segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

por que o capitalismo não é uma religião, por Byung-Chul Han

"Tanto a desculpa quanto a gratificação pressupõem a instância do outro. A falta de ligação com o outro é a condição transcendental de possibilidade para a crise de gratificação e a crise de culpa. Essas crises deixam claro que, em contraposição à suposição muito difundida (p. ex., por Walter Benjamin), o capitalismo não é uma religião, pois cada religião opera com culpa e desculpa. O capitalismo só é inculpador. Não dispõe qualquer possibilidade de expiação, que pudesse livrar os culpados de sua culpa. A impossibilidade de desculpa e expiação é responsável também pela depressão do sujeito de desempenho. Junto com a Síndrome de Burnout, a depressão representa um fracasso sem salvação e insanável no poder, isto é, uma insolvência psíquica. Insolvência significa, literalmente, a impossibilidade de liquidar a dívida e a culpa (solvere)." (BYUNG-CHUL, 2017, p. 25)

também diz ele que o eros vence a depressão - mas quem está disposto a fazer esse movimento? sozinha não dá, porque

"O eros é precisamente uma relação com o outro, que se radica para além do desempenho e do poder. Seu verbo modal negativo é não-poder-poder. A negatividade da alteridade, a saber, a atopia do outro, que se subtrai de todo e qualquer poder, é constitutiva para a experiência erótica [...]." (idem, p. 25)

Gilvan olhou desconfiado, certa feita, para essa "negatividade" constitutiva da experiência erótica, me fazendo pensar na diferença entre o pensador europeu (o Byung-Chul) e a pensadora feminista negra (bell hooks, é claro). Porque bell fala sobre o amor na perspectiva da falta: sabê-lo pelo avesso, como ausência.

(Uma das mais bonitas dialéticas, a da presença-ausência...)

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[de 16/02]

não poder poder me parece que é o verbo modal do Eros
segundo a exausta lógica do Byung-Chul Han.
se eu estiver enganada (não estava!), mesmo assim
vale o raciocínio.
não poder poder é uma poda
da constante expansiva
    da sociedade do desempenho.
abaixo o poder, o que exaure e oprime.
viva o poder que afirma a vida (bell hooks)
    - mas esse, não sei se sequer entra
    nos anais europeus da história da filosofia.
não entrando, não sei como infundi-lo
    na lida cotidiana.
me parece que todos avançam movidos por
    sei lá que bizarra força
que está longe de ser meu ideal de movimento:
um deslizar macio, sem atrito,
uma afinação sustentável de metabolismos
    guiada pela ideia simples
de harmonizar uma totalidade.

(quem aposta na crise é porque sabe,
com a dor dos nervos tesos ao limite do suportável,
de sua inevitabilidade.
afrouxados pelo desgaste,
    cedem,
mas seus dolorosos, brilhantes produtos
resplandecem, mudos, nas minhas prateleiras
esperando por meu coração de carne
para infundir-lhes renovada vida.)

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