terça-feira, 30 de abril de 2024

nas fibras da pele

esconderam-se as moléculas
da essência marinha amadeirada
que você trouxe consigo
e me transmitiu por meu convite

- o problema não é o abraço, meu amigo...

domingo, 28 de abril de 2024

raízes

a delicadeza da flor me chamou:
atraída pelas cores iridescentes
de suas pétalas macias,
meus dedos abraçaram, 
ansiosos, mas docemente,
sua frágil composição.

minhas narinas buscaram
a nascente do aroma
que, de longe, eu intuía.
inebriada, desejei passar
dias e dias entregue
às vertigens dos sentidos.

em seus galhos me entrelacei
de forma ousada, quase como
se invadisse, sôfrega,
os limites de uma roseira,
ignorando, incauta,
os avisos dos espinhos.

em seus veios internos mergulhei:
em cada curva, em cada escolha,
me admirei com seus fragmentos,
os pequenos orbes de sentido,
pacotes luminosos de memória,
constelações em transformação.

no âmago de seu tronco
arquitetei minha morada:
entre as estreitas paredes
de seu sistema vascular
expandi minha presença,
tentando, aos poucos,
me fixar em seus caminhos.

o seu corpo em movimento
- pequeno espelho do mundo -
me colocou à deriva.
inapelavelmente corri,
junto à seiva, floema abaixo,
e pelos mais extremos poros

retornei à terra quente
onde, um dia, eu mesma florescerei.
quem sabe?, então, assim,
você venha até mim (novamente),
munido de curiosidade e desejo
que te façam querer chegar

às raízes do meu ser.

[só as flores de plástico não morrem]





sexta-feira, 19 de abril de 2024

temperos

o dela tem pimenta
o do meu bem é o curry doce
o meu, as ervas de provença
com a presença marcante do alecrim
e o êxtase do manjericão

quinta-feira, 18 de abril de 2024

o que se canta sobre a sereia?

ouvi-lo cantar é um espinho que

estava parado, quieto,
sem ninguém mexer com ele
talvez até cicatrizado?
calcificado nas bordas, pelo menos
já não sangrava, só estava lá, quietinho

e então algo se mexe
e eu me dou conta
da profundidade em que ele se infiltrou
na minha carne

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esteróides androgênicos

bondoso ≠ pacífico ≠ atlântico

na praia da paciência
em frente à casa da felicidade 
junto à cauda da Jubarte
a sereia da água doce
em seus tons rosa-quartzo
lê o palimpsesto:
"só Deus pode me julgar"
sob
"felicidade não é sobre ter tudo pra você"
(happiness is not about getting all your(s))

diga-me com quem andas

e a natureza relacional do ser humano.
ánthropos-,
não andro-,
nem gino-.

à parte as interseccionalidades,
há as escolhas éticas e morais.
daí que