domingo, 14 de agosto de 2022

imperfect illusion

(per)feita: criada pelo eu, sobre si e o outro, em mínimos detalhes
- ilusão, generoso véu com que Maya oculta
a vertigem da estrutura fractal da matéria,
a serpente bioluminescente que navega as salgadas águas das células,
a ruptura e o desencontro incontornáveis
que resultam, mais ou menos hora,
do corajoso ato: o salto no escuro.

(I take, I take
the illusive leap of faith
)

"De novo ele me agita,
Eros, o deus que desata os membros,
doce-amargo, indomável,
sombrio animal." (Safo)

(em grego, o animal é a serpente)

mas do perfeito engenho universal
há algo que escapa, refugiando-se
no segundo mo(vi)mento em que o Cosmos se cria:
o metaverso da linguagem.

(nessa imperfeição está o risco,
a radicalidade do fazer ser ou não ser,
gesto que resiste à natural deriva:
irrupções de Caos e/ou Eros,
as duas tonalidades que podemos escolher
ao assumir nossa própria divindade:
o poder de destruir e/ou criar)

(É o Diabo, é o Diabo
todo este atrapalho
tão terrivelmente próprio aos meus instantes de escolha;
um meter constante dos pés pelas mãos,
essa bagunça enorme: luz e vísceras...)



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