sábado, 6 de setembro de 2008

Pequena crônica de amor II;


Hoje eu sonhei com você, de novo.


Não pude deixar de me deter em detalhes que talvez fossem insignificantes, mas que conseguiram me fazer vislumbrar a que grau ínfimo encontram-se as minhas esperanças. Sabe qual foi a situação em que eu finalmente consegui sentir ser recíproco o meu amor e cuidado?

Você estava morrendo.
Sim. Foi uma constatação tão triste...

Eu lia o desespero em seus olhos - olhos de alguém deveras preso à matéria. Por toda a minha vida, era esse o seu mal que eu queria ajudar a combater. Agora que você sentia a vida escapando por entre os seus dedos, você recorreu a mim. Eu me perguntei: por que o meu alento? Que eu saiba, você jamais fora solitário... Mas agora tudo mudou. Os amigos, as mulheres, todos desapareceram. Quem restou, afinal?

Essa pequena alma que vos fala.

E não me incomoda, sinceramente, a guinada que seus sentimentos deram. De repente, você me apertou em um abraço frio, sedento de calor... E meu corpo irradiou alegria. Mas minha alma... Ela chorava tanto!

O que mais me incomodou - na verdade, entristeceu-me profundamente - foi descobrir o quão solitário você era. Uma alma vagando, sozinha, em meio a outras almas adormecidas. Chorei por ver o quão medíocre era a sua vida. Eu me importava tanto com você...

Você recorreu ao meu alento, talvez por saber que o meu amor, mesmo tão ferido, seria incondicional. E eu não recusei o seu pedido: estendi os meus braços, velando seu corpo e sua alma até o momento derradeiro.

Não porque eu me contentava com as migalhas do seu afeto; creio que essas sensações já não mais me afetavam. Porém, senti que você queria algo que ninguém mais, no mundo todo, poderia dar. Um conforto indizível, que só podem oferecer os corações dotados do mais puro amor. E eu era assim, eu era toda amor.

Cuidei de você até você partir.

E meu coração... Ficou dilacerado, despedaçado, jogado ao canto da sala, pulsando fraca e tristemente.
E a minha alma não chorava. Estava imersa em paz, uma paz imperturbável.



Hoje eu sonhei com você, de novo. Essas foram as minhas sensações, que se fizeram cruelmente reais... Eis aqui a minha esperança, então. E o que eu desejo... Ah! O que eu mais desejo... É não ter que ver concretizados esses meus mal-fadados sonhos.

Um comentário:

  1. Profundo mas lindo!!!
    Quando se tornar uma escritora famosa, publique essa crônica!

    Beijos
    =**

    ResponderExcluir

:)