Passam os anos e há coisas que mudam, outras não. Olhar para trás transforma-se em um exercício cada vez mais doloroso, porque cada dia vivido cria uma nova memória - e em cada memória, uma potência de trauma da/pela perda.
O medo de viver deixa os dias mais seguros e mais cinzentos. Ensimesmar-se é confortável, a despeito da solidão; lançar-se ao mundo é arriscar criar laços que podem ou não se desmanchar.
Mas nós queremos criar laços novos, quando os antigos já representam angústias e dores suficientes?
Qual é o bright side de estar com o outro?
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Ensimesmar-se é necessariamente olhar para trás, então há o prazer do conforto misturado à dor da solidão.
Eu tenho medo de ver como o tempo passa. Mas recusar-me a ver e assumir o aspecto mais cru da realidade - essa é a trava que vai me impedir de encontrar sossego.
Com o Dostoiévski eu comecei a aprender a ver e assumir o aspecto mais cru da realidade - e é selvagem e belo, porque é humano.
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