Hoje, dia 08 de março, é definitivamente um dia como outro qualquer.
Ele não tem nenhuma conotação mística, nem é dia de fingir que as mulheres não são achincalhadas pelo nosso tempo histórico e dizer a elas o quanto elas são fortes e especiais.
Nós não somos fortes.
Nós não somos especiais.
Nós somos tão somente seres humanos
Que, devido a uma série de fatores históricos, somos achincalhadas TODOS OS DIAS, das formas mais diretas às mais sutis, todas elas de uma perversidade imensa.
Mas hoje é um dia que, midiaticamente, ganhou essa conotação política/de celebração, dependendo da consciência de quem faz uso dessa inscrição social.
Aí me bateu aqui na minha sensibilidade a vontade de desnudar mais um pouco o meu coração, versando sobre um tema que me dói e comove de formas que eu jamais serei capaz de colocar totalmente em palavras.
Primeiro, quero resgatar uma postagem anterior:
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segunda-feira, 19 de agosto de 2019
Plato revisited
Conta o mito da caverna de Platão que o sujeito que sai da caverna e denuncia a falsidade das sombras enquanto realidade absoluta - ele, esse sujeito, escolhe voltar. Em vez de desfrutar das delícias de viver em liberdade, ele escolhe voltar para libertar seus pares. E como é recebido em seu regresso?
Existem os que topam o desafio de quebrar suas próprias correntes em busca da liberdade - mas esses são a minoria. A maioria o acusa de TUDO: charlatão, místico, imaturo, irresponsável, feminista, comunista... mas, principalmente: louco, lunático, insano.
Quanto tempo esse sujeito vai dedicar à conquista daqueles que condenam o motor mesmo de sua possibilidade de ver além: a loucura?
Haverá tempo para desfrutar da dolorosa delícia de viver a partir de meios próprios - ou seja, a liberdade?
A grande chave da questão: depois de ver o mundo fora da caverna, não há mais como acreditar que as sombras são o real.
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Se vocês quiserem buscar o texto platônico, é só ir no livro VII d'A República. Lá vocês encontram o Sócrates contando a respeito da alegoria da caverna.
Essa historieta exemplar é um bocado interessante, mas não deve ser aplicada sem uma apropriada reflexão sobre sua inserção histórica.
O caso é que o "ver além" representa um conflito imenso para quem se coloca à disposição de praticá-lo. Nesse "dia internacional das mulheres", eu desejo que possamos ver além, mesmo sabendo que isso não é tão doce quanto as rosas e os chocolates que no dia de hoje nos são oferecidos. Eu desejo que o conhecimento não seja usado por ninguém, incluindo nós mesmas, como forma de violentar e manipular o outro. Já utilizaram o mito da caverna para me domesticar, para me apontar uma saída falsa, uma ruptura "menos dolorosa" dessas correntes que nos aprisionam.
LIBERTAR-SE DA ESCRAVIDÃO MENTAL NÃO É UM PROCESSO INDOLOR.
Mas eu estarei aqui, com o meu coração e os meus braços abertos, para acolher todos aqueles que escolherem se libertar - porque me acolheram, e eu sei como que isso é o que faz toda a diferença. A revolução será dos afetos, ou não será, volto a dizer.
Tenham coragem. Eu estou aqui.
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