terça-feira, 6 de junho de 2023

quintíptico carioca

certo rio de janeiro é

um torso grego

em que me espalho
primeiro com medo
descosturando camadas
de tecidos ansiosos
que abafam meus histéricos
anseios
de engolir a cidade
com a boca faminta
pelo que é novantigo
notívago
um desejo frio
arrepio angustiado
ante o tanto que há
a versaberfazer
tão denso e concentrado
um atentado
contra os meus frágeis nervos

um obelisco de mármore

ao redor do qual orbito
irresistível magnetismo
opressivo campo gravitacional
que me esmaga na densidade
de sua massa erigida
no umbigo do novomundo

um cenário utópico

em que minhas fantasias aprendem a
se perder
muito, muito tempo depois
(tempo até demais)
de conseguirem se encontrar:
no espelho das vidraças
consigo mesmas
nas esquinas da ilusão
umas com as outras

uma cidade pós-apocalíptica

onde as formigas circulam
dia-e-noite, dia-a-dia
nos labirintos de alvenaria
com suas luzes infinitas
que disputam com as estrelas
estrelestroboscópicas
starlink vermelhibranco
a refletir a luz solar
como há éons faz
a lua

uma imensa sedução

aterradora visão
de suas baías e enseadas
cravejadas de berloques
de tantas décadas
séculos
resumidos na minha fissura
pela gigantesca e delicada
perna de cimento e metal

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