Do Dicionário de símbolos (p. 566) - Lua Negra:
"A Lua Negra, que é associada a Lilit, a primeira mulher de Adão, cujo sexo se abria no cérebro, está ligada às noções do intangível, do inacessível, da presença desmedida da ausência (e o inverso), da hiperlucidez dolorosa, de tão intensa. Mais que um centro de repulsão oculto, a Lua Negra encarna a solidão vertiginosa, o Vazio absoluto, que não é senão Cheio por Densidade.
Essa força imaterial é também a
mancha cega aureolada de chamas negras, que aniquila o lugar onde gravita. Pode, entretanto, transfigurar a
casa astrológica onde se encontra no tema natal, graças ao dom absoluto de si mesma, ou a sublimação. Outras vezes, quando recebe influxos maus, é a desintegração que a espreita.
Hadès associa a Lua Negra ao elemento pesado, tenebroso de Tamas: ela simbolizaria então a energia a vencer, a obscuridade a dissipar, o carma a purgar. Está sempre ligada a fenômenos extremos, oscilando entre a recusa e a fascinação. Se não atinge o Absoluto que ele procura apaixonadamente, o ser marcado pela Lua Negra prefere renunciar ao mundo, mesmo que ao preço de sua própria destruição ou do aniquilamento de outra pessoa. Mas se ele sabe transmutar o veneno em remédio, a Lua Negra permite o acesso à porta estreita que abre para intensa libertação, intensa luz... Jean Carteret, teórico das luminares negras, sublinha a relação entre a Lua Negra e o Unicórnio, que rasga ou fecunda divinamente, se o ser estiver purificado de suas paixões. A Lua Negra designa uma via perigosa, mas que pode conduzir de maneira abrupta ao centro luminoso do Ser e à Unidade.
A Lua Negra é o aspecto nefasto da Lua: símbolo do aniquilamento, das paixões tenebrosas e maléficas, das energias hostis a vencer, do Carma, do vazio absoluto, do buraco negro com seu poder assustador de atrair e absorver."
02/06/2021
[Vênus em Virgem]
If you wanna fuck me hard,
Please, please,
Fill in my soul with the
Electricity of your body
But please,
Please,
Gimme a slight glimpse
of tender love.
03/06/2021
"There are two Ripenings ― one ― of sight ―
Whose forces Spheric wind
Until the Velvet product
Drop spicy to the ground ―
A homelier maturing ―
A process in the Bur ―
That teeth of Frosts alone disclose
In far October Air."
(Emily Dickinson)
06/06/2021
[Lilith em Capricórnio]
O estranho fetiche:
tesão pelo mal,
a virilidade violenta,
encarnações marciais
- essas mesmas que estão
destruindo o planeta Terra.
12/06/2021
[Mercúrio em Libra]
Minha voz começa a amargar
No fundo da garganta
À medida que começa a encorpar
A engrossar
Tonitruante angústia
De um ressentimento
Em vias de transbordar.
.
.
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(Quando há de transbordar?)
Capítulo XLII - A melhor vingança
ResponderExcluir"Gosto de homens. Os homens são a imaturidade das mulheres, difícil não ficar refém deles. A casca de um homem é rija, a sua força, centrífuga, o seu movimento, a abrir. Ao longo dos séculos ele foi deixando de caçar e talvez agora se abandone à ambição satisfeita que lhe é natural, porque a insatisfação é toda centrípeta, feminina. O homem tem metas, faz golos de cabeça, pirâmides, trigonometria, age com a ousadia dos proactivos, a desfaçatez dos simples. Eis como, certo dia, lá no Levante, um homem resolveu escrever que a mulher foi tirada da costela de Adão. Já pensaram que, de facto, alguém escreveu isso pela primeira vez?
"O homem antes do génesis, igual a peixe-ave-besta-réptil, antes que deus o faça presidir, e ainda tire dele uma mulher: não sou essa mulher.
[...]
"Nas últimas páginas de _Ulisses_, Molly Bloom está deitada ao lado de Leopold Bloom, o marido que não lhe toca há dez anos. Dois adúlteros numa cama de casal, como tantos, sendo que os homens tendem a dormir melhor. Leopold dorme, Molly fala sozinha, da infância ao amante em curso. É o monólogo mais célebre da história da literatura. E o ritmo, até a ausência de pontos e vírgulas, vem das cartas de Nora, a mulher de Joyce. Nora foi uma inspiração desde o primeiro passeio de ambos, a 16 de Junho de 1904, em que ela o masturbou. Atormentado pelo desejo, incluindo o desejo homossexual, Joyce desembocou nas mãos dela, e Nora não ser burguesa, intelectual, sua igual, era uma vantagem porque ele não queria o peso de um casamento que o roubasse aos livros. Ela era a mulher de que ele precisava, aquela que libertaria os demónios e, portanto, foi a mulher de que os livros precisaram. Que ele tarde ou nunca tenha sido o homem de que ela precisou é relevante para a biografia, mas não para os livros. Não haveria Molly Bloom sem Nora, mas só há o monólogo de Molly Bloom com Joyce, e tudo o que ele fez dos átomos e dos astros, dando-lhe a última palavra."
(COELHO, Alexandra Lucas. _O meu amante de domingo_. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.)