terça-feira, 23 de maio de 2017

A quarta Rainha

[primeiras horas do 23 de maio]

Tenebroso foi o dia de passar pelos fantasmas e vertigens decorrentes da tomada de uma difícil e necessária decisão
I try to lie to myself saying I regret nothing
(That's what I said to you, too)
Mas o que eu sinto é pesar
Com toques de tristeza, lamento
E uma improvável esperança.
Tive os olhos turvos, doentes, enevoados. As emoções em caótica profusão. Algumas lágrimas arrancadas pela necessidade de deixar a coisa toda se rasgar aqui dentro.

Uma contração horrível no peito. A sensação de ter sido profundamente enganada por mim mesma. Ridícula, ridícula, ridícula.
Ao mesmo tempo que tudo pareceu extremamente real. Quase a ponto de poder te tocar. Quase.

Ainda não quero nem consigo abrir a porta. Vou abrir buracos nas paredes com a minha própria testa, sim. E me ferir na tentativa de escapar dessa auto-prisão em que estou confinada devido a uma série de formações deficientes, falta de educação emocional, e certas heranças malditas.

Todas as Rainhas falaram de uma ausência. A minha não havia de ser diferente - a ausência forma esse quádruplo motor. Se me falta a dedicação e a habilidade daquele a quem amo sem nunca haver conhecido factualmente, sobra-me uma dor pulsante que me faz criar - para suprir desejos gerados por essa identidade mutilada e assolada por uma fina e pungente melancolia.

E nesse ínterim, me aparece você, tão cheio de histórias e possibilidades. Como haveria eu de passar ilesa por você? Essa nunca, nunca foi uma possibilidade.

Desculpe-me, portanto. Perdi o controle desde sempre, e ainda não consegui decidir se me arrependo ou não. Os farrapos estão aqui dentro totalmente desagregados. E criar é uma forma de não permitir que esse horror banhado em angústia me consuma nesse momento.

(Olhar para o abismo faz com que eu me sinta profundamente atraída por ele, a ponto de querer me jogar - e acabar me jogando)

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