Na noite passada, pela primeira vez, sonhei com o claustro pandêmico.
Nos sonhos anteriores, acordei atarantada com a livre mobilidade experimentada pelos espaços do sonho, confundidos com o real. No processo de despertar, a confusão pela transgressão não intencional.
Mas ontem estive no alto de um prédio em uma capital distante, observando a vida dos vizinhos também enclausurados.
O desejo de olhar o mundo do alto, o desejo de ver pessoas e suas experiências factuais, não apenas imaginadas pela minha mente exaurida, aprisionada entre as paredes brancas e frias do apartamento.
(Ou reportadas pelas performances digitais, diante das quais tenho sentido um cansaço imenso, imensurável, com simultânea e sofrível dependência por me ver sem opções e com dificuldades de amplificar o claustro recolhendo-me só à minha própria mente.)
Quantos traumas podem se somar a um testemunho da existência?
Se me fosse dado saber, talvez eu já tivesse enlouquecido de antemão.
Terei que enlouquecer um dia por vez, feliz ou infelizmente,
Até que eu desista de viver essa sucessão de tragédias,
Ou que a vida se me afigure menos trágica do que ela tem se mostrado até então.
(As esperanças são exíguas, contudo – ainda que não totalmente inexistentes, admito.)
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