sexta-feira, 14 de julho de 2017

A quarta Rainha, parte III

É para não perder meus olhos de chorar tantos rios,
E para não perder os poucos fios de algum juízo que talvez me reste:
Te escrevo.
Endereçada qual sentimental carta à moda de remotos tempos,
Com todo o deplorável – porque anacrônico – clichê que ela representa.

Já te falei um tanto de coisas... Tudo deveria ter sido calado
– mas não consigo me calar.
Das chuvas que enregelam o coração
– mais do que o silêncio imposto?
Dos desvarios, dos castelos partidos, esses símbolos
Que progressivamente remetem à absoluta ausência de lógica em tanta construção
Justo porque você não me provoca sentido, mas presença.

À moda de remotos tempos, e sem a mesma disposição mental, suspiro dolorida, coração arfando sangue escuro, intenso, sem ar.

Duas represas de angústia pendem dos meus olhos ressecados, apoiados em mãos frágeis, mas fortes em ação.

Dói, dói: tudo dói. A lembrança de você
Delicadamente se esquivando,
Partindo entre longos dedos bilhetes de bem querer – de procedência incerta.
A vontade de te ver, e a frustração de não encontrá-lo,
O errante vagar ruas afora, buscando o típico ruído
Que alimenta minha vertigem de te pressentir perto:
Isso é paixão, e dessa paixão se morre e se mata.

Queria qualquer coisa semelhante a um beijo que aplacasse esse incômodo de querer e não ter – tão infantil, veja só você.
(Será que aplacaria?)

A paixão é egocêntrica. Ela se mobiliza em torno de satisfações pessoais, é claro. Não pense que eu vejo qualquer traço de nobreza ou abnegação no meu desejo. Só há rompimento, inconsequência, transgressão. Tudo o que você, por si, representa. Tudo o que você, em decorrência disso, me provoca.

Tanto já te escrevi
(Para desafogar meus olhos, coração, garganta)
Sem conseguir ser precisa em meu objetivo inicial
(Sem surpresas até então):
Não sei o que seu desprezo encobre
(E imagino que não seja desprezo o que você autenticamente guarda em silêncio)
Mas não se ocupe demais em parecer o que ser que seja:
Em algum momento, você será meu.

Na desconhecida hora em que tiver que ser,
Pela eternidade dos desconhecidos segundos que o qualquer-coisa-como-um-beijo tiver que durar.

Depois disso – tenho angústia, mas controlo a pressa –
Eu fico em paz.

(Será?)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

:)