quinta-feira, 29 de setembro de 2022

tunnel vision

tudo o que não sei corre pelo mundo de forma difusa,
incorporado em múltiplas formas que fervem,
fornalhas vivas de núcleo ardente
que nascem de forma análoga às mais vertiginosas
explosões cósmicas.

de seu momento mais fresco, quente e úmido,
o corpo-vivo vai crescendo e secando.
"no topo do ponto mais alto da serra de Petrópolis
encontraram vestígios de fósseis marinhos.
o que isso significa?
isso tudo era mar. foi secando."
saída da úmida infância, Gaia revela
seus filhos feitos de barro: terra encharcada.

"aquecimento global... eu tenho a minha teoria:
a Terra está esfriando"

os rebeldes filhos revolvem suas entranhas,
extraem suas vísceras e, com engenho e arte,
projetam-nas aos céus em busca de respostas
para sua mais antiga angústia:
a solidão universal.
"o que é o Hubble? minério."
minério, sim,
e infinitas noites e dias de trabalho mental, acrescento.

(as quatro questões mais candentes:
liberdade, envelhecimento, solidão e morte)

serra acima, uma face do tudo-que-eu-não-sei
desfia seu rosário de sangue: 
o suspiro discreto de um peito cheio de dor,
a garganta presa por um bolo de mágoa,
desolação, pensamento,
ritmo, música, afeto
e nesse bojo,
diamantes, rubis e esmeraldas da alma.
o outro é meu abismo e meu tesouro.

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