E hoje tinha tudo para ser um dia tristíssimo. Cinzento, de fato - como ontem eu escrevi em caneta hidrocor cinza no meu caderno de mágoas. Hoje era para chover lágrimas e sangue cinzentos - mas apenas choveu pela manhã, enquanto eu dormia. Chuva limpa e clara, que eu nem vi. Apenas ouvi, apenas senti.
Hoje eu dormi pela manhã, não fui à aula - não me deixaram ir. Fui condenada à prisão, por hoje. É que ontem cometi um crime, e tudo bem, deixa que eles me deem a punição que bem entendem; eu sei que não entendo nada, mesmo. Hoje o dia tinha tudo para ser tristíssimo e monótono.
Mas dormi até tarde, comi meu chocolate favorito e o correio me trouxe livros da Clarice. Então entendi ainda menos a vida. Era para eu ser a mais sofrida e condenada das criaturas, eu que fui uma criminosa. Mas deixaram-me em paz, e eu pude ler e comer chocolate. Isso é tão raro! E isso é bizarro, estranho demais.
E parece-me que tudo se ilumina, então. O prazer é só para me enganar. O sofrimento real está para vir daqui a pouco, e eu vou me arrepender amargamente por ter pensado que não passaria pela via-crucis para pagar pelo meu crime não intencional. Que assim seja, então. Acho que não tenho que me preocupar com o entendimento de nada. Disseram-me que não dá para entender tudo, e eu estou com real preguiça de entender o mínimo que seja. Nada adianta, mesmo.
E deixe-me estar nessa letargia da consciência. O dia era para ser triste, está bom mas é completamente imprevisível - bem como toda a vida. A minha consciência não vai conseguir exercer papel algum neste momento.
[...]
Descobri, enfim, o início do sofrimento. Que o destino saiba, eu não estou achando a menor graça nessa desgraça a que ele me está submetendo.
Hoje eu dormi pela manhã, não fui à aula - não me deixaram ir. Fui condenada à prisão, por hoje. É que ontem cometi um crime, e tudo bem, deixa que eles me deem a punição que bem entendem; eu sei que não entendo nada, mesmo. Hoje o dia tinha tudo para ser tristíssimo e monótono.
Mas dormi até tarde, comi meu chocolate favorito e o correio me trouxe livros da Clarice. Então entendi ainda menos a vida. Era para eu ser a mais sofrida e condenada das criaturas, eu que fui uma criminosa. Mas deixaram-me em paz, e eu pude ler e comer chocolate. Isso é tão raro! E isso é bizarro, estranho demais.
E parece-me que tudo se ilumina, então. O prazer é só para me enganar. O sofrimento real está para vir daqui a pouco, e eu vou me arrepender amargamente por ter pensado que não passaria pela via-crucis para pagar pelo meu crime não intencional. Que assim seja, então. Acho que não tenho que me preocupar com o entendimento de nada. Disseram-me que não dá para entender tudo, e eu estou com real preguiça de entender o mínimo que seja. Nada adianta, mesmo.
E deixe-me estar nessa letargia da consciência. O dia era para ser triste, está bom mas é completamente imprevisível - bem como toda a vida. A minha consciência não vai conseguir exercer papel algum neste momento.
[...]
Descobri, enfim, o início do sofrimento. Que o destino saiba, eu não estou achando a menor graça nessa desgraça a que ele me está submetendo.
Ah.
ResponderExcluirAs últimas linhas rimaram *-*'.
Enfim,
poéticamente sincero.
Verdadeiramente correto, aliás. A realidade às vezes tem tudo pra ser a pior possível, mas algumas coisas salvam.
A vida salva-se.
E bem, estou aqui para salvar-te também, sempre que possível ou necessário (L)³