segunda-feira, 6 de outubro de 2008

More than words;


[Só espero não ter falado excessiva e imprudentemente...]



My sweet prince,


Como dizer da falta que você me faz? Sonhar com as suas palavras já não sustentam o meu viver condenado. Sobrevivo assim, caminhando aleatoriamente, contrária ao sol - contrária a qualquer luz, verídica ou simbólica.


Caminho simplesmente, lembrando-me da doçura da sua voz ao dizer-me as palavras amenas que iluminavam minha existência. Mas aos poucos perco minha vitalidade, pois não tenho como revigorar-me. Suas lembranças estão morrendo... Por que você insiste em se ausentar, e me deixar definhar impiedosamente?


O inverno acabou - maldito verão! Os domingos fenecem em um calor cruel, e minha vontade de permanecer respirando acompanha o ritmo fúnebre do crepúsculo; findando, findando... Até que chega a noite, lembro-me de que amanhã é segunda-feira e meu mais supremo desejo de desaparecer se concretiza. Ignoro os afazeres necessários, e entrego-me à louca escrita.

E por que essa minha sensação é tão extrema e irremediável?


Todos os domingos me eram um presente divino: eu tinha você. Sempre ocupado, respondendo-me monossilabicamente... E, ainda assim, tão generoso. As flores desenhadas na luz fria da tela aqueciam-me, confortavam-me de todas as dores. Esquecia-me do domingo, da segunda-feira, do inverno e do verão. Não havia mais nada, apenas as flores e o seu amor. E eu era toda amor; eu sempre fui assim. Mas agora não sei se posso ter tal certeza.


Você desapareceu... E, com você, foi-se todo o amor que me caracterizava. Todos os dias adquiriram os horrores dos domingos e segundas-feiras; não há mais qualquer amenidade fútil que me faça sentir prazer em estar viva. Só há o grande tédio pairando no ar, sufocando-me juntamente com o insustentável calor. Desde que você esqueceu-se de mim, minha vida é um interminável deserto, no qual eu me arrasto, agonizando; não existe uma sombra, um frescor de água límpida, uma flor sequer. Areia, areia, calor intenso nas terríveis manhãs, frio intenso nas soturnas noites. Tédio, agonia. Assim posso resumir-me.


Um dia você me presenteou com uma linda música, que tinha por refrão: "adore me, adore me..." Adivinhe só qual foi meu desvario: aceitei sua proposta. Adorei você com todos os ardores da minha devoção - essa, que por tanto tempo adormeceu no descaso e na total desesperança. Ela despertou ao som das doces notas cantadas pelo piano, pelo violino e pela angelical voz, sinfonia que fortemente lembrava-me a sua voz - a mais bela de todas as sinfonias. "Adore me, adore me..." E eu entreguei-me cegamente a essa adoração, sem prever esta seria uma despedida. Você pediu que eu te amasse uma vez mais, mais do que nunca, para que eu não deixasse morrer o amor em mim, e pudesse suportar a longa espera por você...


Há algum tempo você era o meu convidado permanente; vivia e dançava despreocupado nas variações da minha mente. Era apenas você, senhor de todos os meus pensamentos, meu verdadeiro príncipe. De uma nobreza e uma bondade inquestionáveis... Mas até o seu fantasma fugiu-me - tão sorrateiro! Compulsoriamente deveria contentar-me com o amor puro, sem destino; não havia explicação para todo o amor que eu possuía. Era um sentimento que pulsava incógnito, e me fazia sofrer terrivelmente por não saber o que representava. Eu amava intensamente, e não havia ninguém a receber tal dádiva; você, legítimo dono, fugira de mim sem deixar vestígios. Sem pilares em que se sustentar, o amor em mim começou a morrer, agonizando lenta e continuamente.


Dizem-me sempre sobre dois tipos de deserto: os quentes e os frios. Posso dizer que, com todo o vazio a que o não-amor me condenou, tornei-me uma fusão desses dois extremos: tenho o desconforto e o tédio de um deserto intensamente quente, e a agonia e a tristeza de um deserto intensamente frio. Tornei-me letárgica e insensível. Impossível readquirir a harmonia de outrora; até porque não sei se, diante de tão inóspito meio, o amor voltará a florescer.


Melancolia e desesperança. Posso inclusive confessar a você uma verdade à qual eu pensei que jamais chegaria: eu não sei mais amar. Desaprendi, e defino com uma racionalidade assustadora as causas e conseqüências desse triste fato. Eu, antes tão passional, tornei-me fundamentalmente racional. Fria, rude, ríspida.


Minha imaginação permitiu-me prever a sua reação ao ler estas linhas, quando você porventura voltasse a se mostrar; vi, então, um lindo sorriso desabrochando em sua face enquanto você escreveria, docemente, que eu estava enganada. Que eu jamais deixaria de ser o próprio amor, que toda a minha desesperança fazia parte de um ciclo - que eu vivo um outono, onde as belezas vibrantes aparentemente morrem; o amor em mim seria uma primavera adormecida, e eu deveria ser paciente, pois veria renascer um inimaginável sentimento, tão colorido e reluzente que me faria acreditar que a dor nunca mais seria possível.


E essas asas que permiti à minha imaginação criar não seriam, talvez, tímidos e amedrontados fios de esperança? Mas não quero agarrar-me a essas fragilidades. Permito-me, no ápice da minha ignorante desistência, desfazer-me desses últimos sinais. Estou irrevogavelmente condenada, e não quero e não vou prosseguir com essa loucura de achar que o amor ainda pode ser real, ou verossímil.


My sweet prince, perdoe-me por não ter amado o suficiente. A vastidão abissal do antigo amor que eu cultivava por você foi dizimada pelas garras cruéis da sua irrealidade - sensação impossível de ser negada. Eu tentei, mas não me dou ao luxo de ter qualquer outra esperança. Prosseguirei caminhando contrária à luz, com as terríveis contradições ocupando o vazio da minha alma, sem esperanças de que a sua nobreza venha me harmonizar novamente.

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