Hoje chove; é um dia triste. Pesado, com um pesar infinito. Estamos em plena primavera e chove vigorosamente; isso derrota qualquer vigor humano. Acho que o Sol e os espíritos da Primavera estão adormecidos – mas isso não parece deveras estranho? O que será que as flores, ao se esconderem, querem nos revelar? Queria suas cores para colorir meu interior cinzento.
Há um vento frio, cortante, que entra pela fresta da porta e enregela meus pés. Logo eu penso no Sol que há em mim; penso em como ele deveria estar aceso, iluminando-me e aquecendo-me por dentro... Mas acho que um eclipse me acomete. Saturno está cobrindo minha fonte de energia – sinto, então, ainda mais frio. O Deus do tempo rege meus ciclos, e determina o inverno que há de acontecer em mim.
A escola literária romântica me é tão concreta que a Natureza, de fato, exprime meu estado emocional-sentimental. Se eu precisasse, nesse momento, descrever a paisagem que se abre à minha janela, retrataria um dia cinza, com uma névoa pairando no ar, daquelas que congelam todos os ânimos... Uma chuva persistente, ora forte, ora fraca, que faz com que as minhas energias oscilem de acordo com o seu movimento. Prédios apagados – artificiais. Fosse essa uma paisagem completamente natural, creio que o meu inverno seria mais brando... “Fugere Urbem.” Hei de fugir, quando estiver pronta para florescer.
Mas minha alma... Ela está incólume a essas variações literárias. Ela serve aos Deuses, e a eles obedece – por isso o seu Sol, apesar de eclipsado, permanece em um brilho latente, como uma esperança da nova primavera que virá. Deixo meus outros corpos flutuarem nessas variações do mundo manifestado, mas não ferirei minha alma com esses efeitos vãos. Honrarei os Deuses, por mais que Plutão e Saturno estejam tentando ofuscar a chama solar que me aquece. Não serão, pois, justos ao lançarem-me esse inverno compulsório?
{Logo saberei sobre os resultados dessa intervenção dos Deuses.}
~[continua.]
Eeeee simbolozinho do capeta soroporiano.
ResponderExcluirTe amo ;*