domingo, 2 de junho de 2013

Eu estou aprendendo a minha própria língua estrangeira.


Uma tese simples, apresentada a mim mesma por mim sob forma de estalo/insight, agora em elaboração:

1. Eu estou em constante comunicação comigo mesma, uma eu mais inteira, reclusa, disforme e desregulada fala com "a" eu mais externa, visível, palpável e pseudo-ordenada.
  • A eu interna não é uma separação da minha consciência. Tanto a eu interna quanto a externa têm elementos conscientes e inconscientes, em constante troca;
  • As eus se tocam, brigam e brincam, mas a que fala é sempre a externa, ainda que não saiba que está emprestando a voz à interna, servindo de mediadora. Mas são raras as vezes em que isso acontece (ou não).

2. As duas eus possuem línguas distintas. A eu externa, por sua natureza intrínseca, fala a língua inteligível a ela mesma e ao mundo circundante (ainda que com eventuais falhas). A eu interna fala majoritariamente através de alegorias, muitas vezes com referenciais perdidos no tempo e no espaço. É a língua que tem verbo, pensamento, sensação e sentimento, símbolo e alegoria, tudo misturado num caldeirão fumegante. É a língua que pensa sentindo e sente pensando simultaneamente, sem lógica aparente.

OS FINALMENTES: Para a eu externa, mais presente em si, a eu interna fala uma língua estrangeira. Elas se entendem através de gestos, olhares, expressões, mais a comunicação REAL e FACTUAL é escassa, como um sueco são conversando com um árabe louco. Contudo, a existência do árabe louco é essencial para que o sueco são se compreenda.
Além de aprender árabe, a eu externa está aprendendo o (des)funcionamento da loucura interna, e finalmente está começando a dimensionar os seus efeitos em si.

Nenhuma língua própria fica imune à presença de uma nova língua aprendida.

A economia de expressividade promove a mistura interlinguística. Em meu português, falo 'kind of' e 'fa lo stesso', que dizem muito mais que os seus possíveis ou impossíveis correspondentes em minha própria língua.

PORTANTO, vou começar a me apropriar da bela e enigmática língua a-lógica que vive dentro de mim, e colocar menos razão e mais loucura na casca de Mayara que vive no mundo.

(FIM DA PACIÊNCIA PARA A ELABORAÇÃO)
(A elaboração é muito menos bela que o estalo/insight.)

~

É a árabe louca que assustou a sueca sã com um choro sincero e compulsivo e breve no meio da tarde.
É ela que pensa as mil e uma temporalidades da vida, e as sente com a mesma intensidade com que as pensa e vive.
É ela que transforma a imorredoura saudade em monstros, castelos, nuvens, cores, sorrisos e vontades/impulsos de morte.
É ela que lamenta a saudade e o sentimento, e fecha a sueca em escusas banais, e a sueca traduz erroneamente SAUDADE por PREGUIÇA.
(Mas a gente já sabe que traduzir SAUDADE é tarefa hercúlea pra qualquer língua. Por mais que eu esteja plenamente convencida de que só as pessoas sem alma não a sintam. O que só reforça a minha teoria de que não se traduz/exprime/diz/expressa tudo o que se tem internamente, ainda que haja um esforço e um empenho para isso.)

[TUDO O QUE SE PERDE QUANDO A GENTE SE DISTRAI.]
Tudo = um universo de ideias para sempre perdidas.

Um dia eu quero escrever para sempre longamente sobre a memória e seus enigmas.

AH, LEMBREI.

A minha escrita filosófica será sobre a TEMPORALIDADE DA SAUDADE. Só que eu não sei se vou poder comentá-la academicamente.
- A temporalidade da saudade tem e não tem lugar.

Eu estou me tornando, cada vez mais (infelizmente), uma expert na saudade, em senti-la e pensá-la. E a tendência (sempre) é piorar/aprofundar.

QUE VONTADE DE GRITAR COM A VIDA:

CARAMBA, PARA COM ESSAS COISAS INÚTEIS E DESGASTANTES!

EU SÓ QUERO ELE DE VOLTA.

SÓ.

(E foi por isso que eu chorei.)

Por que esquecer é tão difícil?


Um comentário:

:)