sexta-feira, 2 de agosto de 2024

na ilha

de hoje resta
na parede da memória
a visão abstrata da nossa gênese política
— quem luta contra uma opressão
infinitamente maior que si
se sustenta, é claro, em seus camaradas,
mas há um preço
e, o que pude perceber,
o delírio persecutório faz parte dele —
e a visão concreta da nossa ação política
— o que é necessário à construção
de uma postura contra o fim:
organização, método,
disciplina, coragem
e o amor, é claro:
o mais radical dos afetos.

[29.07]

cortam a carne:
o vento gelado
a aflição do pensamento
o ultraje emocional
a lembrança do desprezo 

a consciência do vilipêndio
a que estamos sujeitas
há milênios, as mulheres
há séculos, os povos de Abya Yala
há décadas, os militantes radicais  

contra o
patriarcado
colonialista
extrativista
racista

[30.07]

pra não dizer que não falei das flores:
rosas são vermelhas
violetas são azuis.
quando Vênus se encontra com Júpiter
e eles passeiam de mãos dadas
pelo vale da sombra da morte
não há mal nenhum a se temer:
o que corre no fundo do poço
(do desejo?)
também é belo, porque é humano
e nada do que é humano me deve ser estranho.

[31.07]

exagium:
o ato de pensar
experimentar
traduzido em gesto crítico
para formular e dar contornos
aos nossos demônios 

(melhor não expulsá-los
porque talvez sejam eles
e os anjos
o mesmo tipo de criatura,
as duas faces da mesma moeda:
quem será a forma
e quem, o conteúdo?)

[01.08]

o hábito do autoengano

é o que fazemos
para continuar habitando
(ficar quietinhas lá,
seguras,
sem correr riscos)
o poço do desejo,
em que tudo é gozo:
pulsão introjetada,
com medo de se banhar
na luz que há

[02.08]

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