quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

No palácio da memória

Primeiramente, temos de partir do princípio de que é um palácio arruinado, suspenso fragilmente sobre um poço profundo onde rugem águas negras, turbulentas, que correm como um rio subterrâneo. 

É um palácio cheio de portas trancadas, cujas chaves eu escondi de mim mesma e esqueci onde as coloquei e não sei se quero encontrá-las ainda também. Pressinto dores excruciantes por trás dessas portas.

Percorro automaticamente seus caminhos mais familiares, em redor dos quais espalhei objetos belos, coloridos, vibrantes e alegres para me distrair do que a estrutura geral tem de lúgubre.

Pedaços se desprendem, vez ou outra, e caem no poço. Luto contra esse desprendimento (alheio a mim), e vivo na ansiedade de descer ou não às profundezas para verificar o quanto de "mim mesma" é recuperável. No geral, o desânimo me vence.

O devaneio é o modus operandi da sobrevivência. Sempre foi. Até quando?

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