Eu queria viver na penumbra.
A luz da penumbra tem uma aura diferente. Quando é tarde indo pra noite, os dias frios têm um respirar acinzentado. Essa é a penumbra de ficar debaixo dos cobertores, como em uma cabana, com uma xícara de chá, observando a janela, vendo a noite cair. Também pode ser uma luz incidental na janela da sala, em um cômodo bem amplo, cheio de ar frio, com uma fria luz de tela ligada em uma distração qualquer.
Quando é noite indo pro dia, a madrugada é sempre suficientemente fria e encantadora. A luz muito muito azul faz o ar virar água, a terra, oceano; e a vontade é de ficar vagando sem rumo certo pelas ruas desertas, como se os seres tivessem realmente desaparecido e o mundo estivesse pedindo para que começássemos tudo outra vez.
Essas luzes exóticas exercem um encantamento incomum.
Todas as luzes do dia são lindas e vibrantes, cada uma à sua proporção; às oito da manhã a luz é mansa, ao meio-dia ela é feroz, às quatro da tarde ela é morna.
As luzes da noite, gélidas como o corpo de Artemis, não são estéticas, são melancólicas. Nelas não ficam gravadas imagens, apenas sensações.
Dia e noite, ambos vulgares.
A penumbra do anoitecer frio e a do amanhecer, sempre fria, são uma mistura do que tem de melancolia na luz noturna e de estética na luz diurna. Pode ser isso que dê a elas um aspecto tão mágico.
(Mas a minha preferida há de ser a penumbra do amanhecer, porque ela não tem a agitação da vida lá fora. O entardecer é mar bravio; o amanhecer, oceano profundo.)
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