domingo, 30 de abril de 2023

dos dias que passam

há coisas que retemos
- e eu não me furto em fazê-lo com frequência - 
mas há aquelas para as quais
não há salvação
- e essa é uma ideia que me fere de morte.

um mundo estável era tudo o que eu mais queria
sem saber que a saúde está no movimento,
e que tudo muda o tempo todo no mundo,
e que nada será como antes amanhã.

um mundo estável, sim,
e radicalmente amoroso
- e eu pensava que poderia criá-lo
só com a força da minha obstinação,
sem saber que abrir caminho com a testa
contra a pedra dura
é mais do que masoquismo:
é burrice.

há coisas que retemos
- uma lembrança de dias enevoados
em que dividíamos uma descoberta pueril
do mundo externo 
atentando aos detalhes que faziam dele algo belo,
tão diferente do que tínhamos em nossos abrigos,
ninhos partidos, cheios de insegurança
e dor -

e há coisas que deixamos passar,
porque não é com a testa que abrimos caminho:
é com as águas moles do mar bravio
ou as águas fluidas do rio turbulento
que passam lavando as pedras das nossas mágoas

e algo se parte, mesmo,
e não há salvação
além de seguir em frente
- porque a sorte é que
existe vida possível
depois da insalubridade
que pensávamos ser amor.

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