sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

E eu gostava tanto de você...


Um dia colhi uma flor amarela no muro pichado, e te ofereci entre os seus protestos constrangidos...
Fizemos listas de coisas estranhas para fazermos, e eu ria largamente da nossa inocência...
Comprei um livro para te mostrar que as ideias são muito maiores do que as nossas convicções...
Discutimos por horas sobre o passado, o presente e o futuro, com a crença de que a vida só tinha valido a pena porque nos havíamos conhecido...
Confessei que, com você, moraria até em uma caixa de papelão...
E por você eu sorria e chorava, eu gritava e calava, e sempre nas horas erradas, porque estar apaixonado geralmente traz um grau de insanidade...
Andava pelas ruas procurando por você, e quando meus olhos míopes percebiam algum movimento ou forma familiar, o coração disparava e as mãos tremiam - mesmo se eu estivesse enganada...
E eu via seu rosto nas nuvens, e ouvia sua voz nas músicas, e todo toque macio parecia-me o toque das suas mãos, mas nenhum doce comparava-se ao sabor dos seus lábios...
E eu fugia, e me arriscava, e aceitava qualquer condição para ter você mais tempo perto de mim - e nunca o tempo que tínhamos parecia satisfatório...
E nós trocávamos livros, músicas, filmes, histórias, problemas, soluções... E compartilhávamos tristezas e sonhos, opiniões e ideais... Divergíamos, e nas nossas diferenças encontrávamos aquilo que nos completava...
E a cidade cinzenta e feia nunca havia sido tão romântica, naquele dia chuvoso em que silenciosamente caminhávamos, em uma contemplação de tudo e de nós mesmos...
E eu vivia com um sorriso bobo quando ouvia você falar de coisas sérias, e eu ria de uma maneira tola quando você falava de coisas engraçadas... E sempre me achava mais idiota do que o aceitável, mas se você me aceitava nada mais importava...
E tudo tomava proporções gigantes, e viver era intenso e colorido, e todas as cores pareciam vibrar, e os sons belos ficavam nítidos, e as cacofonias tornavam-se inaudíveis...
Era leve respirar. Não havia fardo que não pudesse ser carregado.

Ah! Eu gostava tanto de você!...

3 comentários:

  1. Gosto da maneira que tratou o que sente nesse texto principalmente por me identifica em partes! É bom ler isso tudo e não se sentir tolo ou sozinho no que se percebe da vida! (: Você é uma das blogueiras que mais admiro! ^^

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  2. E eu.... gostava tanto de você; virou axé: brincs ;-)

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  3. Estar apaixonado é estar em estado-de-poesia.

    Nesse estado, coisas antes ocultas são vistas, e sentimentos antes adormecidos, reaparecem, fazendo bem ou mal. É uma consequência do "estado-de-poesia", sentido por poucos e apreciado por... (não tão) muitos.

    "...porque estar apaixonado geralmente traz um grau de insanidade..."

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:)