terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Ressuscitando um passado criativo e sentimental [1]


20/08/2008

Hoje eu vaguei, insone e iludidamente feliz, pela poesia. Um vôo incrível, rasante, há tanto desejado... Era disso que eu precisava, um vôo pleno e puro que fizesse esquecer da terra e seus aborrecimentos concretos.

Mas a dor na coluna e a preocupação com a aula no dia seguinte me cortaram as asas, e eu caí, seca e fria, no duro chão da realidade.

Chorei por lembrar da vida - quis chorar até morrer, até me acabar, sem mais lágrimas e sem mais razões para querer morrer.

Eu quis me fazer a poesia mais melancólica, para ser fechada pesadamente dentro de um livro triste e esquecido. Queria ser o mal ultra-romântico, e não a luz árcade. Mentira; eu não tenho exigências. Só queria ser poesia, só queria ser esquecida.

E é tão vão o querer! Eu quis morrer para o mundo e, plenamente contrariada, alguém me deu asas, me chamou de fênix e mandou que eu renascesse.

Enfim, eu voava mais uma vez, e não mais contemplava: eu era poesia. Não quero ser poeta, não quero ser o criador, quero ser criatura. Eu fui criatura, e voei, por mais que eu não quisesse ser percebida. O esquecimento ficou nas cinzas, e eu renasci livre; neste dia, choveu uma chuva vermelha. Lágrimas de uma paixão que eu libertei. Palavras despencaram do céu, e orquídeas floresceram, cheias de amor e estranheza, nos campos sem esperança.

Eu estou louca e dolorida. A poesia me liberta do mundo, mas não sei quando me tornarei livre dessa dor pulsante e viva que me prende às correntes da contradição e da tristeza - dentro de mim.

Sou poetisa que nasce e renasce com as primaveras. Mas a Tristeza do Infinito que mora nos invernos sempre anda a me assombrar, como uma lembrança maldita de uma aposta perdida. Perdi minhas flores, perdi meus frutos. Uma primavera fria, seca e cinza.

Quando é que eu poderei voltar a florescer?

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