domingo, 28 de abril de 2024

raízes

a delicadeza da flor me chamou:
atraída pelas cores iridescentes
de suas pétalas macias,
meus dedos abraçaram, 
ansiosos, mas docemente,
sua frágil composição.

minhas narinas buscaram
a nascente do aroma
que, de longe, eu intuía.
inebriada, desejei passar
dias e dias entregue
às vertigens dos sentidos.

em seus galhos me entrelacei
de forma ousada, quase como
se invadisse, sôfrega,
os limites de uma roseira,
ignorando, incauta,
os avisos dos espinhos.

em seus veios internos mergulhei:
em cada curva, em cada escolha,
me admirei com seus fragmentos,
os pequenos orbes de sentido,
pacotes luminosos de memória,
constelações em transformação.

no âmago de seu tronco
arquitetei minha morada:
entre as estreitas paredes
de seu sistema vascular
expandi minha presença,
tentando, aos poucos,
me fixar em seus caminhos.

o seu corpo em movimento
- pequeno espelho do mundo -
me colocou à deriva.
inapelavelmente corri,
junto à seiva, floema abaixo,
e pelos mais extremos poros

retornei à terra quente
onde, um dia, eu mesma florescerei.
quem sabe?, então, assim,
você venha até mim (novamente),
munido de curiosidade e desejo
que te façam querer chegar

às raízes do meu ser.

[só as flores de plástico não morrem]





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