"Ai meu coração que não entende
O compasso do meu pensamento...
O pensamento se protege
E o coração se entrega inteiro sem razão!
Se o pensamento foge dela,
O coração a busca, aflito...
E o corpo todo sai tremendo,
Massacrado e ferido do conflito..."
Ando buscando o apoio de outros autores para me definir. Não sei que absurdo e cruel monstro irreal me roubou a capacidade de fazer meus sentimentos vibrarem em palavras. Isso é de tal forma maléfico que me sinto sufocada - é como se me tivessem prendido os pulmões, e o ar apenas entra, entra, e não circula. Não consigo externar as palavras, apenas absorvê-las. Isso é preocupante.
Porém, uma força da necessidade - sempre baseada em dúvidas ou sentires de certa melancolia - me obriga a me manifestar. Até porque sei quem espera por isso, e desta maneira talvez eu consiga ser mais clara acerca de meus medos e anseios. Talvez. Na verdade, acho que eu devia desistir desse específico intento...
[...]
Os deuses me perdoam, mas eu ainda não aprendi a me perdoar.
A conflitante relação sentimento - razão me espreita,
Novamente, cruelmente, silenciosamente,
E eu a percebo. Tão clara e tão real
Quanto eu não pensei que voltaria a perceber.
Defino-a assim com ares de tragédia, de maldição,
Porque sempre, sempre caio em sua contraditória rede
E, inexplicavelmente, consigo me auto-flagelar
A todo simples momento.
Não há como não encontrar em mim
Um erro, um defeito, uma falta, uma negligência
- Para comigo e para com os deuses -
Quando me proponho a lidar diretamente com sentimento e razão.
Daí veio a minha temporária desistência do sentir,
Mas eu sou fraca demais para tentar me suprir dessa nulidade
Que para mim não possui outro nome, senão não-emoção [que também é não-razão].
Tudo isso, todas essas palavras loucas e desconexas
Para poder dizer aquilo que me aborrece
E me cansa profundamente: culpa.
Sensação que não deveria existir, decerto;
Mas, o que se há de fazer?
Eu não sei sentir, eu não aprendi a sentir
Com toda a serenidade possível.
E talvez soe hipócrita
Todo esse meu implícito discurso pseudo-moralista
[Encontrado apenas no requinte de uma certa reflexão].
Talvez meus atos destoem daquilo que tento dizer.
Que seja. Eu não posso querer me preocupar
Com ainda mais coisas, coisas que não dizem respeito
Ao problema fundamental.
Preocupo-me com a dor, velha amiga das horas mortas.
Ela é o fruto dessa contradição que me aperta o peito.
Preocupo-me com ela, sob quais aspectos
Ela me há de aparecer quando eu novamente me propuser
À corajosa empreitada de encarar sentimentos e razão.
Mais uma decepção? Mais uma desilusão?
Mais alguém para me fazer padecer
Porque sou deveras inábil ao tentar fazer-me entender?
A dor da falta de compreensão,
A dor da falta de sintonia,
A dor da minha falta em relação ao que eu acredito.
Fraqueza, fraqueza, fraqueza.
A minha fraqueza há de, sempre, trazer-me a dor.
E o medo. O medo de sucumbir,
O medo de me permitir errar além da conta,
Além do que é basicamente permitido.
Medo de estar me arriscando ainda mais
Em algo que já é fundamentalmente arriscado.
Medo de não ser suficiente e minimamente forte
Para arcar com as consequências dos meus atos.
Medo de sentir, na verdade - porque eu não sei sentir;
Medo infantil, em inocência de quem se lança a algo que ignora.
Medo de não ser quem sou, de esquecer quem eu sou
[Mas quem eu sou, de fato?].
Medo de permitir que sentimentos traiçoeiros me roubem os últimos traços de bom senso que eu ainda possuo.
Medo do que é externo. Medo do que, internamente, eu não sei reconhecer.
Mas o que esperar de tudo isso
- Que é vida, afinal -
Além de que ela ocorra da melhor maneira possível?
O que esperar da vida,
Além de que ela, se aparentemente cruel, me faça aprender
E, se aparentemente alegre, me faça ser feliz?
Não que eu precise chegar à beira do abismo
Para provar a mim mesma que é possível morrer...
Não que não seja necessária a cautela
- Essa da qual eu uso largamente, ou ao menos tento.
Mas...
É esse o problema fundamental.
Encontrar na contraditória relação
O equilíbrio básico
Que me faça viver, aprender,
E, acima de tudo,
Ser feliz e fazer a felicidade dos que me rodeiam.
Viver a vida com leveza... Uma árdua tarefa
À minha complicada maneira de encarar a vida.
Espero aprender, contudo, a agir e sentir,
E finalmente ter a paz de espírito que tanto prezo
Para todas as mínimas situações da existência.
[Uma última constatação: vê como sou absurda. Vê como sou absurda, simplesmente. Acho que não consigo especificar mais o meu aviso.]
Na verdade, na verdade..
Tenho medo de que não gostem de mim pelo que eu verdadeiramente sou.
Tenho medo de que a necessidade da sensação se sobreponha à naturalidade do sentir.
Tenho medo de ser vítima dos vícios, da falta de profundidade dos sentimentos.
Entende? É disso que eu tenho medo.
Isso é o que me preocupa, e complica a minha vida.
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Eu li, reli. hm
ResponderExcluirNão sei o porquê, mas eu diria que você precisa viver mais eirmã.
Não só você, eu também. Estamos nesse empasse de pé atrás pra vida, mas o fato é que não temos nenhum pé a frente (entende?).
Bom, não sei como expressar minhas idéias no momento, o sono já está atrapalhando minhas idéias, espero que compreenda a mensagem hehe D:
Te amo <3
Disse o filosofo Jorge Angel Livraga sobre a realização q esta passa pelo sentimento, e que não devemos reprimi-los, nem os mais baixos, mas sim fazê-los motores de atitudes nobres.
ResponderExcluirEspero que entenda e possa viver mais leve com essa ideia.
Sinceramente, concordo. Por mais que tentemos simplificar ou descobrir todos os aspectos de tudo, acho que nunca conseguimos fazer isso plenamente. As coisas simples são as que menos possuem essa graça, inclusive.
ResponderExcluirClaro que o 'meio-termo' é o que procuramos, mas não vivemos assim.
Logo, não se martirize tanto com isso, subrinha. É inato da vida (ou de nós). Apenas siga o fluxo do momento. Pelo menos por enquanto.