domingo, 27 de maio de 2018

ventos de maio

Se alguém pudesse me filmar durante algumas horas numa visão de cima, como um observador onisciente focado em uma única criatura - para perceber como as pessoas lidam com a dinâmica do cotidiano -, me veria rodando tontamente de um lado para o outro, sem saber exatamente o que fazer com a imensa dádiva das horas em que se respira.

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24/05/2018

Não sei o que quero de você, não sei o que quero de mim.
Abraçar esse imenso mal-estar e me proteger do bombardeio do real é tão necessário - mas como fazê-lo?
Me permitir estar saturnina e melancólica no mundo, a despeito de precisar de um colo que eu necessariamente vou ferir. Quem aceitaria se permitir ferir para, de fato, me acolher?
Quero um longo abraço silencioso dentro do qual eu livremente derrame essas lágrimas ácidas retidas nos meus olhos culpados e medrosos.
Eu não consigo sustentar minhas relações afetivas.
Eu não sei sustentar minhas relações afetivas.
Eu não tenho energia para sustentar minhas relações afetivas.
As relações afetivas me ferem de forma abissal.
Existe isso de você se deparar com alguém que não te permita ter nem a sombra de dúvida ou hesitação?
Quando é que eu conseguirei me colocar em relação sem que a dúvida me massacre TANTO a ponto de eu achar menos danoso para mim e para o outro que eu permaneça tão só comigo mesma (e arredores inevitáveis)?
Hoje eu sou só o verde dos olhos de Saturno, mergulhada profundamente entre os deuses estranhos e selvagens om os quais eu me identifico, entre os quais eu me sinto compreendida e em paz. De vermelho, só o sangue que se desprende tristemente das minhas entranhas e a tinta dessa caneta, que sequer tem a dignidade de uma tampa que proteja sua potência criadora da violência das intempéries.
Eu existo, e isso é uma dor infinita.
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As linhas do meu labirinto pessoal são duras como paredes de pedra - medievalmente pesadas. Mas úmidas, viscosas: cobertas de sangue escuro, mortificado pela bile negra que o contamina. Os rastros que deixo pelo caminho não tardam em falhar: o minotauro que me persegue devora os pedaços de mim que se desprendem a cada passo.
Faz muito frio aqui dentro.
Por que o seu fluido é menos sujo que o meu?
Gozar também é uma forma de sangrar e morrer.
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O labirinto é um jogo com regras?
É possível aprender as regras dos nossos labirintos internos?
É possível limpar as paredes do meu labirinto,
Substituir suas pesadas pedras por frondosas árvores de raízes muito bem plantadas e localizadas?

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Hoje eu não quero nada além de silêncio e palavras, minhas palavras e palavras dos autores que escrevem com a caneta e com a alma. Mais nada.

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