[25 de maio]
Jealousy is poisoning my brain and shattering my heart.
Eu perdi as faculdades mínimas que eu ainda tinha, definitivamente.
Desde há muito tempo que esse platonismo me ronda como o mais elevado grau de romance. Outra herança maldita, advinda dessa ocidentalidade cristã tosca.
Tentaram me convencer de que eu deveria assumir as minhas fantasias como uma forma de sentir prazer comigo mesma. Uma canção, um poema. O poema merece uma breve transcrição - sobre o qual eu já refleti em um texto que se pretendia literário, inclusive.
Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.
A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.
Dorme, dorme, dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.
O ortônimo pessoano, essa criatura perturbadíssima, como a incontestável maioria daqueles por quem eu me interesso.
Havia uma parte "Quero-te para sonho" em mim, até o momento em que eu percebi que a contemporaneidade me atravessou avassaladoramente em termos de corpo e presença.
A tua carne calma arde em meu querer. E eu transito, sim, sem o menor problema, em todas os limites de pessoalidades possíveis. Eu sou capaz de ver beleza em tantas coisas improváveis... e desejar impossíveis, é claro.
Me fere que essa moral, adotada junto com o restante do pacote cristão, oprima tanto os nossos desejos e meios de viver. Ao ponto de me fazer sentir essa brutalidade ilegítima chamada culpa - quando só há beleza e desejo de vida.
[26 de maio]
Chove, mas não à desassossegada maneira pessoana. O que chovem são gotículas mínimas, uma bruma que se desprende de forma mais afoita dessas nuvens cinzentas que nos cobrem. Os dias são frios por dentro e por fora - enregelam pés e ossos. Quase não se vê esse fantasma gelado que cai sobre a cidade - mas, com alguma atenção, pode-se percebê-lo. Escapar dele já é tarefa menos simples.
As lufadas de ar trazem pelas frestas o frio perturbador que faz lá fora. Poderia haver formas de se esquivar - cobertores e chás. Janelas fechadas, quartos tépidos. Aqueceriam os pés, talvez... Mas os ossos. Os ossos doem essa dor implacável da ausência de sol.
(O sol está lá, contudo, atrás da barreira de stratus e cumulonimbus. Mas não há humano meio de perfurá-la.)
Essa angustiante espera, ela não aceita alternativa. Até lá, proteja-se quem puder.
"Numa névoa de intuição, sinto-me, matéria morta, caído na chuva, gemido pelo vento. E o frio do que não sentirei morde o coração atual."
[últimos minutos do 26 de maio]
My kingdom for a kiss upon her shoulder.
A lógica toda dos nossos planejamentos, quando ainda havia factualmente essa primeira pessoa do plural, versava sobre o seu péssimo hábito de dizer que odeia as coisas só para me perturbar. Ou para perturbar a existência - você, que quer que o circo esteja constantemente pegando fogo. Nunca que eu consegui, e não sei se há maneiras de conseguir, te explicar o que eu penso que entendia da forma como você dizia odiar as coisas - eu, que achava que podia te entender.
(Será que eu podia?)
Seguindo essa lógica reptiliana pré-histórica, eu devo dizer:
te odeio, profunda e honestamente.
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