Resistir, até o limiar das nossas forças individuais.
(E é com certo desespero que eu constato isso
Ao ver as pessoas agitadas correndo de lá pra cá
Numa manhã chuvosa, não tão fria, e não tão cedo.)
Não é possível se entregar ao ócio infértil,
Por mais que esse seja nosso único e exclusivo desejo.
(Até porque os outros desejos precisaram ser
Mortos
Esquartejados
Dilacerados
E distribuídos pelos quatro cantos do mundo
Como no mito de Osíris
- Quem dera eu fosse tão mística e digna quanto esse mito.)
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios no ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
E o meu coração está espalhado por aí
E pode ser que um dia eu consiga recuperar todos os seus pedaços
Ou pode ser que eu morra antes disso
E futuros amantes se amem com todo o amor que eu deixei pra você
- E vai ter muito, muito amor em cada estilhaço,
Suficiente pra vidas e mais vidas de encontros e desencontros gastarem toda essa confluência sentimental que acabou por acontecer
E que vai ficar assim, em latência,
Só os deuses sabem até quando.
Quando é que eu poderei voltar a florescer?
(Me amo o suficiente pra querer todo esse amor pra mim, pra essa vida,
E pra alguém que o receba religiosamente
[E eu sei que não vai ser você.])
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