domingo, 9 de janeiro de 2022

A sereia cósmica

Segundo conta a mitologia dos filhos de Gaia da era pós-antropoceno,
A vaga de vida que anima seu planeta é uma sereia cósmica:
Seus longos cabelos holográficos refletem todo o espectro de cores visível ao olho humano,
Como um aleph minimalista: as formas são um excesso;
Seus fartos seios são a matriz que nutre todos os esfomeados da terra,
Atordoados ante o absoluto abandono em que se encontraram
Depois do ocaso do capitalismo;
A cauda de peixe permite que ela navegue pelo espaço sideral livremente
- Seu corpo é capaz de transitar por entre os mais diversos meios,
Sendo ele próprio feito da misteriosa matéria dos buracos negros:
Dominado o paradoxo presença-ausência, regula a si mesmo nas diferentes densidades.

(A cauda de peixe impede a cobiça dos comerciantes guerreiros, falocêntricos estupradores.
Mas ela é capaz de transmudar-se em esbelta dama que,
Nos inferninhos noturnos,
Entre drinks e tragos,
Se permite, também, a sua cota de prazer terreno.)

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