quinta-feira, 5 de março de 2020

CUIDADO!

A pessoa que te dissuade de se formar intelectualmente tem inveja de você e/ou não quer o seu bem.

(Veja bem, eu já perdi amizades por causa disso. É algo realmente importante para a minha existência individual.)

Nós sabemos o quanto o processo de estudar é penoso. Amar o conhecimento exige dedicação o suficiente para que você abra mão de um prazer simples para expandir a sensibilidade para prazeres mais complexos. Exige paciência, concentração - vários atributos que o nosso estilo de vida capitalista contemporâneo vêm atrofiando cada vez mais com suas seduções anestesiantes.

Quem escolhe, de forma mais ou menos consciente, não se contentar em apenas receber o que é dito pelo senso comum como verdade posta e imutável, necessariamente vai precisar fazer um ESFORÇO pra isso. De fato, é muito mais cômodo repetir ad infinitum as imensas bobagens que a gente escuta por aí - é ATERRORIZANTE encarar a realidade em toda a sua angústia e contradição. Eu sei disso.

Daí o sujeito vira e diz que "um diploma não é tão importante assim".

É sério?

Em um país como o Brasil, com a nossa tenebrosa tradição colonial, com todo o projeto político de emburrecimento das massas promovido pelos diversos canais de comunicação aí postos (a Rede Globo como o exemplo mais óbvio, mas dá pra ser mais específico e ir achando níveis cada vez mais cruéis dos sistemas de dominação e violência simbólicas) e pelas políticas públicas (de governos que tendem cada vez mais a um autoritarismo fascista aniquilador das diferenças e, em última instância, da Natureza e do próprio ser humano), que vêm desmontando a educação (no sentido de FORMAÇÃO DO SER HUMANO PARA A AUTONOMIA DO PENSAMENTO) desde a base até o topo das nossas já frágeis estruturas

É SÉRIO que a pessoa tem a pachorra de dizer, em outras palavras,

"ei, você aí, que está cansado de ser explorado pelo seu patrão, você só precisa aprender a se comunicar melhor que a sua vida vai melhorar, você não precisa de um diploma"

Essa pessoa não foi encarar a realidade HUMANA do mercado de trabalho brasileiro.

Pode ter conversado com muitas pessoas, viu muitos casos individuais, ouviu muitas histórias, mas, com o seu diploma confortavelmente guardado debaixo do braço, tem a pachorra de dizer para o outro para não investir em algo que é muito mais importante do que um pretenso "sucesso financeiro".

Primeiramente, porque nós estamos presenciando a precarização de TODOS os postos de trabalho (todas as formas humanas, relativas aos "não-dententores dos meios de produção", de ganhar o pão nosso de cada dia, que Deus definitivamente não dá de graça), aprofundando radicalmente os nossos abismos sociais, e a desinformação que representa você dizer ao outro para não investir em si mesmo intelectualmente tem um cheiro quase fascista. Você quer seduzir o outro, dissuadindo-o de PENSAR porque o "sucesso financeiro" é mais importante?

(Isso porque eu ainda não falei das pessoas que ganham dinheiro com esse tipo sórdido de sedução, fica pra outra hora.)

Segundamente, convenhamos, o que é "sucesso financeiro" na fila das necessidades humanas? O que significa ser bem sucedido como ser humano?

Todos precisamos pagar as contas, isso é a grande verdade. Dentro do capitalismo, se você não faz parte do 1% que concentra a renda produzida pelo sangue, suor e lágrimas dos outros 99%, você está fodido pro resto da sua vida nesse sentido. Bem-vindo ao mundo como ele é.

Deixe-se seduzir pelas quinquilharias brilhantes da "burguesia" colonial (colares e espelhinhos, o que os portugueses ofereceram pros povos nativos brasileiros antes de LITERALMENTE estuprá-los), que compactua com a opressão promovida por aqueles que realmente têm "sucesso financeiro". Você realmente não precisa de um diploma, você precisa pagar 300 reais em uma garrafa de vinho e achar que isso é ter "sucesso".

Pra mim, sucesso é ter empatia com TODA a humanidade, não podendo admitir que existam famílias vivendo com o que você gasta mensalmente construindo seus pequenos castelos de segurança pequeno-burguesa hipócrita.

Beijos de luz, ou não.


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