domingo, 29 de dezembro de 2024

apelo

me escreva, minha amiga
me diga
quantas linhas tem
a mão
a carta
de circum-navegação
o périplo intenso
da própria solidão

vertigem

meditando bem
nos meus jeitos
achados e perdidos
analisando
vocabulários e hábitos
traço, longínqua,
a história
de quem me criou

(e de quem criou
quem me criou
etc
etc)

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Enivrez-vous

"De vinho, de poesia ou de virtude, como quiserem."

"Viver numa casa de vidro é uma virtude revolucionária por excelência. Também isso é embriaguez, um exibicionismo moral, que nos é extremamente necessário. A discrição no que diz respeito à própria existência, antes uma virtude aristocrática, transforma-se cada vez mais num oportunismo de pequeno-burgueses arrivistas."

A piedade e suas provocações.

quem me dera

poesia fosse música
o suficiente
para mimetizar
todas as camadas
de angústia
que eu sinto
quando você olha
pra ela


(mas que se dane tudo
também)

("eu não estou chateada",
disse eu, chateada)



terça-feira, 24 de dezembro de 2024

mulher, neblina

dona do seu destino, sim,
mas questionada quando
os desejos divergem
- em especial quando
há outra () na jogada

senhora das suas vontades, sim,
dessas para as quais não há explicação,
ah! o amor! ah! o mal dele, de que
alguns repelem a cura

mas, em especial, dona das mãos
tão mais jeitosas
para lavar as suas roupas...

conveniências.



o último gole

num café gelado

esquecido, o que resta
de um ritual saturnino
mágico
de todo dia
ou quase

a voragem das horas

os dedos do tempo cravados
nas minhas carnes tépidas
como os dedos sombrios de Hades
no marmóreo corpo de Perséfone

o que resta não sobra:
eu mesma faço questão
de sorver até
a última
gota

ainda que




quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

harmonia

seu nome traz a marca
do amor que não se mede
não se pede
e não se repete.

não posso controlar
a eletricidade que se desprende
da minha superfície
quando.

nós queríamos, meu amigo.
não um sonho de valsa,
que foge ao seu escopo, creio,
mas um je ne sais quoi

em que nos encontramos
e todas as hierarquias caem,
todo o biopsicopoder se dilui

sei que isso não há, não há

mas o instante vem, certo e fugaz.
(e é quase uma alucinação,
me causa até vertigem...)

sábado, 14 de dezembro de 2024

perguntas infinitas

Loura chiquérrima, a caminho dos 50.
Segura um cigarro desconhecido, olha a vitrine
e ri.
De si mesma?
De todas as escolhas que se colocam
e nós desejamos, do fundo dos nossos corações,
que sejam as mais acertadas
- que não firam nossa dignidade,
que nos façam felizes?
Como prever as tragédias,
os embustes,
os (auto)enganos,
se o sentido mesmo da vida é trágico?
É claro que há as manhãs,
graças aos deuses que as há.
Mas e as noites insones
de revisão de roteiro?
E as noites de cigarro e vinhos caros
que nos levam a contemplar 
nossas vitrines
com (o desejo de) um cigarro
e uma risada (irônica?)
- ou um esgar? 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

agora mesmo

- derrite
+ derrida

i do

i do know
how to be alone
without crawling
out of my skin,

indeed.

porém, eu também sei
(e, deuses!, só eu sei)
como muda o compasso
do meu coração
when he's around.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

aldravia

lágrima
doce
pensamento
fundo
sem
dono 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

maybe

someday
somewhere
someone
is gonna feel
like home