segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Canção ancestral;


Acabou-se o calvário da canção,
Agora ela paira no ar, adormecida;
Calaram-se todos os versos de paixão,
Deram-lhe a cruel sentença de ser esquecida!

E tudo ainda lhe dói... Arde, a pulsar,
A dor de nada ter dito, de não ser querida...
Ou ainda, para tudo contrariar,
De tudo ter dito e jamais ter sido lida!

A canção... Frágil mártir dos sonhos,
Concretizada sem louvor, sem acolhida...
Deram-lhe os motes mais plenos, mais risonhos,
E o que ela mais almejou? A despedida...

Acabou-se o seu calvário. O livro foi fechado.
A alma, porém, 'inda sonha, enternecida...
Sonha com o ressurgir, glorioso e calado,
De sua doce voz, a triste canção envelhecida!

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