segunda-feira, 28 de abril de 2008

Pseudo-ensaio sobre a leve dicotomia entre a ficção e a realidade.



O que é ler um livro?

É ser espectador de uma comédia,
Coadjuvante de um drama,
Protagonista de uma tragédia.

Ler um livro...
É estirar-se numa poltrona tranqüila,
E deixar-se levar pelos braços mágicos da não-realidade.
É flutuar entre os mais diversos reinos,
Planos,
Mundos,
Dimensões,
Ou qualquer coisa menos concreta; não enumerável.

Livros são vivos. São cruéis, quase humanos.
Têm todo aquele poder de encantar - tal qual um amor.
Têm todo o êxtase dos mais íntimos momentos - tal qual uma paixão.
Têm os requintes da mais fina crueldade - tal qual amores e paixões.

Livros têm boca, e beijam sedutoramente.
Livros têm braços, abraços, enlaces, encantos.
Eles libertam a mais variada gama de fantasias, alegres ou doentias.

Livros são a linha tênue que separa ficção e realidade,
- Os mais fracos conseguem confundir-se em toda essa sutileza.
Essas fantasias são tão reais, que costumam machucar mais do que a própria realidade.

Ler um livro é doar-se por inteiro a uma vida abstrata.
É entregar, com honrarias, toda a sua energia vital.
É premiar um sonho com a própria vida.

Ler um livro...
É abrir as portas para o surreal,
É concretizar o inverossímil,
É alcançar o intangível,
É sofrer com alegria.
É quase sentir o amor que Camões sentia.

Ler um livro é cercar-se de magia.
É ter vampiros sussurrando nos seus ouvidos,
É trilhar com honra o caminho do guerreiro pacífico,
É descobrir todas as profundidades do amor,
E de todos os sentimentos que colorem o mundo.

Ler um livro é fugir, com as mais belas opções de destino.
É enveredar-se pelos caminhos mais doces.
É perder-se, por vontade, nos braços da ilusão.

[...]

De ilusões... Já é outro ensaio.
Fico, por enquanto, no doce sonhar literário.
E não me acorde desse sonho.

domingo, 27 de abril de 2008

To dream - and another verbs.




Acorde - já é bem tarde. Chega de dormir, chega de sonhar. A vida está lá fora, não em meio aos seus travesseiros e cobertores.

[Você não vê? Dormir é muito mais do que descansar. Dormir é sonhar, e sonhar é viver - viver de fato. Esquecer as mediocridades do mundo concreto. Construir um mundo covarde e belo, ao próprio bel-prazer.]

A covardia é um veneno que consome a alma e a dilacera nos mais ínfimos pedaços. A comodidade e o apego à ilusão apenas completam o banquete da morte da alma.

[Pois eu quero me deixar morrer, abandonado em minhas fraquezas, alentado e consumido por minhas ilusões. Toda a vida foi sempre um grande amargor e um inverossímil jogo de pequenas felicidades aleatórias e efêmeras. Desilusões - não as quero mais. Não quero acreditar que vivo em meio a um dissimulado inferno; quero ilusões e mais ilusões, que entorpeçam minha mente e me façam acreditar que respirar tem algum vão sentido.]

[...]

À morte.

Florbela Espanca

Morte, minha Senhora Dona Morte,
Tão bom que deve ser o teu abraço!
Lânguido e doce como um doce laço
E como uma raiz, sereno e forte.

Não há mal que não sare ou não conforte
Tua mão que nos guia passo a passo,
Em ti, dentro de ti, no teu regaço
Não há triste destino nem má sorte.

Dona Morte dos dedos de veludo,
Fecha-me os olhos que já viram tudo!
Prende-me as asas que voaram tanto!

Vim da Moirama, sou filha de rei,
Má fada me encantou e aqui fiquei
À tua espera... quebra-me o encanto.














Winter's gone. Oh my God, how I crave for your love!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

New.spleen.&.charutos.

É só mais um afago e um cigarro; enquanto a leve fumaça se desfaz, dou uma meia volta e paro no portal. Você me vê, e seus olhos em cascata me clamam por ficar. Eu perfuro sua alma com a frieza do meu sentir, como se em um olhar eu desse sua sentença: esqueça-me. Essa foi a derradeira noite de "spleen e charutos" e toda a libertinagem que um dia talvez pudesse ter algum vão sentido. Hoje eu vou embora, com meu duro coração intacto. Vou-me quase sem coração, enquanto deixo que você se afogue em suas lágrimas fúteis. Não dou a você mais nenhuma razão; nenhum respeito. Não mereço mais tentar me obrigar a sofrer por algo que em nada me toca. Sua leviandade me incomoda; apenas. Último gole, último trago. Já sou assim, neutro e sem alma. Já não vejo mais motivos para tentar encontrar o meu lugar; o seu lugar não me interessa. Ocupe-se dos seus problemas, que eu já tenho no que pensar: como dar um fim à minha vida condizente com tudo o que ela representou. Talvez uma medíocre lâmina seja o mais apropriado, em algum banheiro imundo d'alguma esquina perdida.

[...]



There's no meaning, no sense. But it's ok, I'll be fine, anyway.

sábado, 5 de abril de 2008

O que a chuva me traz.




Gosto de andar pelos dias de chuva, carregando comigo aquele objeto que supostamente deveria proteger-me da água celeste; e para quê? Sou tão feliz sentindo a tristeza do mundo pesando sobre mim, fazendo-me sentir seus efeitos! Gosto, especialmente, das gotas de chuva. Elas são meu alento e recordação de minha dor.


Meu corpo vaga por entre a chuva, sequioso de uma específica visão. Mas meu corpo é trevas, e não se destaca na neblina que a chuva traz consigo. Minha alma, essa sim é luz, mas ninguém a percebe. Sigo, solitária e fantasmagórica, em meu caminho de reflexão.


E caminho. Percebo as sombras de matéria que cismam em prostrar-se aos meus pés, e esbarro acidentalmente nelas; as sombras me iludem, e por vezes por elas vou ao chão. Prostro-me também, e sou uma sombra em algum caminho alheio.


E caminho. Mas nada disso faz muito sentido, porque a minha alma, que é o que me importa, continua inerte em seu restrito meio de locomoção. Minha alma continua inerte e alheia ao sabor dos ventos e dos eventos...


quarta-feira, 2 de abril de 2008

Cantigas leva-as o vento...

Silêncio. Nada mais do que folhas secas no chão e galhos farfalhantes se movimentam. Tudo é ermo; ensolarado, porém frio. Uma brisa suave e congelante passeia pelo parque, e as sombras brincam ao solo. Nada além disso.
Ela surge, então, no horizonte. Anda com os passos mais leves do que o ar, graciosa como um raio de sol. Emite uma luz quase divina, mas seu rosto tem uma perturbação deveras humana. Caminha em direção ao seu destino, fixo em sua mente, porém imperceptível aos olhos comuns. Nada muito material, talvez.
Ela passa por entre as árvores outonais, como um fantasma que se une aos espíritos da natureza; cantarola, sussurrando com o vento, uma cantiga ancestral. A canção emana de sua alma, com muito cuidado, para que nenhum tesouro se perca pelo caminho, e encontre alguém que não seja aquele por quem ela espera. Ela espera, alegre e aflita.Pássaros eventuais consolam seu caminho solitário. "Onde ele está?" Sua mente perturba-se um tanto mais. "Ele não vem?"

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Ele não vem mesmo?
Provavelmente não.
Talvez nunca.
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Está inacabado. Minha musa desapareceu, eu não consegui dar continuidade. Lanço, pois, o desafio!
Quem quiser dar um destino para aquela que espera pelo seu amado, vá em frente. :)
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Cantigas leva-as o vento...

A lembrança dos teus beijos
Inda na minh´alma existe,
Como um perfume perdido.
Nas folhas dum livro triste.

Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desapar´cido
Revive numa saudade!

Florbela Espanca - Trocando olhares - 01/01/1916