terça-feira, 9 de setembro de 2008

Das expectativas;


É noite escura. Toca a campainha. Meu coração gelado dá um salto dolorido... Eu não sei quem vem até mim, mas sei que não é quem eu quero ver. Quem eu mais desejo ter próximo a mim será a última pessoa a lançar-se ao meu encontro. Preciso de uma chance de livrar-me dessas minhas divagações paranóicas, para tentar ser feliz.


Eu hesito. Não quero ver ninguém... Não quero mostrar falsos sorrisos, não quero ter que mencionar uma palavra sequer - ninguém é bem-vindo agora. Não estou com paciência para dar desculpas. Não quero ter que partir meu coração ao matar a última esperança que ainda me ilumina o olhar e me motiva a viver; essa esperança que é tão ínfima, tão fraca...


Meus braços e pernas se fazem pesados, como se meu corpo ordenasse, inconscientemente, que eu não fosse atender a quem quer que seja. Como se cada célula minha soubesse do dilema que está me matando, julgando ser melhor não terminar de me dilacerar. Valerá a pena permanecer nessa agonia?


A campainha toca novamente, e meu coração se contrai com uma força desigual. Está dizendo: "vá, mexa-se, como saberá o que pode acontecer?" E eu não sei se quero ir... Sei que não há possibilidades reais de ver meu ilustre desconhecido; o que ele sabe do que eu sinto? Por que ele viria amenizar meu sofrimento, se não faz nem idéia da minha asquerosa existência?


Mas ainda arde em meu sangue aquela remota e idealizada possibilidade. Sou uma contradição viva: razão e sentimento estão numa luta inenarrável e completamente estafante - dentro da minha mente. Já posso sentir os efeitos físicos. Minha cabeça dói, meus músculos estão rígidos, tremo descontroladamente, sinto muito frio.


Um vento cortante entra pela janela... As cortinas esvoaçantes assemelham-se a fantasmas; como se não fossem suficientes os fantasmas que naturalmente me assombram, tenho que presenciar essa ridícula concretização dos meus medos estúpidos. Uma chuva fina começa a cair; apago as luzes. Sinto um frio ainda mais intenso.


O ambiente escuro me permite descansar um pouco; meus olhos já não suportam mais imagens. Porém, a escuridão abre as portas da minha alma para os desvarios me enlouquecerem; se não vejo, imagino muito mais. E as asas da minha imaginação estão perigosamente livres.


Liberto, enfim, um choro compulsivo. Essa expectativa está insuportavelmente torturante - ir ou não ir? Destruir de uma vez as esperanças ou padecer eternamente, imersa na dúvida? Não sei de que maneira eu sofreria mais. Repentinamente, faço uma constatação absurdamente lógica: meu visitante já deve ter ido embora, afinal. Creio que ninguém teria tanta paciência para com minhas loucuras e tolices. Ao perceber isso, afundei-me no sofá, e desejei desaparecer do mundo. Fiquei imóvel, minhas forças estavam completamente esgotadas. A chuva começou a despencar fortemente.


Meus olhos estavam prestes a se fechar, quando a campainha tocou pela terceira vez. Matei meus sentimentos; o pragmatismo mandou-me acordar e reagir - estava sendo excessivamente irracional. Levantei-me num salto, senti-me tonta. Gritei rudemente: "já vou". Fui arrastando os pés, sem vontade alguma de continuar a viver. Como se o amor em mim fosse uma criança mimada e exigente, que opta por morrer ao invés de encarar a realidade. Maldita sentença natural.


Caminhei com enfado até a porta. Coloquei a chave lentamente, pensando: "ainda estou em tempo de desistir". Ouvi um farfalhar de jeans do outro lado da porta, uma respiração ofegante. Senti mãos pesadas baterem docemente na porta, como se me instigassem a abrir logo. Uma tentação para a minha implacável curiosidade. Não destranquei a porta, parei covarde e estupidamente. Dilema: pragmatismo e romantismo.


Até que uma voz vagamente familiar, gracejante e irônica disse, do outro lado da porta: "desistiu?" Meu coração disparou. Fiquei terrivelmente trêmula. Sensações inefáveis me dominaram.


Virei a chave com um esforço descomunal. Todas as minhas energias se haviam esvaído; não sentia meu coração bater. Mesmo que as esperanças estivessem incontavelmente multiplicadas em mim, sentia-me quase morta. Eu não era forte o suficiente para agüentar tantas e tamanhas emoções; estava congelada.


E agora? Será ele?


Abri a porta. Um sorriso lindo reluziu à minha frente, uma voz suave me disse: "eu esperaria o tempo que fosse necessário." Transmutou meu inferno em um divino paraíso: inexplicavelmente, era ele.

3 comentários:

  1. Lindo texto!
    Ilustrou aquela esperancinha que a gente sempre tem mesmo nas situações mais desgostosas da nossa vida.
    Eu mesma ando sentindo isso, mas não dei tanta sorte quanto a personagem :]
    Aliás, é verídico?
    HEUAHEAHEUAHEA

    Te amo e vê se dá notícias, sirigüela! ;**

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  2. Agora sou que lhe peço perdão por não ter visto seu comentário antes. =/

    O fruto proibido...
    O inexorável desfecho do não-permitido, do oculto.
    A descoberta fatal e o arrependimento singularmente simultâneo.
    Benção/Maldição.
    O píor de todos os males...

    [Espera]ança


    Gostei do seu refúgio...
    Ah... E quanto ser amigo do Will... Boa pessoa. ¬¬
    Eu num sei se sou tudo isso não... =D
    Ele tá sumido... Quando tiveres notícias dele... Mande um abraço a ele por mim.

    Até mais menina!

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  3. já disse que amo seus textos x.x'~ (espero) são belos e tão.. sabe, tão, tão!, e uma forma muito diferente :D'

    saudades, subrinha.
    in-fi-ni-tas!
    espero que esteja bem.
    amo-te.
    (L)

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:)