sexta-feira, 17 de maio de 2024

tornar-se mulher

minha mãe teve um longo tempo de observação
da minha curiosidade intensa por
suas caixas
seus cabides
seus estojos
seus envelopes
suas carteiras
seus armários
- nossa, quantas portas,
quanta vida,
quanta memória

antes eram só
objetos banais;
hoje consigo senti-los doendo
no meu coração
como fragmentos-fisgadas de duas histórias:
da minha mãe
e da minha própria
 

quinta-feira, 16 de maio de 2024

pra que canções de amor

se o amor está morto?

que sejam canções fúnebres,
de modo que, representando o real,
nós possamos despertar

e pensar em despertá-lo

(mas não se engane,
esse não é um poema tão esperançoso assim...)

domingo, 12 de maio de 2024

à sombra, um novo lugar

o beijo de Eros em minha alma alheada.
quem te beijou fui eu –
quem quis,
quem fui,
quem fiz.

sob tal responsabilidade, respondo como
quem banca o próprio desejo –
"sem apego ao fruto",
tenho dito às minhas pupilas,
para que também elas tenham coragem
de dar o salto de fé no escuro.

sem as lentes, as formas difusas
ganham um grau a mais de angústia,
esse anseio doloroso.

à luz da janela noturna
diviso, mesmo assim, seus contornos,
fantasma do meu desejo ganhando corpo.

domingo, 5 de maio de 2024

laudo inconclusivo

pensamos, pensamos, pensamos
falamos - falei um bocado
chorei largado, que é o que eu faço
daqui pra frente, ainda não sabemos bem

o que fazer?