quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

o lamento da sereia cósmica

[notas para um desenho futuro]

os nós que ela desata perpassam sua pele, 
braços costurados como uma boneca feita de retalhos:
como se os retalhos que a cobrissem fossem ela mesma, mas não são.

sua aparência é a de um arremedo de sereia,
um monstro frankensteiniano, toda perfurada e coberta de camadas de medo.

tiradas essas camadas, restam suas delicadas carnes cósmicas,
e a cauda com as diáfanas nadadeiras:

perfuradas, sangrando pus infeccionado,
retalhadas: mas vivas,
com uma quente vida vermelha pulsando:
sua alma é uma rosa de inúmeras pétalas.

enquanto desata os nós, enquanto rompe as costuras,
abrindo espaço para sua desejada regeneração,
a sereia canta.

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