meus gritos, e o susto que isso proporcionava.

"Nádia, Nádia! Você está bem?"

Deixe-me em paz, estranho humano. Nada me é tão benéfico quanto o silêncio de outrem, e a liberdade de exprimir minhas dores da maneira que me convém.

Essa é a minha carta escrita ao nada. Gosto de sentir essas palavras perdidas pulsando nas dores dos meus dedos... E ninguém saberá disso. Ninguém jamais saberá desse meu desabafo, dessa concretização tão perigosa dos anseios aflitos que me apavoram. Que fim levarão esses escritos? Alimentarão o fogo de uma lareira aconchegante? Perderão-se em algum rio distante? Ou ficarão assim, doloridos, tremendo no fundo solitário de uma gaveta esquecida?

Temo que narrem a realidade do meu sentir. Ridiculamente expostos, como um animal de circo: ferido, frágil e envergonhado.


[...]
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E talvez seja apenas uma fraqueza de espírito, uma desolação da alma; algum chamado distante, sonoro e ritmado, que extrai-me a alma e infiltra-se em minha mente – que se alonga e definha, noite afora. Talvez seja apenas a perfeição inalcançável, um mero fruto de minha insônia. Talvez seja apenas a utopia descontrolada fugindo-me do controle. Talvez seja apenas você. Quem sabe. Isso é mais do que o tempo pode resolver e vai além do que a razão pode explicar, enfim.

[...]

Pois, afinal, apenas você destrói os meus instintos e excita minhas dúvidas. Só você desperta os sentimentos e os desejos mais puros e mundanos; só você me remete aos primórdios da dor. Apenas você para incapacitar minha frieza e sobriedade. Apenas você para fazer-me desperdiçar energia, palavras e lágrimas. Ainda me pergunto se vale a pena.

[...]

Quero encontrar a saída; nada mais. Sair correndo, em direção ao nada e deixar para trás os labirintos de seus olhos e a frieza dos seus sentimentos. Abandonar seus sentidos; salvar-me do risco de me afogar em estranhas águas. Esquecer seu rosto. Livrar-me das cicatrizes e dos gritos; estancar as lembranças e fingir que foi tudo uma miragem de meus sonhos.

[...]

Entre todas as tentações e pecados, todos os prazeres e alegrias, és o mais repugnante e irresistível dos males.

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Primeira parte por mysaturndays, segunda parte por http://insomnia08.blogspot.com
Obrigada pela belíssima ajuda, querida tia Chö. (L)²