terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Ressuscitando um passado criativo e sentimental [2]

Quando eu ainda sabia amar profundamente,
e sabia escrever cartas de amor,
e sentia e escrevia sem me sentir ridícula.
Bons tempos.

26/12/2008

Supremo Enleio.

Alguns dias para a sua chegada. Permito-me enlouquecer sob sua guarda; o que mais fazer? Fingir a todo momento que minhas células, meus átomos, cada ínfima e infinitesimal parte de meu ser não está vibrando de maneira totalmente incomum, na insana expectativa da sua chegada? De que adianta eu sucumbir em minha loucura e você simplesmente ignorar as reações que a sua idéia me causa? Não pode ser. Quero que você perceba, veja e sinta a tortura que é saber que, enfim, terei o seu doce abraço enlaçando-me suavemente, como a sombra da noite enlaça o fim da tarde.

Daqui a poucos dias terei o seu lúcido e modesto sorriso a me iluminar. Ah!, você me desagrega em mil fragmentos de sonhos quebrados, quando me faladas dores de seu lindo coração, quando me diz "sabes o que sinto", e eu palpito, tremo e morro por você. Eu morreria por você - não, eu viveria por você. Por você, sou forte, corajosa, verdadeiramente viva - and you don't give a fuck about it. Eu não sei se há pior forma de viver/morrer: frustrada com o maior amor que a minha alma pode conceber.

Enfim, que isso não faça a menor diferença. Eu o amo e, para a minha medíocre vida, ISSO É O QUE IMPORTA. E fim.

[O durante:]


E o depois é tão trágico que esse blog sobreviveu um bom tempo principalmente por causa dele. O depois tem TANTOS textos que eles serão o mote principal do ressuscitamento [?] daqui pra frente, se eu continuar com essa bobeira.

DEUSES, COMO EU SOFRI.

Ressuscitando um passado criativo e sentimental [1]


20/08/2008

Hoje eu vaguei, insone e iludidamente feliz, pela poesia. Um vôo incrível, rasante, há tanto desejado... Era disso que eu precisava, um vôo pleno e puro que fizesse esquecer da terra e seus aborrecimentos concretos.

Mas a dor na coluna e a preocupação com a aula no dia seguinte me cortaram as asas, e eu caí, seca e fria, no duro chão da realidade.

Chorei por lembrar da vida - quis chorar até morrer, até me acabar, sem mais lágrimas e sem mais razões para querer morrer.

Eu quis me fazer a poesia mais melancólica, para ser fechada pesadamente dentro de um livro triste e esquecido. Queria ser o mal ultra-romântico, e não a luz árcade. Mentira; eu não tenho exigências. Só queria ser poesia, só queria ser esquecida.

E é tão vão o querer! Eu quis morrer para o mundo e, plenamente contrariada, alguém me deu asas, me chamou de fênix e mandou que eu renascesse.

Enfim, eu voava mais uma vez, e não mais contemplava: eu era poesia. Não quero ser poeta, não quero ser o criador, quero ser criatura. Eu fui criatura, e voei, por mais que eu não quisesse ser percebida. O esquecimento ficou nas cinzas, e eu renasci livre; neste dia, choveu uma chuva vermelha. Lágrimas de uma paixão que eu libertei. Palavras despencaram do céu, e orquídeas floresceram, cheias de amor e estranheza, nos campos sem esperança.

Eu estou louca e dolorida. A poesia me liberta do mundo, mas não sei quando me tornarei livre dessa dor pulsante e viva que me prende às correntes da contradição e da tristeza - dentro de mim.

Sou poetisa que nasce e renasce com as primaveras. Mas a Tristeza do Infinito que mora nos invernos sempre anda a me assombrar, como uma lembrança maldita de uma aposta perdida. Perdi minhas flores, perdi meus frutos. Uma primavera fria, seca e cinza.

Quando é que eu poderei voltar a florescer?

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Amor

Múltiplos universos,
Infinitos versos.


Amor,
[Multi]verso.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Os artifícios e caprichos da memória

A primeira coisa de que me lembrei foi uma certa suavidade,
Um susto - reconheci, repentinamente, a sua voz.

Falando coisas várias, umas sérias, outras irritantes,
Muitas tolices,
Muitas, muitas loucuras.

Mas quando a noite caiu, tudo foi silêncio entremeado de sussurro,
Suspiro,
E um chamado,
"Vem aqui pro meu lado."

domingo, 9 de junho de 2013

Os meus momentos de conforto do eterno desassossego.



Obrigada, Bernardo Soares/Fernando Pessoa.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Sob o signo do abandono



14/04/2012

O início

...e acho que eu "começaria" da forma mais reticente possível.

O fim?

- Eu não quero colocar um ponto final, não quero colocar pontuação nenhuma. Deixa "terminar" com uma frase pelas [metades]
Vou deixar a história
                 a frase
                o tema [de amor perdido]
                                                       no [meio, partido]

[...]

- No dia em que coloquei o "ponto final" na história.
- Mas ela nunca teve ponto final, né?

Pois é, foi algo como um ponto-e-vírgula, um final com continuação;
uma hesitação, uma quebra, uma mudança de ritmo, de tema [?]

O primeiro meio
(que veio no primeiro pseudo-fim.)

- Estou pensando, pensando, pensando, o sofrimento está doendo na razão. Não está cheio de sangue - a dor está oca. Vazia, como todo sentimento racional - vazia no vazio de sua impossibilidade, de sua irrealidade - será mesmo irreal?

- Ou talvez seja uma construção da nostalgia ("essa é a palavra" "ela combina com você/é a sua cara"); ou um tipo de anestesia.

("Eu não quero ficar te olhando muito. Sei lá quando vou te ver de novo. Isso é um tipo de masoquismo?")

Eu sou masoquista. Quis te ver porque eu gosto de me torturar. Não pensei muito quando fui até você - eu queria tirar aquela história a limpo. O coração estava sujo (ainda está. E doído, [como] sempre).

Ou eu só queria mesmo passar um tempo contigo; porque eu estava sentindo falta da sua paz inquieta. Ou eu só queria te ver, porque queria ter certeza de que ainda era capaz de atrair a sua atenção.
       são muitas as possibilidades, e

                                  EU NÃO sei

qual é a certa. Eu falo demais por palavras. É o meu transe, a minha idiotice, agora sou eu que estou sentindo demais, sentindo com o pensar,
   
         Assim como o meu poeta favorito
    (Sabia que essa sensação era intensamente familiar. Eu CONHEÇO isso, porque o gênio mo apresentou.)

       Eu não consigo me organizar.
       Não quero desistir do projeto.
       Não quero desistir de nada.
       Quero calma
                  a sua paz inquieta.

Quero a solidão inteira do vazio planeta Marte,
A guerra exteriorizando o vazio - íntimo - campo de batalha
"Eu estou feliz demais por estar perto de você - para ficar triste pensando que vai demorar eternamente até te ver de novo."

("Com um sorriso deste tamanho, quem precisa de olhos?")

- Até porque eu só quero fechar os olhos e sentir, não quero a distância de ver. Já vai ter distância demais entre nós - de tempo e de espaço.

                            (EU VOU SUPERAR. PRECISO.)

[distância] HAVERÁ. Ou já há. Sei lá. {Na verdade, eu sei, mas nem queria saber.}

eumeperconofluxoturbulentoincessanteinstantâneomisturadoconfusodaslembranças

      A gente encaixa perfeitamente.
      Juntamos e explodimos.
      Reação (intensa,) imediata.

{Não quero que nada nem ninguém roube o seu cheiro de mim.}

"Estou sentindo como se tivesse uma espada atravessada no meu peito."
"Dizem que quando algum objeto atravessa o nosso corpo, é melhor não tirar, para não piorar a hemorragia."

    - Ou você pede a alguém que saiba lidar com a situação que te ajude, ou você se habilita para isso.

    [Não sei o que é mais difícil de conseguir.]

"Estão todos com uma espada enterrada no peito, né?"

A minha está aqui, prendendo e paralisando e enregelando de metal frio e insensível esse meu músculo vital que sangra o tempo todo, é arrítmico e, ABSURDAMENTE, vivo.

    Deixa eu respirar, sofrer, viver, incorporar, antropofagizar estas últimas horas, que foram, talvez por tempo DEMAIS, as últimas.

                                            EU QUERO VOCÊ AQUI.
                                            COMIGO.
                                            AO MEU LADO.
                                            DENTRO DE MIM
                                            (isso você já está.)
                                            [Mas não de forma suficiente.]

Tem deuses que nos amam, tem deuses que nos odeiam.

Deuses que nos amam:
        - Melpômene, a musa da tragédia;
        - Marte, de várias maneiras;
        - O deus dos desencontros.

Deuses que nos odeiam:
        - Vênus;
        - Gaia;
        - Cronos.

e Juno, é claro, mas ela odeia a maioria das pessoas, então nem conta.

Vênus e Marte se amam furtivamente. Isso faz MUITO sentido.

15/04/2012 - The day after.

"Eu estou no fundo de uma depressão sem fundo", mas não consigo me SENTIR infeliz. É uma depressão plena, carregada de beatitude. (Já devo ter lido isso em algum lugar) A tristeza transforma uma mulher em santa, em mártir. O sofrimento é altamente elegante, altamente respeitável.

16/04/2012

- Pensando no julgamento moral a que se submetem os traidores, lembrei-me daquele que talvez seja o ponto crucial disso tudo.

"Eu não me preocuparia em trair quem quer que fosse para ficar com você."

(Eu realmente não me afeto/afetaria/afetarei com isso.)

"Ah não? Mas eu não quero ser o outro."
      
      "Você não quis ser o oficial[?]!" 
      "Não diga isso."
      "Então o que você faria? Destruiria a minha vida, me faria abandonar largar tudo para ficar com você... para depois me abandonar de novo?"

      [Toda essa conversa é sorridente, leve. Mas não tão alegre, é claro.]
      
      (Depois de um sorriso meio amarelo)
      "Isso é uma coisa muito [] pra você, né?"
      "O abandono? Sim. Nós dois vivemos sob o signo do abandono."
      
      Em que a abandonada sou eu, na esmagadora maioria dos casos.

E essa expressão toda, "sob o signo do abandono", pode parecer ridícula, clichê, excessivamente dramática, mas é a aproximação mais precisa que tenho de uma síntese.


...

Você se lembra das borboletas? Do tipo de lembrança que elas te despertavam?

Hoje eu vi duas. Uma voava idilicamente, numa delicadeza comovente. Vivia em plenitude. Lembrou-me a metamorfose do renascimento - de verme rastejante, terrestre, dependente, para um ser(-)livre, aéreo/etérico, sobretudo belo. Alguns passos à frente, vi outra. Morta. Pisoteada, esmagada, sem cor, sem vida.

Consigo até rir da analogia que posso fazer. Este pequeno relato é polissêmico. Ou apenas ambíguo. Isso depende de quem vai lê-lo.

(O mais irônico [e meio triste] é o intervalo de tempo/espaço entre a plena vida e a plena morte - as duas borboletinhas. Curto demais [e tão significativo].)

TEMPO...
ESPAÇO...
Não sei se quero pensar nisso agora.
(Mas eu já estou pensando nisso o tempo todo!)
Só não quero teorizar e formalizar minhas reflexões. Dói, dá trabalho, e eu não quero me ferir agora porque eu estou cansada para isso.

...

Nós somos ultrarromânticos.
Adoraríamos que nossas vidas fossem um filme.
Nós acabamos provocando os clichês das histórias de amor, às vezes (quase sempre).
Nos é prazeroso SOFRER.
É ridículo, é delicioso...

...

ROMEU & JULIETA.

Eu te expliquei o porquê de eles serem eternos.
Tem a ver com a plenitude e o com o fim...

...

Sentir muito às vezes é muito, às vezes é muito pouco.
Sentir muito pode ser anormalmente excessivo, ou simplesmente insuficiente.

...

Nada que tenha (já não tivesse) me destruído.

...

"Há muitas pessoas que sonham ser traidores. Elas acreditam nisso, acreditam ser isso. Não passam, no entanto, de pequenos trapaceiros. (...) Que trapaceiro não se diz: ah, enfim sou um verdadeiro traidor! Mas também que traidor não de diz à noite: no final das contas, eu era apenas um trapaceiro. É que trair é difícil, é criar. É preciso perder sua identidade, seu rosto. É preciso desaparecer, tornar-se desconhecido."

DELEUZE, Gilles, PARNET, Claire. Diálogos. São Paulo: Editora Escuto, 1998, p. 58.






04/06/2013, facing the consequences. 
Visto assim, depois de um ano, as coisas ainda parecem extremamente reais. Dá para tocar  nessa dor toda.
Contudo, dá para ver, também, o ridículo do sofrimento (ou, para ser menos pesado, os extremos da idealização). De ele me pedindo que escrevesse sobre... Porque esse texto só existe porque ele me pediu que o fizesse (ou não). Qual o motivo para eu querer imortalizar isso? (Pois que ele era motivo o suficiente, afinal...)
"Hoje eu só quero ficar numa boa." E era com essa frase que, nos ditos dias "áureos", eu sequer podia vê-lo.
Eu estou mesmo cansada disso tudo. Mas precisava me livrar... Pelo menos dessa parte concreta, guardada por mais de um ano, e agora despejada aqui, sem máscaras, e sem preocupações, porque dificilmente alguém vai ler e se importar. E nem eu tentarei fazer com que isso aconteça (mentira, provavelmente o farei. Porque eu também estou cansada de sofrer sozinha). 

(Eu também nem sei se quero que alguém leia e/ou se importe. Eu só quero me livrar.) [Outra mentira, das várias que eu vivo contando por aí...] 

domingo, 2 de junho de 2013

Eu estou aprendendo a minha própria língua estrangeira.


Uma tese simples, apresentada a mim mesma por mim sob forma de estalo/insight, agora em elaboração:

1. Eu estou em constante comunicação comigo mesma, uma eu mais inteira, reclusa, disforme e desregulada fala com "a" eu mais externa, visível, palpável e pseudo-ordenada.
  • A eu interna não é uma separação da minha consciência. Tanto a eu interna quanto a externa têm elementos conscientes e inconscientes, em constante troca;
  • As eus se tocam, brigam e brincam, mas a que fala é sempre a externa, ainda que não saiba que está emprestando a voz à interna, servindo de mediadora. Mas são raras as vezes em que isso acontece (ou não).

2. As duas eus possuem línguas distintas. A eu externa, por sua natureza intrínseca, fala a língua inteligível a ela mesma e ao mundo circundante (ainda que com eventuais falhas). A eu interna fala majoritariamente através de alegorias, muitas vezes com referenciais perdidos no tempo e no espaço. É a língua que tem verbo, pensamento, sensação e sentimento, símbolo e alegoria, tudo misturado num caldeirão fumegante. É a língua que pensa sentindo e sente pensando simultaneamente, sem lógica aparente.

OS FINALMENTES: Para a eu externa, mais presente em si, a eu interna fala uma língua estrangeira. Elas se entendem através de gestos, olhares, expressões, mais a comunicação REAL e FACTUAL é escassa, como um sueco são conversando com um árabe louco. Contudo, a existência do árabe louco é essencial para que o sueco são se compreenda.
Além de aprender árabe, a eu externa está aprendendo o (des)funcionamento da loucura interna, e finalmente está começando a dimensionar os seus efeitos em si.

Nenhuma língua própria fica imune à presença de uma nova língua aprendida.

A economia de expressividade promove a mistura interlinguística. Em meu português, falo 'kind of' e 'fa lo stesso', que dizem muito mais que os seus possíveis ou impossíveis correspondentes em minha própria língua.

PORTANTO, vou começar a me apropriar da bela e enigmática língua a-lógica que vive dentro de mim, e colocar menos razão e mais loucura na casca de Mayara que vive no mundo.

(FIM DA PACIÊNCIA PARA A ELABORAÇÃO)
(A elaboração é muito menos bela que o estalo/insight.)

~

É a árabe louca que assustou a sueca sã com um choro sincero e compulsivo e breve no meio da tarde.
É ela que pensa as mil e uma temporalidades da vida, e as sente com a mesma intensidade com que as pensa e vive.
É ela que transforma a imorredoura saudade em monstros, castelos, nuvens, cores, sorrisos e vontades/impulsos de morte.
É ela que lamenta a saudade e o sentimento, e fecha a sueca em escusas banais, e a sueca traduz erroneamente SAUDADE por PREGUIÇA.
(Mas a gente já sabe que traduzir SAUDADE é tarefa hercúlea pra qualquer língua. Por mais que eu esteja plenamente convencida de que só as pessoas sem alma não a sintam. O que só reforça a minha teoria de que não se traduz/exprime/diz/expressa tudo o que se tem internamente, ainda que haja um esforço e um empenho para isso.)

[TUDO O QUE SE PERDE QUANDO A GENTE SE DISTRAI.]
Tudo = um universo de ideias para sempre perdidas.

Um dia eu quero escrever para sempre longamente sobre a memória e seus enigmas.

AH, LEMBREI.

A minha escrita filosófica será sobre a TEMPORALIDADE DA SAUDADE. Só que eu não sei se vou poder comentá-la academicamente.
- A temporalidade da saudade tem e não tem lugar.

Eu estou me tornando, cada vez mais (infelizmente), uma expert na saudade, em senti-la e pensá-la. E a tendência (sempre) é piorar/aprofundar.

QUE VONTADE DE GRITAR COM A VIDA:

CARAMBA, PARA COM ESSAS COISAS INÚTEIS E DESGASTANTES!

EU SÓ QUERO ELE DE VOLTA.

SÓ.

(E foi por isso que eu chorei.)

Por que esquecer é tão difícil?


quinta-feira, 30 de maio de 2013

"Porque a saudade é uma realidade na minha vida [...]"

E eu nem consegui continuar muito nessa frase, porque o nó na garganta veio com tudo e eu precisava continuar o relato.

Dentro de Mim Mora um Anjo

Quem me vê assim cantando 
não sabe nada de mim 
dentro de mim mora um anjo 
que tem a boca pintada
que tem as asas pintadas
que tem as unhas pintadas
que passa horas a fio
no espelho do toucador
dentro de mim mora um anjo
que me sufoca de amor

Dentro de mim mora um anjo
montado sobre um cavalo
que ele sangra de espora
ele é meu lado de dentro
eu sou seu lado de fora
Quem me vê assim cantando
não sabe nada de mim

Dentro de mim mora um anjo
que arrasta as suas medalhas
e que batuca pandeiro
que me prendeu nos seus laços
mas que é meu prisioneiro
acho que é colombina
acho que é bailarina
acho que é brasileiro



Cacaso




- Já que eu não consigo mais escrever, vou deixar que escrevam por mim.

This english ladybug sends you, guys, a kiss. It's very little, not to be really noticed, but only slightly felt.

[Só pra adicionar mais um símbolo de saudade, porque minha vida é all about saudade.]

domingo, 26 de maio de 2013

Hoje eu fiz da saudade uma tarde de sono

Morrendo de frio,
Com um remorso tão grande por estar dormindo que eu até sonhei com as minhas pendências negligenciadas.
[A minha eterna falta de vergonha na cara.]

Daí agorinha há pouco eu estava revendo, por acaso, as fotos da viagem
E percebi que tem um milhão de saudades sangrando dentro de mim.

Vista do Paço Alfândega

TODAS, absolutamente TODAS as fotos me matam. Essa aí foi a escolhida porque eu apareço, tem a cidade querida/maldita, e não tem a minha cara que mais me mata ao ver essas fotos - a felicidade descabida e despreocupada com que eu passei os mágicos dias. Pelo menos aí eu estou contemplativa (ou só fazendo pose de turista, mesmo).

Daí eu vi a foto do crepe e me bateu aquela fome ancestral - tanto porque faz umas boas horas que eu comi, quanto porque eu tenho fome especificamente do crepe de Olinda, o inalcançável, que só adiciona um bloquinho de frustração a mais nesse meu coração angustiado.

[Não vou colocar a foto porque não estou querendo olhar pra ela de novo.]

Na verdade, eu queria falar de um montão de coisas outras, chorar as minhas pitangas de sempre, mas sem essa auto-ironia que me desvaloriza, como se o meu sofrimento fosse pouca coisa, porque eu estou sofrendo, de fato.

Queria fazer que nem antigamente, quando eu escrevia sem medo, eu escrevia pra me conhecer... Mas aí a obrigação de ser feliz matou a minha sinceridade em sofrer. Estou eu aqui, agora, então, com esse calo na garganta, com os dedos presos, cheia de um sarcasmo para comigo mesma que me dá vontade de morrer de chorar só de pensar.

[E é aí que a moça que me salva das minhas loucuras cotidianas pergunta, "Mas você chorou?", e eu, tristemente, respondo que não.]

Eu ia colocar uma imagem MUITO mais divertida, mas essa tem a dramaticidade necessária para o momento. Para quem não conhece essa fatídica frutinha, essa é a pitanga. A eternamente chorada.


Eu tenho mesmo é que parar de desrespeitar a minha dor.
[E agora eu morri de vontade de desrespeitá-la em todos os níveis, simplesmente porque ela é ínfima perto de outras - mas essa comparação não faz sentido, sem mais (um dia eu me convenço disso).]

[Eu já usei o verbo "morrer" umas dez vezes nesse texto, já - meus deuses, a dramaticidade não diminui com a idade.]


Agora eu já me distraí da tristeza, a angústia não está mais fazendo um nó no meu peito (mentira, eu só esqueci dela), então eu só queria falar pra vocês lerem esse conto. Está editado nessa versão (que foi a única que encontrei nessa internerd) - se vocês quiserem lê-lo no original, ele faz parte do belo livro Os amores difíceis.

A aventura de um empregado de escritório
Ítalo Calvino

A Enrico Gnei, empregado de escritório, aconteceu passar a noite com uma bela senhora. Saindo da casa dela, cedo, o ar e as cores da manhã primaveril se abriram diante dele, frescos, tonificantes e novos, e ele tinha a impressão de estar caminhando ao som de música.
(...)
Já que, homem metódico que era, ter se levantado em casa alheia, ter se vestido às pressas, sem se barbear, deixavam-lhe uma impressão de descarrilhamento de hábitos, pensou por um instante em dar um pulo em casa, antes de ir para o escritório, para fazer a barba e se arrumar. Daria tempo, mas Gnei logo repeliu a idéia, preferiu se convencer de que era tarde, porque o assaltou o temor de que a casa, a repetição dos gestos cotidianos dissolvessem a atmosfera extraordinária e rica em que se movia no momento.
(...)
No banco havia um jornal aberto, Gnei o percorreu. Não tinha comprado o jornal, aquela manhã, e dizer que ao sair de casa aquela era sempre a primeira coisa que fazia. Era um leitor habitual, minucioso; acompanhava até os menores fatos, e não havia página que passasse sem ler. Mas naquele dia seu olhar corria sobre as manchetes sem provocar nenhuma associação de pensamento. Gnei não conseguia ler: talvez despertada pela comida, pelo café quente ou pelo atenuar-se do efeito do ar matutino, voltou a assaltá-lo uma onda de sensações da noite. Fechou os olhos, levantou o queixo e sorriu.
Atribuindo aquela expressão de prazer a uma notícia esportiva do jornal, o balconista lhe disse:
– Ah, está satisfeito que Boccadasse volta domingo? – e indicou a manchete que anunciava a recuperação de um centromédio.
Gnei leu, recompôs-se e, em vez de exclamar como gostaria: “Nada a ver com Boccadasse, nada a ver com Boccadasse, meu amigo!”, limitou-se a dizer:
– ...Pois é, pois é... – E, não querendo que uma conversa sobre a próxima partida desviasse a enxurrada de seus sentimentos, virou-se para a caixa, onde, nesse meio tempo, instalara-se uma caixeira jovem e de ar desiludido. – Então – falou Gnei, confidencial –, estou pagando um café e um biscoito. – A moça da caixa bocejou. – Sono, de manhã cedo? – disse Gnei. A moça aquiesceu sem sorrir. Gnei fez um ar de cúmplice: – Ah, ah! Esta noite dormiu pouco, hein? – Refletiu um momento, depois, convencido de estar com uma pessoa que o compreenderia, acrescentou: – Eu ainda tenho que dormir. – Depois se calou, enigmático, discreto. Pagou, cumprimento a todos, saiu. Foi ao barbeiro.
(...)
Seu rosto, com a toalha amarrada no pescoço, aparecia como um objeto que existe por si mesmo, e alguns sinais de cansaço, não corrigidos pela atitude geral da pessoa, destacavam-se; mas continuava sendo um rosto basicamente normal, como o de um viajante que desembarcou no trem da madrugada, ou de um jogador que passou a noite em cima das cartas; se não fosse, para distinguir a natureza peculiar de sua fadiga, certo ar, observou agradavelmente Gnei, relaxado e indulgente, do homem que agora já teve a sua parte, e está pronto para o pior como para o melhor.
“A carícias bem diferentes”, pareciam dizer as bochechas de Gnei ao pincel que as recobria de espuma quente, “a carícias bem diferentes das tuas estamos habituadas!”
“Raspa, navalha”, parecia dizer sua pele, “não rasparás o que senti e sei!”
Era, para Gnei, como se uma conversa cheia de alusões se desenrolasse entre ele e o barbeiro, que, pelo contrário, estava calado também, manobrando com empenho seus instrumentos. (...)
Em relação a seu trabalho, Gnei nutria aquele ímpeto amoroso que, mesmo inconfesso, acende o coração dos empregados de escritório, por pouco que sabiam com que doçuras secretas e com que fanatismo furioso se pode carregar a mais corriqueira prática burocrática, o despacho de indiferente correspondência, a manutenção pontual de um registro. Talvez sua esperança inconsciente daquela manhã fosse que a exaltação amorosa e a paixão empregatícia fizessem um todo único, pudessem se fundir, para continuar a arder sem apagar. Mas bastou a vista da escrivaninha, o aspecto usual de uma pasta esverdeada com etiqueta “Pendentes” para fazê-lo sentir vivo o contraste entre a beleza vertiginosa de que mal acabara de se separar e seus dias de sempre.
Girou muitas vezes em torno da escrivaninha, sem se sentar. Fora colhido por uma paixão súbita, urgente pela bela senhora. E não podia sossegar. Entrou no escritório vizinho, onde os contadores batiam, com atenção e descontentamento, nas teclas.
Pôs-se a passar na frente de cada um deles, cumprimentando-os, nervosamente risinho, sombrio, aquecendo-se na recordação, sem esperança no presente, louco de amor entre os contadores. “Como agora estou me mexendo no meio de vocês em seu escritório”, pensava, “assim me virava entre os lençóis dela, agora há pouco.”
(...)
“Este é o segredo”, decidiu, voltando para sua sala: “que a cada momento, a cada coisa que eu faço ou digo, esteja implícito tudo o que vivi”. Mas era roído por uma ânsia, por não poder nunca ser igual àquele que havia sido, por não conseguir exprimir, nem com alusões e menos ainda com palavras explícitas, e talvez nem mesmo com o pensamento, a plenitude que sabia ter alcançado.
Tocou o telefone. Era o diretor. Pedia os antecedentes da reclamação Giuseppieri.
– Veja, senhor diretor – explicou Gnei ao telefone –, a firma Giuseppieri na data de seis de março... – E queria dizer: “E aí, quando ela disse lentamente: ‘Vai embora...?’, eu entendi que não era para largar sua mão...”. – Sim, senhor diretor, a reclamação era por mercadoria já faturada... – E pensava dizer: “Até que a porta se fechasse atrás de nós, eu ainda estava duvidando...”. – Não – explicava –, a reclamação não foi feita por intermédio da agência... – E pretendia: “Mas só então entendi que era inteiramente diferente de como eu a tinha imaginado, fria e altiva...”.
Pôs o fone no gancho. Estava com a testa perlada de suor. Sentia-se cansado, agora, cheio de sono. Fizera mal em não passar em casa para se refrescar e trocar: até as roupas que usava o incomodavam.
Chegou perto da janela. Havia um pátio cercado de paredes altas e repletas de varandas, mas era como estar num deserto. Via-se o céu por cima dos telhados não mais límpido mas esbranquiçado, invadido por uma pátina opaca, assim como na memória de Gnei uma brancura opaca ia apagando qualquer lembrança de sensações, e a presença do sol era assinalada por uma mancha de luz indistinta, parada, como uma surda pontada de dor.


Será que eu fui distraída ou salva?
Será que eu devia ser salva ou permanecer remoendo a angústia?
Será que eu vou finalmente conseguir, um dia, me livrar da angústia?
Será que eu realmente preciso me livrar dela?


Ó DÚVIDA, SAIA JÁ DE MIM

domingo, 19 de maio de 2013

Duas vidas em cinco imagens, ou: O ciclo completo de uma só dor.

O início - jul/2010

A ascensão - nov/2010

A queda - mar/2011

O fim - abr/2012

O resumo da ópera - jan/2013

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Produção de presença

O grande erro foi querer trazer pra perto algo que já está perdido no tempo e no espaço.
Tenho minha parcela de culpa, é claro.
Mas o destino resolveu me testar, e eu caí que nem um patinho.
Essas coisas não são por acaso.

Que vontade de morrer. Ou de bater a cabeça e perder a memória. Esquecer é para os fortes.

sexta-feira, 29 de março de 2013

SOCORRAM-ME SUBI NO ÔNIBUS EM MARROCOS

(se você não conhece essa brincadeira, primeiro procure o que é um palíndromo - depois, divirta-se.)

Eu ia colocar o dramático título de "Socorro", mas aí me ocorreu essa brincadeira de infância, e a recordação encheu de sorrisos as minhas ideias, inicialmente melancólicas e desesperadas (pra variar).

Foi bacana, inclusive, ter tido essa lembrança, porque o elemento infantil e a consequente evocação de uma necessidade de cuidado combinaram perfeitamente.

Enfim - eu ia pedir socorro porque eu tento tento tento me livrar das complicações, mas elas sempre voltam pra mim. Sob as formas mais cuidadosas, gentis, belas e impossivelmente provocantes.

Eu devia mesmo era subir no ônibus pro Marrocos, e não voltar nunca mais.

(Desde que alguém fosse comigo pra cuidar de mim.)

(Não o alguém complicado - ninguém complicado, pelamordedeus.)

(Alguém bacana, só pra mim. Mas será que isso existe?)

domingo, 10 de março de 2013

O de sempre - é o que tem pra hoje

A saudade às vezes é um borrifado de spray, que eu sinto, com susto, me atingir o braço. Tipo um que minha mãe usa pra regar as plantas, e que de repente meu irmão mais novo aparece espirrando em cima de mim pra me irritar.
Às vezes, a saudade é aquela gota nojenta que cai bem no meio da nossa testa, pingada de algum ar condicionado perdido nos prédios da cidade. Eu, naquela pressa, correndo de um lado pro outro, e a gota maldita.
A saudade é, às vezes, uma garoa fininha, que a gente pega, desprevenido, no dia em que esquecemos de levar o guarda-chuva... Daquelas que enregelam a gente por dentro, e faz a gente querer um copo de chocolate quente, cobertor e sono sem sonho.
É, às vezes, a saudade, aquela tempestade inesperada, que varre a cidade, os prédios, as calçadas, as árvores, que faz a luz da vizinhança apagar, deixa tudo pavorosamente escuro, e alaga a avenida, não nos deixa atravessá-la, e nos aliena da chegada e do abrigo de casa.

A saudade é, muitas vezes, aqueles longos dias de chuva, cinzentos, parecidos com aqueles que o Bernardo Soares nos descreveu,

Chove muito, mais, sempre mais... Há como que uma […] que vai desabar no exterior negro...
Todo o amontoado irregular e montanhoso da cidade parece-me hoje uma planície, uma planície de chuva. Por onde quer que alongue os olhos tudo é cor de chuva, negro pálido.
Tenho sensações estranhas, todas elas frias. Ora me parece que a paisagem essencial é bruma, e que as casas (é que) são a bruma que a vela.
Uma espécie de anteneurose do que serei quando já não for gela-me corpo e alma. Uma como que lembrança da minha morte futura arrepia-me de dentro. Numa névoa de intuição sinto-me matéria morta, caído na chuva, gemido pelo vento. E o frio do que não sentirei morde o coração actual.

Ontem a saudade foi uma lembrança feliz no meio de um monte de músicas e danças;
Hoje a saudade foi um retrato voluntariamente olhado por un paio di minuti...

Amanhã, espero que a saudade seja o vento que passa, e que fala apenas sobre o vento que passa.


«Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?»

«Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?»

«Muita coisa mais do que isso,
Fala-me de muitas outras coisas.
De memórias e de saudades
E de coisas que nunca foram.»

«Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.»

quarta-feira, 6 de março de 2013

Uma descoberta


Estou encantada com o poder de auto-conhecimento que a leitura nos traz.

Parece encheção de saco de quem vive puxando a sardinha pro estudo - papo de gente que, muitas vezes, só vive de papo, e não de realidade. Esse é o meu recalque juvenil falando.

Mas agora é sério.

É impressionante como que, de repente, você entende melhor uma fase significativa da sua vida. Isso porque você apenas estava buscando informações pra escrever um trabalho de literatura brasileira (que, ai deuses!, deve ser entregue amanhã). A frase é a seguinte:

"E como a literatura dificilmente se acomoda sem um paraíso perdido para os seus ideais, assim como os clássicos viveram do mito da Idade de Ouro e da Antiguidade perfeita, os românticos foram buscar nos países estranhos, nas regiões esquecidas e na Idade Média pretextos para desferir o voo da imaginação."

CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira (Momentos decisivos). 2º volume (1836-1880). São Paulo: Martins, [1969]. p. 23.

(O Candido é um fofo, sem mais.)

Apesar do sem-número de exemplos concretos da permanência do paraíso perdido romântico na mentalidade comum da contemporaneidade - e a exemplo dos românticos -, quero analisar a minha parte nesse processo.

Na verdade, eu não queria fazer nenhuma análise longa. Deixa isso pro trabalho. Não a análise pessoal, a análise literária, eu digo.

É que eu finalmente entendi qual a relação que se estabeleceu na minha juventude entre as novelas que eu via loucamente, as bandas de metal nórdico que eu ouvia loucamente (e a consequente vontade de conhecer a Finlândia), a melancolia que sempre me acompanhou (e que eu fazia questão de alimentar) e o Álvares de Azevedo, primeiro poeta que eu li, de fato.

(E eu continuei o trajeto literário, só pra complicar ainda mais, com a Florbela. Ô, juventudezinha maldita [literariamente, inclusive].)

Pronto, só queria falar isso. Estudar é muito legal, a gente conhece sobre o mundo e, de quebra, acaba conhecendo um pouquinho mais de nós mesmos. No fundo, acabam sendo ambos (mundo e indivíduo) uma mesma coisa.

Beijos :*