Daí eu fui conversar com duas pessoas que poderiam me oferecer bons argumentos a esse respeito, uma vez que eu nunca havia realmente parado pra pensar sobre essa questão. A Sammy, minha amiga querida, minha roommate, que se declara muito corajosamente "feminista radical" nas redes sociais, de que ela participa ativamente (@assombrasammy o Instagram); e meu querido pai, Antonio Peixoto, que também participa ativamente das redes sociais (@antoniohmpeixoto o Instagram) e é professor de língua portuguesa há um bocado de décadas.
Isso é o que eles me disseram, em linhas gerais, e eu quero deixar registrado pra quem também tiver interesse no tema e quiser prosseguir com a discussão.
SAMMY:
Pessoas disléxicas não conseguem entender o que você quer dizer com a substituição das vogais - fato concreto sobre a dificultação linguística pra quem já apresenta questões com a modalidade escrita (o léxico);
Usar os gêneros majoritariamente no feminino para marcar a resistência - porque o feminino é a oposição à regra da generalização masculina e do feminino como segundo sexo;
É uma idiotice porque se pretende a neutralização de algo que não é objetivamente neutro.
PAPI:
- Argumentos linguísticos básicos:
Não há respaldo para essas alterações nem na gramática, nem na linguística, nem na sociolinguística (a linguística chegou ao Brasil nos anos 80; a sociolinguística, pouco depois - e essas discussões sobre identidade de gênero são muitíssimo recentes - datam, talvez, da teoria Queer da Judith Butler);
A gramática normativa é machista: exemplo das regras de concordância nominal:
"1. Revista e jornal VELHOS ou VELHO ( referência a " jornal " , apenas ) ;Exemplos dos vocativos usados por líderes políticos ("Trabalhadores do Brasil" - Getúlio Vargas; "Brasileiras e brasileiros" - Sarney; "Minha gente" - Fernando Collor);
2. Jornal e revista VELHOS ou VELHA ( alusão a " revista " , apenas ) ;
3. Homens , mulheres , meninas e crianças EDUCADOS ou , concordando com o substantivo mais próximo , EDUCADAS . Há outras regras interessantes , mas acredito serem essas suficientes para a discussão em tela !" (PEIXOTO, Antonio, 2020)
Alteração na modalidade escrita que não é praticável na modalidade oral é um contrassenso, porque o mais real da linguagem, que é a oralidade, não comporta esse tipo de alteração (o que queremos dizer com "neutralização de algo que não é objetivamente [historicamente, socialmente, politicamente] neutro").
-- A modalidade escrita é uma fixação artificial em normas do fenômeno linguístico, que é sócio-historicamente inscrito.
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Pode ser que essas ideias ainda se desdobrem em outras; é nesse pé que a pesquisa anda. Dúvidas, sugestões, pitacos e etc são bem-vindos.
Beijos.
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